Ele a conheceu no bar sujo da esquina da avenida, depois das onze da noite. Música ruim, cheiro de fritura e cerveja quente. Ela entrou como se fosse dona do lugar: botas de couro, vestido vermelho, cabelos soltos. Uma travesti de voz rouca e riso fácil.
Chamavam-na de Loba.
Ela pediu uísque, encostou-se no balcão e falou com ele sem pedir licença.
— Vai pagar minha bebida, bonito?
Ele riu sem graça, mas pagou. A mão dela roçou na dele — unhas pintadas, pele quente. Conversaram sobre nada: futebol, o calor insuportável, a vida que não ia a lugar nenhum. No meio disso, ela encostou os lábios no ouvido dele e disse:
— Você tem cara de quem se apaixona fácil.
Ele não respondeu. Tinha medo de admitir.
Nos dias seguintes, encontrou-se com ela mais duas, três vezes. Sempre à noite, sempre no bar, sempre terminando no quarto pequeno dela, janela sem cortina, lençóis baratos. Ela fumava nua, deitada de lado, olhando para ele como quem olha uma criança perdida. Ele começou a pensar nela durante o trabalho, durante o trânsito, durante o sono. Achava que era amor. Achava que ia salvá-la ou que ela o salvaria. Uma noite, chegou ao bar e ela não estava. Esperou. Bebeu demais. Voltou na noite seguinte, e na outra. Nada. Perguntou ao garçom.
— Sumiu — respondeu o homem, limpando copos. — A Loba sempre some.
Ele procurou em pensões, ruas, esquinas. Nada. Apenas o eco da risada dela, a lembrança da boca encostada em seu ouvido. Meses depois, sonhou que a via andando pela avenida, os cabelos soltos no vento, o vestido vermelho. Chamou. Ela não se virou. E no sonho, como na vida, desapareceu na escuridão.
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