quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Amor


Meu amor
feito de cravos
chora rosas.

Coisa linda de


Deus: abrir uma porta
fechando
vinte e quatro janelas.

poesia incompreensível de Deus


Aqui no Brasil é noite e aí em Portugal é dia?
Isso sim
meus caros
é poesia!

Circuladô de voz


Escrever é dar
voz
para ninguém.

Ressuscitação cristã


Escrevo para morrer.
Ressuscito nas
letras.

Compreensão do mês de setembro


-Posso te mandar ir tomar no cu?
-Pode.
-Vai tomar no cu.

Logotipo googliano para dominação do mundo


Mano, o caio fernando
virou um dragão muito
legal.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Estranhamento


Há algo dentro da memória
que não pode ser esquecido.
E de repente lembrado
faz a gente sentir uma paz
estranha. Um luar sem trégua.

Não resisti


para marly de oliveira

Não resisti ao seu sorriso
porque iria temer o mar
desse seu olhar cruel?

Retrato romântico da morte


Pois é, disperso.

Alegria


E se aquilo era alegria
onde ficou escondida a tristeza?

Lembro você lendo camões


De tanto te dever
não pude mais
pagar pelo seu
amor.
E quanto mais
te pagava
mais te devia ao amá-la.

Só pode ser


A sabedoria de um tolo
só pode ser o amor
e a tolice de um sábio
só pode ser o amor.

Quem sabe


Topo com nada,
nem nuvem,
uma uva, 
nem inverno,
nem verão,
estrelada baixa.

Passado


Não foi hoje que
te esqueci.
O passado é mais
breve que o presente.
Passemos.

Imensidão


Ao lado do meu jardim
cresce a chuva, passa o vento.
O vento me diz seu nome,
a chuva me leva pra dentro.

Manhã


Raios de sol no sol da cidade

Passado


O que passou passou,
não volta. O que ficou foi
vida. Agora é apenas sonho.

Bárbara



Só sei que não te amo,
seja mar ou seja vento.
O que te dá contentamento
a mim só traz desengano.

Só sei que não te amo,
seja vento ou seja mar.
Por quê aquela mariposa
não me ensinou a te amar?


Versos feitos para quem vai nos enterros


Vai para um velório? Deixai os mortos consolar seus mortos!

Onde está?


Onde está o povo?
Dentro daquele bosque azul, imagino, ou naquela poça cheia de oceanos?
Onde está a cidade?
Por dentro de uma nuvem,
na colher, ou quem sabe
nos botões de uma formiga.
Onde está o amor?
Adormecido nas montanhas,
preso em um armário,
na imaginação de uma moeda?
Onde está o frio?
Aquele que assusta os gatos
na hora do banho.
E onde está a amada prometida
aquela que governou a Pérsia inteira
com as ordens do seu anel de amor?

domingo, 9 de setembro de 2018

Amor


Que horas despertou o relógio, o sino, aquele verde limão, o prado chorando com as agulhas, o destino que fazia parte da nossa imaginação, porque os nossos beijos mergulharam em uma espécie de imaginação estranha, não era isso filosofia, e por isso vivianos como antes, como depois, sem entender muita coisa, andando pelo asfalto quente, chocalhando a cabeça como calanguinhos.

Amor


E por isso começo minha canção,
coração, dizendo te amo e te amo,
e de novo te amo, minha alma,
te amo, minha ave, te amo meu pulmão,
te amo cintura fina, mulher feita de tantas
mulheres que não amei e que não conheci,
e começo minha canção, amada minha,
minha diamante, minha serpentina,
e por isso te amo com minhas agulhas,
te amo com minha inspiração,
te amo com o meu ar,
te amo com o meu pulmão.

Sentimento

Vi muitas coisas que não devia: navios, países, pessoas, rancores,
decifrei na moeda da sorte o amor divino
e com algumas colheres fui sendo marinho
por causa do nariz enorme de pelicano,
depois veio o dia, depois a noite, e ao mesmo tempo que ela se lembrava de mim na chuva a saudade embaraçosa ia
me consumindo como um pequeno galho caindo no
rio
sem
a esperança de ser achado
por algumas mãos,
ou por todas as mãos.
E cresci feito o vinheiro. Videira.

Sentimento

Pode ser que a noite seja
essa noite mesma.
São as estrelas que brilham
nos seus olhos ou são os
meus desejos escondidos
nos sonhos divinos?
Espero que aquela rosa
seja como o açúcar
e brilhe infinitamente bela
como o sal das ondas
que nunca morrem.

