terça-feira, 30 de setembro de 2025

A CRIAÇÃO DO MUNDO MÉDIO

A CRIAÇÃO DO MUNDO MÉDIO


No início o sopro veio, suave e forte,

Cantando caminhos de vida e morte.

Das trevas fundas brotou clarão,

E ergueu-se o mundo da escuridão.


Os rios correram, tão livres, risonhos,

Despertando a terra de antigos sonhos.

As árvores ergueram seus galhos dourados,

E os montes soaram, de ecos sagrados.


Então chegaram, com passos errantes,

Os nobres senhores, os animais falantes.

Leões, raposas, e aves em bando,

De vozes humanas o ar se enchendo.


Dos bosques vieram, cantando em cor,

Os elfos radiantes, doçura e ardor.

Com harpas de prata e olhos de estrelas,

Guardaram a terra, cantando por ela.


Do céu desceram, em marcha sonora,

Os centauros altivos, guardiões da aurora.

Entre os astros leram sinais,

E deram ao mundo seus dons imortais.


Assim foi criado o Mundo Primeiro,

O Mundo Médio, jardim verdadeiro.

E cada criatura tomou seu lugar,

No canto eterno que não vai cessar.




sábado, 27 de setembro de 2025

Dibujos

a dança

Ego: figura de mim mesmo

Busto de uma africana


Retrato cubista
de Niels Bohr

Le corbusier: cubismo



Figura cubista



Meditação

 

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

A menina e o dragão




 

Desenhos esboçados

Abstrato 1



Mulher analítica




Composição: tibete



Busto de mulher

Mulher dormindo



A senhorita

Le corbusier, o arquiteto



Busto

 

Dunwich Hollow


¹

E aconteceu que na cidade de Dunwich Hollow, perdida entre colinas cobertas de névoa, ergueu-se um rumor entre os moradores: diziam que sob o solo, mais antigo que qualquer igreja ou cemitério, havia uma cova que não era cova, mas um poço sem fundo. Ninguém ousava olhar dentro dele por mais de um instante, pois os olhos sentiam ser tragados pela escuridão viscosa que ali se escondia.


²

E os anciãos advertiam: “Não vos inclineis sobre o poço, porque nele habita um espírito que não tem forma, mas veste-se de todas as formas. E quando ele vos notar, não mais sereis vós mesmos.” Porém, como em toda cidade cercada de silêncio, havia aqueles que não acreditavam e riam das advertências, até que a primeira tragédia caiu sobre os homens.


³

Eis que numa manhã de inverno, corpos foram encontrados diante do poço, contorcidos em posições que desafiavam os ossos, como se tivessem sido dobrados por mãos invisíveis. Seus rostos estavam congelados em expressões de terror tão absoluto que nenhum pintor ousaria reproduzir. Alguns afirmaram ter visto, naquela noite, um vulto subir das entranhas do buraco, arrastando véus de névoa e dentes onde não deveria haver boca.


E nesse tempo vivia na cidade James, um homem comum, sem dons nem glórias, mas que trazia em si a maldição da curiosidade. Pois, tendo perdido esposa e filho a uma febre, buscava no mistério alguma razão que justificasse sua solidão. Quando ouviu as histórias da cova, murmurou consigo: “Se ali há morte, também deve haver resposta, e se resposta houver, saberei.”


E James aproximou-se do poço numa noite em que as ruas estavam desertas, e o vento rugia como um coro de vozes esquecidas. Ele trouxe uma lamparina, e sua luz parecia murchar cada vez mais, como se a própria chama temesse olhar para baixo. Ele se inclinou, e por um instante viu seu reflexo na escuridão — mas o reflexo não se moveu como ele.


E o reflexo sorriu com dentes que não eram seus, e abriu os olhos onde James não tinha olhos. Então ouviu-se um sussurro, não no ar, mas dentro da carne, dizendo: “Desce, pois tua forma é minha, e teu medo será meu corpo.” James cambaleou para trás, mas a sensação de que uma mão fria o puxava pelos pulmões o fez vomitar e cair de joelhos diante da borda.


