quarta-feira, 13 de agosto de 2025

ELOGIO ABSTRATO AO CUBISMO



O mundo não é redondo

o mundo não é plano

o mundo é um estilhaço

que se recompõe no olhar.


Picasso sabia:

o touro não é o touro

é a soma de todas as suas linhas possíveis

o rosto não é o rosto

é a memória das faces que o vento desfez.

Braque caminhava no ateliê

como quem caminha sobre o próprio quadro

pisando pedaços de madeira, jornal, areia

porque a vida também é colagem.

O cubismo —

não é só pintura:

é o instante em que a garrafa de vinho

se parte em cinco garrafas

e todas continuam embriagando.

Mondrian

em sua disciplina de retângulos e cores

sabia que o caos pode ser contido num quadrado

e que o amarelo é um sol domesticado

para caber na parede.

Paul Klee

ouvia o som que a linha faz

quando encontra o silêncio.

Seus barcos navegavam no papel

como se o mar fosse uma ideia.

E eu, diante deles,

sinto que o mundo se quebra de novo

e que cada pedaço revela uma parte oculta:

o lado de dentro da maçã

o outro perfil da tarde

o ângulo secreto do teu rosto

que só vejo quando fecho os olhos.

O cubismo é isso:

a arte de não acreditar no primeiro olhar.



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