Com véus


Agora ela apareceu para mim
sem luzes negras no cabelo,
em uma natural pureza de sol. 
Desde esse dia então,
vi nos versos livres,
brotando dos seus peitinhos, seios, e consagrei-me ao amor.
Em tal hora era minha fadiga,
que fui clarear com a lua alguma sombra nua.

Depois


Depois que o mundo acabar
não venha me pedir pra te amar.

sábado, 8 de setembro de 2018

Poeta


E quando virei poeta, entendi que tinha um preço
a ser pago por essa maldição tão bela, tão rústica,
em cada traço de tronco percebi que um coração
poderia ser o meu ferido por mil abelhas, assim sendo
adormeci com muita preguiça,
e acordei como um tigre procurando pelo mel do mar.

Segurando a caneta sem tinta, percebendo
que o papel não pode ser outra coisa a não ser dinheiro,
comecei a meditar para me comparar com os santos,
e percebi que era apenas um vagabundo
sentado, espreguiçando com as mãos
as velhas maças dos mercados, roubado
pela ternura o carinho de estranhos, e desconheci
as feiras, e encontrei no meio das igrejas almas penadas,
e enquanto eu escalava os montes, fui frequentando
as faculdades dos livros.

Decifrei na primeira gota do mel a ternura do sofrimento,
então entendi de decor a filosofia de Schopenhauer,
depois foi o amor a ser lançado como uma barata
esmagada na minha direção, e eu quis cantar como Lorca,
e quanto mais abria a boca para receber estrelas,
caramujos e gravetos entravam pelos meus cabelos,
e meditei com os piolhos o porquê de gostar de jogar
baralho.

Por fim bebi algumas gotas para entender o que as
fadas descontentes sentem, e percebi que fora do remédio não há eu.
Depois entrei dentro dos hospitais e gritei pela vida
quando o eco da morte queria me dar injeções nos braços.

E como eu sentia vontade de apertar as nádegas
daquela doce gata, meu bom e velho Whitman,
porque só você, bom e velho Walt Whitman,
poderia entender o segredo voluptuoso do corpo
de uma mulher, da brisa suave que tem suas pernas,
suas nádegas, walt whitman, meu bom companheiro
de Nova York, ai mesmo, enquanto eu lanço minhas
sementes em todas as direções e vejo que o porto do
mar está frio porque os nossos olhos, bondoso whitman,
não podem mais mira-los onde tu e eu estamos,
porque tu se encontra em um estado de graça que não
pode ser descrito, e minha poesia come do vento a poeira.

Por isso entendia as dúvidas dos jornalistas,
o cacoete dos galinheiros, o uivo dos cães lembrando de serem lobos selvagens, e entendi que eramos estranhos,
domesticados para destruir a terra sem motivo. 

Mirando a lua, descrevendo nas raízes das flores
a borboleta, o espelho, o sal, a salgada onda, 
e depois, mesmo depois, quando tudo isso virou cinzas,
vibrando com um último gole, uma só palavra,
e o poeta continuou cantando pelo vale da sombra da morte.

Entendo



Ninguém viu meu rosto se movendo?
Eu estava ali, cercado de uma multidão estranha
para a minha alma, e mesmo assim,
não consegui virar mariposa,
não estava preso o meu espírito
em um corpo estranho?

Por isso fui me medir com o mar,
e acabei arrastado pela chuva
como um pequeno inseto.

Não, eu estava ali sentado,
querendo virar uma estátua mística.
No máximo, só pude vender calendários,
e depois ainda conseguir o sorriso
de uma pequena menina de olhos
tão claros como o diamante mais bruto
que existe.

E por isso fiquei contemplando
as nuvens,
tentando entender
 o segredo da preguiça
dos pássaros.

Minha vida


Só posso contar
minha vida sendo

mar. 

De resto
viro espuma,

gafanhoto,
folha minúscula.

O amor grita


Não, não é o amor que está morto,
nós é que morremos, nós estamos mortos,
não tu, não eu, não nós, mas nós no fundo
dentro de algo que não pode ser profundo
mais que mesmo assim se torna uma coisa
que grita: o amor não está morto,
e quem morreu? somos nós a cada dia?
morremos em cada onda? em cada sol?
o sol morre em cada dia em cada onda?
e cada onda morre em cada dia em cada sol?
e se não morremos agora iremos morrer quando?
e se não quisermos morrermos, poderemos
apenas nos deitar como as pedras nos rios
e como raízes iremos levantar do mar os nossos sonhos
enquanto o rio ri sozinho para os pássaros
e o amor grita para os corvos:
-não estou morto!