E na cidade, naquela mesma noite, as casas tremeram, e portas se abriram sozinhas, e espelhos se partiram como se risos invisíveis ecoassem por entre as paredes. O povo se levantou aos gritos, clamando contra o poço, mas nenhum ousou fechar-lhe a entrada, pois cada vez que se lançava pedra dentro dele, ouvia-se um rugido abafado, como se algo mastigasse o próprio mundo.


E James, consumido pelo terror e pelo fascínio, começou a voltar noite após noite, cada vez mais fraco, cada vez mais distante daquilo que era humano. Seus vizinhos notaram que seu rosto parecia mudar, alongar-se, e que seu pescoço tremia como se algo se movesse por dentro. Mas quando o confrontaram, ele apenas respondeu: “Não falo por mim, mas por aquilo que me habita, e ele ainda não nasceu por completo.”


E o espírito-monstro cresceu dentro do poço e dentro de James, como se ambos fossem espelhos do mesmo abismo. Havia noites em que o corpo de James parecia dissolver-se em fumaça diante das casas, e depois retornava, trazendo nas mãos insetos mortos e ossos de criança. Os mais velhos clamaram para que a cidade fosse abandonada, mas a maioria não quis partir, e assim permaneceram condenados.


¹⁰

E numa madrugada de luar vermelho, o monstro ergueu-se do poço, não em corpo único, mas em centenas de bocas costuradas, vozes corrompidas, e patas que arrastavam gritos pela terra. James estava diante dele, e ninguém mais, pois os moradores haviam se trancado em pânico. E o monstro disse, através de sua forma humana: “James, tu és minha porta, e tua morte é meu nascimento.”


¹¹

E James tentou fugir, mas seu corpo já não lhe pertencia, e cada passo que dava o arrastava mais para a beira. Chorou, lembrando-se de sua esposa e de seu filho, e clamou por perdão, mas o poço respondeu apenas com risos. Então uma força invisível o tomou, e seus ossos se dobraram ao contrário, e sua carne foi sugada para dentro da escuridão.


¹²

E assim James morreu, não como homem, mas como oferenda. E o poço fechou-se sobre ele com um som de garganta engolindo. Desde então, dizem que Dunwich Hollow não conheceu mais o sol verdadeiro, e que aqueles que se aproximam da cidade veem rostos no chão, movendo-se sob a terra, como se toda a cidade estivesse respirando. E ainda se ouve, entre os ecos, uma voz familiar murmurando: “Eu sou James, e o poço é meu corpo.”



Ligação

Acho que estou fazendo meu trabalho

para conectar a mim mesmo,

minha família, com a sociedade — com o cosmos.


Pois não somos ilhas, isoladas no silêncio,

mas rios que correm para o mesmo mar.

Cada gesto escondido no lar

abre-se como semente

em campos que nunca vimos.


O pão repartido na mesa

é já um sacramento do universo;

um reflexo pequeno

da ordem maior

que respira além das estrelas.


E quando amo os que estão perto,

descubro que toco, de leve,

as margens do infinito.




Soneto – A Destruição e a Vinda

Também poderia haver alegria na destruição, não é mesmo?

Pois o mundo se desfaz em círculos de fogo e vento,

E cada pedra ruída guarda em si um sacramento,

Como se o fim fosse início em véu supremo.


As bestas se erguem do abismo em rugido extremo,

E o céu se curva em ouro, sangue e firmamento;

Quem ouve o galope escuro no firmamento

Sabe que o tempo arde no giro supremo.


A Segunda Vinda exige a queda do império,

O colapso dos templos, a ruína do mistério,

O grito do anjo perdido em chama mortal.


Não deveria o Cristo chegar entre cinzas e guerra,

Quando a última torre tombar sobre a terra,

E o nada abrir-se, revelando o portal?




