Dizem que desenho,
mas minha mão nunca obedece à linha.
Tudo escorre,
tudo se dissolve,
como se a própria matéria tivesse medo
de permanecer.
Judeus como eu não pintam,
repito em silêncio,
como se fosse um mandamento obscuro.
Não sabemos fixar as coisas:
o copo, a cadeira, o rosto amado.
Sempre os vemos em fuga,
atravessados por correntes invisíveis,
como prisioneiros tentando escapar
da moldura.
Meu estilo poético é isso:
um traço que não termina,
um contorno que se apaga
antes de se tornar forma.
Se desenho, é para provar
que nada pode ser detido.
Se escrevo, é para confessar
que até a palavra me abandona
na hora exata
em que penso segurá-la.
E tudo,
tudo que toco,
é apenas mais uma prova
da minha própria falha.
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