O mundo não é redondo
o mundo não é plano
o mundo é um estilhaço
que se recompõe no olhar.
Picasso sabia:
o touro não é o touro
é a soma de todas as suas linhas possíveis
o rosto não é o rosto
é a memória das faces que o vento desfez.
Braque caminhava no ateliê
como quem caminha sobre o próprio quadro
pisando pedaços de madeira, jornal, areia
porque a vida também é colagem.
O cubismo —
não é só pintura:
é o instante em que a garrafa de vinho
se parte em cinco garrafas
e todas continuam embriagando.
Mondrian
em sua disciplina de retângulos e cores
sabia que o caos pode ser contido num quadrado
e que o amarelo é um sol domesticado
para caber na parede.
Paul Klee
ouvia o som que a linha faz
quando encontra o silêncio.
Seus barcos navegavam no papel
como se o mar fosse uma ideia.
E eu, diante deles,
sinto que o mundo se quebra de novo
e que cada pedaço revela uma parte oculta:
o lado de dentro da maçã
o outro perfil da tarde
o ângulo secreto do teu rosto
que só vejo quando fecho os olhos.
O cubismo é isso:
a arte de não acreditar no primeiro olhar.
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