Tom Místico

dedicado a Kenzaburo Oe, o mestre JaponÊs!


¹ “A história se repete”, dizem os ecos das eras, e no coração do tempo, como uma roda eterna, as almas caminham sobre as cinzas dos impérios e as ruínas das suas próprias esperanças. Não há linha reta, apenas círculos que retornam com máscaras diferentes, e cada rosto que se levanta já estava inscrito nas estrelas.


² O destino da alma não é a fuga, mas a dança dentro da tempestade. Pois cada nascimento é também lembrança, cada morte é promessa, e os ossos enterrados na terra cantam canções que ninguém vivo compreende inteiramente.


³ Vejo nas sombras dos salões antigos os mesmos passos de reis e mendigos, como se fossem atores em uma peça interminável. A coroa passa de cabeça em cabeça, mas o peso dela nunca muda, e sempre curva a espinha do escolhido.


⁴ A alma busca libertação, mas encontra apenas símbolos: o falcão girando no alto, a lua dilacerada em duas faces, o sangue do poeta misturado à tinta. E nessas visões está a verdade: nada morre, apenas troca de véu.


⁵ Quando os povos clamam que tudo é novo, já se ouvem, nos corredores secretos do destino, as risadas suaves das fadas do tempo, que sabem que todo triunfo será pó, e que todo pó se erguerá de novo em triunfo.


⁶ A criança que sonha no berço já é o ancião que se curva sobre o cajado. Entre esses dois extremos, a alma escreve em círculos o que julga ser caminho, mas o traço é sempre espiral que retorna ao seu próprio centro.


⁷ Vejo o destino como uma torre que nunca termina de ser construída, e cada geração coloca pedras sobre pedras, sem perceber que, ao chegar mais alto, apenas olha o mesmo horizonte de outro ângulo.


⁸ O espírito humano, sedento de eternidade, procura na guerra, no amor, no silêncio, um sinal de ruptura. Mas os sinais são apenas reflexos: espelhos girando dentro de espelhos, cada um mostrando o mesmo rosto sob diferentes máscaras.


⁹ Quando a alma se perde em desespero, pensa ter encontrado o fim. Mas nesse abismo já há sementes, e das lágrimas do desolado brotam as flores que outra geração colherá, acreditando em novidade.


¹⁰ Assim a vida e a morte são amantes que dançam eternamente, cada um fingindo despedida, cada um retornando no mesmo abraço. E a alma, iludida, chama isso de destino, sem notar que ela mesma é a dança.


¹¹ O profeta vê em visões o giro das eras, e não distingue início de fim. Para ele, toda queda é ascensão disfarçada, e todo renascimento é apenas a antiga queda retomada sob novos céus.


¹² Por isso digo: “A história se repete”, não como prisão sem saída, mas como um cântico circular. O destino da alma é viver em símbolos, morrer em símbolos, e renascer em símbolos ainda mais profundos, até que o tempo se curve sobre si mesmo e a espiral se feche no fogo eterno.



O leão chora

para william blake 


¹ O Leão ergue-se sobre a colina ardente, sua juba é chama, sua garganta trovão.

² Mas quando a lua surge, seu rugido quebra em soluços invisíveis.

³ Quem ouvirá a lágrima do rei da floresta?

⁴ Quem ousará crer que a força pode se vestir de luto?


⁵ As estrelas inclinam-se sobre seu pranto, como anjos que não podem tocar a terra.

⁶ O rio recolhe o sal de sua dor e o devolve ao mar.


⁷ “Sou guardião e caçador, mas quem me guarda?”, murmura o coração flamejante.

⁸ O céu responde apenas com silêncio, pesado como ferro.


⁹ Entre as presas partidas jaz sua própria solidão;

¹⁰ Entre as garras afiadas, o vazio de ser temido.


¹¹ O choro do Leão é a trombeta que anuncia: a grandeza não é sem ferida.

