domingo, 24 de agosto de 2025

Meu estilo poético



Dizem que desenho,

mas minha mão nunca obedece à linha.


Tudo escorre,

tudo se dissolve,

como se a própria matéria tivesse medo

de permanecer.


Judeus como eu não pintam,

repito em silêncio,

como se fosse um mandamento obscuro.


Não sabemos fixar as coisas:

o copo, a cadeira, o rosto amado.

Sempre os vemos em fuga,

atravessados por correntes invisíveis,

como prisioneiros tentando escapar

da moldura.


Meu estilo poético é isso:

um traço que não termina,

um contorno que se apaga

antes de se tornar forma.


Se desenho, é para provar

que nada pode ser detido.


Se escrevo, é para confessar

que até a palavra me abandona

na hora exata

em que penso segurá-la.


E tudo,

tudo que toco,

é apenas mais uma prova

da minha própria falha.



Nenhum comentário:

Postar um comentário