¹² E na última lágrima cintila a verdade: até a coroa se curva ao mistério da dor.



AS VERDADES CONCRETAS


 

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

O Último Canto de Thion

O Último Canto de Thion


 “Este é o relato que chegou a nós pelas vozes dos cantores das florestas e pelos ecos das montanhas do norte.

Aqui se guarda a memória do rei Thion, chamado Rocha Silenciosa, que se levantou contra o dragão Gorthan, o Devorador de Estrelas.

 Não foi para conquista ou coroa que partiu, mas por amor à elfa Awelymar, cujo semblante era claridade nas trevas.

 Pois mesmo os reis mais duros, forjados em pedra e sangue, não escapam ao chamado do coração,

 e por esse chamado Thion desceu à morte.

 Assim se iniciou o lamento, que não pertence a um só povo, mas a todos que recordam,

 porque o amor, embora frágil, resiste mais que ferro e mais que fogo.”


 

¹No alvorecer das eras, quando ainda a memória dos povos era jovem e os rios não haviam esculpido seus vales por completo, reinava Thion, cujo nome significava Rocha Silenciosa. Ele era senhor de terras vastas e frias, cercadas por montanhas que tocavam as nuvens e por florestas que sussurravam histórias mais antigas do que qualquer rei. Embora fosse firme em sua autoridade e austero em sua palavra, havia nele uma chama secreta, guardada como brasa no âmago do coração, que nenhum conselho de guerra e nenhum ouro da coroa podiam apagar.


²Essa chama despertou quando Thion contemplou, pela primeira vez, a elfa Awelymar, filha das florestas eternas. Sua beleza não se media em adornos, mas em silêncio e claridade, como a estrela solitária que paira sobre mares escuros. Sua voz era branda, mas carregava em si a lembrança das árvores imortais e da música que os homens não sabiam mais entoar. Thion a amou com devoção ardente, e nela viu não apenas a promessa de companhia, mas o espelho de tudo o que sua própria alma buscava sem saber.


³Por muitos dias e noites, o rei percorreu os bosques para ouvir-lhe a voz e aprender sua linguagem. Sentava-se diante dela como aprendiz diante de um mestre, e Awelymar sorria diante de sua humildade, pois não é próprio dos reis curvar-se, e menos ainda diante daquilo que não podem possuir. Contudo, ela conheceu em Thion um coração honesto, e entre ambos nasceu um vínculo que não era apenas desejo, mas uma ligação profunda, como raiz em solo fértil.


⁴Mas não tardou que a inveja e a desolação se erguessem contra esse amor. Nas montanhas do norte despertou o dragão Gorthan, chamado o Devorador de Estrelas, cuja fome não era apenas de ouro e carne, mas de esperança e luz. Seus olhos ardiam como fornalhas, e sua asa lançava sombra sobre dez léguas de terra. Ele soube do afeto entre Thion e Awelymar, e, inflamado pelo rancor de eras, desceu com chamas e ferro para arrancar a elfa de sua morada.


⁵Awelymar foi levada em correntes negras até a gruta de Gorthan, e os lamentos de seu canto ecoaram pelas florestas como se as próprias árvores chorassem. Ao ouvir tal notícia, Thion ergueu-se de seu trono sem uma palavra, e seus conselheiros se calaram diante de seu olhar. Pois em seus olhos não havia dúvida nem cálculo, mas apenas a decisão firme e terrível de um homem que sabe que caminha para a morte, ainda que não a tema.


⁶O rei partiu sozinho, sem exército, sem bandeiras, levando apenas sua espada, chamada Míriel, que reluzia como prata sob luar. Atravessou vales cobertos de névoa, e sobre seus ombros pesava não o fardo de sua coroa, mas a promessa feita em silêncio ao coração da elfa. “Se eu cair,” disse a si mesmo, “que minha queda seja ponte para sua liberdade.” Assim andou durante sete noites, guiado pelo rumor distante das asas do dragão.


⁷Ao chegar às montanhas do norte, encontrou a terra queimada e o céu enegrecido pelo fumo. As rochas, que antes eram morada de águias, estavam agora cobertas pela poeira de ossos. Thion ergueu sua espada, e sua voz retumbou contra as fendas: “Gorthan! Saia de tua cova, pois vim buscar aquilo que roubaste, e não partirei sem ela, mesmo que eu mesmo seja despedaçado.” Um riso como trovão respondeu-lhe, e o dragão surgiu, trazendo em sua garra a frágil figura de Awelymar.


⁸O combate foi terrível. O fogo de Gorthan desceu como rios flamejantes, e as pedras se partiram sob o peso de seu corpo imenso. Thion golpeou com fúria, sua espada brilhando como raio contra as escamas do monstro. Awelymar clamava por ele, mas o vento de asas e o rugido do dragão sufocavam sua voz. Ainda assim, Thion avançava, movido não por força de músculos, mas por aquela chama secreta que nele ardia desde o princípio.


Por três vezes, Míriel penetrou entre as placas da besta, e Gorthan uivou de dor, derramando sangue negro que fumegava sobre o solo. Mas a força do dragão era antiga, e sua astúcia, cruel. Com uma guinada repentina, lançou a elfa contra as pedras, e no instante em que Thion correu para ampará-la, a cauda de Gorthan o atingiu no peito, quebrando-lhe o corpo como árvore sob tempestade.


¹⁰Ainda caído, Thion ergueu os olhos para Awelymar, que se arrastava até ele, chorando. “Meu rei,” disse ela, “por ti não há salvação, e eu preferiria morrer contigo.” Mas Thion, com o último sopro de sua vida, respondeu: “Não chores minha queda, pois meu amor não morre. Vive tu, e leva adiante aquilo que começou em nós. Pois até na derrota, há vitória, se o amor permanecer.” Então deixou cair sua espada, e a chama de sua vida se apagou.


¹¹Gorthan, ferido mortalmente, fugiu mancando para o fundo de sua caverna, e dele não se ouviu mais por muitas eras. Awelymar tomou a espada do rei e a cravou na terra diante de sua tumba, e ali jurou que sua memória não se apagaria enquanto houvesse canto nas florestas e estrela nos céus. Os povos ergueram então um canto em honra de Thion, que preferiu a morte ao abandono de sua amada, e assim sua história se tornou semente entre gerações.


¹²E dizem que, quando as noites são claras e o vento sopra dos montes do norte, pode-se ouvir a voz de Thion misturada ao canto de Awelymar, como se rei e elfa ainda caminhassem juntos além do alcance do tempo. Pois assim como a rocha sustenta o rio, e a estrela sustenta a noite, também o amor sustenta a memória. E ainda que reis morram e dragões se levantem, o eco de Thion e Awelymar jamais será silenciado, enquanto houver quem conte suas histórias à beira do fogo.



Pinturas Abstratas

Sexo homossexual número 3




O boquete da jovem trans


Dois jovens gays transando

A mulher de tromba n.2



Composição erótica homossexual




Cabeça de Picasso




 

Composição abstrata em

 

vislumbre de uma garrafa

 

Em anaconismo - croquis

Uma composição completa


rosto de mulher


duas figuras e um budista


o encontro das figuras


composição:
dois gays 


A praia


A moça sambista nua


A argelina


Símbolo fálico


Composição: A Mulher


 

A Feiticeira

 Claro que ela é bela,

bela como o sol.

Mas seus olhos

Não podem turvar

A luz que incendeia

O meu coração.

Ela é uma bruxa,

uma feiticeira.

Cuidado.

Ela lança feitiços com seus olhos verdes de serpente.

Víbora, viçosa e

enganadora da

Mãe dos Homens.

Ó, como pode

uma criatura terrivel

ser tão bela de se olhar?

Shevá

    Eu fui pela colina

e ali ela estava,

nua, morena, linda,

a bela, a amada esperada.


Seu nome era Shevá, e ela trazia

dois seios em forma de rosa, e uma linda

baga.


Mas, a tarde se fez frio, 

e a chuva passou. 

A noite luziu e ela sumiu.


Onde está aquela flor? Eu estarei cego,

mesmo vendo?

Morrei por ela, morrerei de amor!



Cruzé la colina

y allí estaba ella,

desnuda, morena, hermosa,

la hermosa, la amada tan esperada.


Se llamaba Sheva, y llevaba

dos pechos en forma de rosa y una hermosa

baya.


Pero la tarde se enfrió y la lluvia cesó. La noche brilló y ella desapareció.


¿Dónde está esa flor? ¿Acaso estoy ciego,

aunque veo?

¡Morí por ella, moriré de amor!

Nubes vagas forman una canción en mi mente

Nubes vagas forman una canción en mi mente.

¿Duermo o estoy enfermo en este sueño?

Sé que estoy pensando en ti... ¡Por eso lloro!


El camino es amargo.

Dios está por delante.

Enciendo mi pipa, medito y

escribo este poema

que


la fría lluvia no se negará a arrancar.


Hojas del pasado

¡me hacen llorar!

Balada dos Imortais II


UM

No princípio de todas as coisas, quando não havia estrelas nem mares, Bekar caminhava sozinho no silêncio do alto firmamento. Ele era chamado de o Único, pois sua luz brilhava sem fonte, e sua voz era canção antes que existisse eco. Mas dele nasceu também um outro, seu irmão, Karan, belo de rosto, mas de corpo enredado em patas de aranha, como se o engano tivesse tecido sua própria carne. “Tu me chamas irmão,” dizia Karan, “mas não aceito a tua luz que me cega.” E Bekar respondia, com tristeza: “Não é minha luz, mas a luz do Ser que nos criou. E não suportas a ti mesmo, não a mim.”


DOIS

Houve então a primeira luta. Karan lançou-se sobre Bekar e cravou-lhe as presas no calcanhar, tentando envenenar-lhe o passo. Bekar caiu de joelhos, mas sua mão segurou o pescoço da aranha e, com voz de trovão, lançou-o ao vazio. “De ti nada restará senão fome e trevas, até que aprendas humildade.” Mas Karan, caindo, gargalhou: “Se não posso possuir tua luz, hei de destruí-la em quem tu amas.” E assim, desde o princípio, o veneno do ódio se tornou seu alimento.


TRÊS

Muito tempo depois, quando Bekar atravessava as margens do Nada, encontrou diante de si o Espelho do Mundo, lago cristalino que refletia não o que é, mas o que pode vir a ser. E ali, como se houvesse sempre esperado, estava Guzelik, a bela, deusa do amor. Seus olhos eram auroras e seu semblante era paz. Bekar contemplou-a em silêncio, e por um instante esqueceu-se do irmão caído. “Tu me procuravas?” perguntou Guzelik. Bekar sorriu e respondeu: “Não, mas encontrei mais do que buscava.”


QUATRO

Eles se sentaram juntos diante do Espelho, e conversaram como dois viajantes que se reconhecem antes mesmo de dizer os nomes. Guzelik falou do desejo de criar, e Bekar lhe contou das dores da luta. “O mal sempre retorna, mesmo quando é vencido,” disse ele, “como uma sombra que se move com a luz.” E Guzelik retrucou: “A sombra existe porque a luz existe; mas onde há amor, a sombra não reina.” Então, de sua união, surgiu um planeta, coroado de mares e montanhas, onde rios cantavam como harpas e árvores dançavam ao vento.


CINCO

O planeta era belo, mas a beleza desperta inveja. Do abismo, Karan viu a obra e roeu-se de raiva. “Um espelho foi dado a ela, mas eu serei o espelho da destruição. Onde houver rios, lançarei veneno; onde houver árvores, trarei fogo.” Em suas cavernas de sombra, teceu uma teia tão vasta que podia cobrir céus inteiros, e em sua mente ardia um único propósito: desfazer o amor que ele jamais poderia ter.


SEIS

Certo dia, Bekar falou a Guzelik com olhar grave: “Meu irmão não cessará. Já me mordeu uma vez, e sua fome não se extingue. Virá contra nós.” Mas Guzelik não se perturbou; ergueu o rosto e disse: “Então lutaremos não só com a força, mas com aquilo que ele jamais conhecerá: a compaixão.” Bekar, porém, calou-se, pois sabia que contra a malícia do irmão até a compaixão podia ser retorcida.


SETE

Houve um tempo em que Karan subiu do vazio como fumaça, e sua forma terrível cobriu metade do firmamento. Os mares do novo mundo estremeceram, e as montanhas tremeram. “Vês, irmão?” bradou ele. “Teu planeta é frágil como vidro! Basta minha teia e tudo se quebrará.” Bekar respondeu com voz de trovão: “Não quebrará, pois foi gerado de amor, e amor é mais forte que vidro.” Então lutaram de novo, e mais uma vez Bekar lançou Karan ao abismo. Mas o veneno no calcanhar ardia ainda, lembrando que a vitória não era plena.


OITO

Passaram-se eras, e o mundo de Bekar e Guzelik florescia. Povos nasceram, aprendendo canções, artes e memórias. Os rios refletiam o céu, e as montanhas guardavam segredos. Guzelik sorria ao ver as crianças correrem pelas colinas, e Bekar, embora ferido, sentia no coração uma paz que jamais conhecera. Mas sempre, em noites de silêncio, ele ouvia no fundo do vento o sussurro da aranha: “Ainda estou aqui.”


NOVE

Certa vez, Guzelik levou Bekar de volta ao Espelho do Mundo. “Olha,” disse ela, “a criação é um reflexo nosso. Mas não devemos possuí-la como reis, e sim guardá-la como pais.” Bekar inclinou-se sobre a água, e viu seu próprio semblante refletido ao lado dela: luz e amor unidos. Mas quando as ondas se moveram, também viu, fugaz, o rosto de Karan, rindo como se o espelho fosse dele. Bekar recuou, e Guzelik pousou-lhe a mão: “Não temas. O mal sempre tenta ver-se como centro, mas nunca poderá ser raiz.”


DEZ

O ódio de Karan cresceu tanto que já não o alimentava: consumia-o. Ele rangia as presas contra o vazio, e cada mordida em si mesmo gerava monstros, pequenas aranhas que rastejavam em busca de brechas no mundo. “Destruir-vos-ei por meio de vossos próprios filhos,” dizia. “O amor vos dá frutos, e eu darei venenos.” E assim a guerra não era apenas entre irmãos, mas entre descendentes do amor e descendentes do rancor.


ONZE

E Bekar ergueu-se uma vez mais, contemplando o horizonte do planeta. “Se há luta eterna, que seja eterna a esperança,” disse. Guzelik assentiu: “A esperança não é menor por ser combatida; é maior, pois sobrevive.” E os povos do mundo ouviram fragmentos dessas palavras como se fossem ecos em suas lendas. Aprenderam que não era apenas Bekar quem devia lutar, mas cada um que amava a vida diante da sombra.


DOZE

Assim começou a história dos imortais, não apenas como lembrança de batalhas, mas como convite à escolha. Pois Bekar e Guzelik continuam a caminhar sobre o planeta que geraram, e Karan ainda espreita no vazio, roendo-se de ódio. Mas o mundo não é feito de ódio, e sim de amor; e ainda que as sombras caiam, a luz sempre se levanta. E quem ouve esta balada deve escolher: seguirá o caminho do veneno, ou do amor que sustenta céus e mares?