Coisas lindas


Coisas lindas
escritas sozinhas
no beco oco do mundo 
no silencioso do vazio
profundo
coisas lindas.

De noite


Já caiu a noite
e a cidade não dorme.
O que dorme
são os nossos olhos,
que dormem de dia
porque buscam na
noite alguma estrela
perdida para consolar
o coração moribundo.

Quantas raízes escuras,
quantos becos sem saída.
Do outro lado da vida
está a morte, com sua foice
de luas.

Dentro do dia há uma noite
que saltita como uma perereca
buscando alivio em uma lagoa.

Solitária, a cigarra canta,
sem se importar se chove
muito para o caracol,
enquanto a tartaruga resume
sua vida a ler alguns livros
sagrados e tatuagens.

A cidade não dorme
porque pega fogo.
De um lado o sol
do outro o luar.

Ben ' Adonai

Bendito seja o Deus que nos cria 
a luz nossa de cada dia

Quando nasço



Quando nasço
há um rio que percorre
a minha aldeia cheia 
de árvores de belos ramos
e tristes frutos com olhos
amarelos.

Por isso não peço perdão
quando começo a cantar
o rio, o mar, o vento,
as estrelas, os templos.

Do outro lado da minha casa
mora uma alma e um pássaro
sem nome.

A fonte da vida me ensina
a acreditar na esperança.
E quando abro a porta 
para as maças
já entram alegre as
gaivotas.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Alegrêmo-nos

Alegrêmo-nos,
alegrêmo-nos,alegrêmo-nos,alegrêmo-nos e sejamos felizes
Alegrêmo-nos,alegrêmo-nos,alegrêmo-nos,
alegrêmo-nos e sejamos felizes

Cantemos,cantemos,cantemos, e sejamos felizes
Cantemos,cantemos,cantemos, e sejamos felizes

Despertai,despertai irmãos,
Despertai irmãos com um coração contente
Despertai irmãos com um coração contente,
Despertai irmãos com um coração contente
Despertai irmãos!

Despertai irmãos
Com um coração contente.

Poder


Se posso escrever
A palavra não
Descrevo a cidade
E o bosque gélido.

domingo, 2 de setembro de 2018

Ressurreição


para olga savary

Esqueci tudo o que disse.
Já não sou nem disse o
que era antes...

Quieto


Viu, cantei, eu que pedi silencio, eu mesmo, que nasci dentro de uma bolha, aprendi tanto que segui quieto, fiquei mudo, quis ser gaivota e não pude, meus passos largos deixei, e na minha ação aprendi que minhas mãos podiam cantar, e cantei por dentro o tempo imóvel e dourado, e a altura das coisas me chamou para ser formoso e vou convertido em tangerina pela brisa amarga do oceano.

De manhã


De manhã faz frio,
estou acostumado,
dormindo aqui, acolá, 
olhando,
cravando os dentes,
perdido,
desesperado,
no chão, na cama,
as aves cantam
e os vestidos
são brancos.
Logo viajo,
quem sabe,
para o meu novo mar,
para beijar-te o rosto.
Não posso esquecer suas mãos, nem o sal, nem a luz, nem a terra, nem o poente, nem o sol que some, que aparece.
É tão bom morrer e seguir vivendo.
E quando amanhece nesse azul esplendido, sei que sou mais celeste, e me terrifico, e de noite, quando já não durmo, adormeces, e te conto os sonhos que a brevidade dos teus olhos sonharão por inteiro.

Chão


Chão, moreno e liso
estão cantando as oliveiras,
e as populações, chinesas, 
todos, o oceano, chão,
quer te tocar, como uvas
submergidas, não sei quando,

como ondas sem limites,
como vento, como neve,
chão, moreno e liso.

E vejo em ti, chão,
transparente, a medusa,
a cola, a morte que ronda
o mar com foices, chão,
meu belo, meu belo chão,
meu amigo, descalço ou com
sapatos sujos, rostos,
como as baratas,
como as lombrigas,
chão, tu, somente você,
sim, você morre
como o mar,
e beija as espigas.
Chão severo!
Onde coloco minhas
mãos de labirintos?
Eu, como uma aranha,
só sei tecer versos,

Que olhos tens,
com sua bandeira,
com o seu dia,
com sua raiz, com seu muro,
com o seu beijo, com o seu pranto,
com o seu fugitivo,
com sua ganancia,
com sua uva que é uma mulher
deitada em ti comigo, como, estupendo objeto do grafito,
como, escória maravilhosa,
chão, moreno, belo, lindo.

Como se move em ti,
chão, essa cidade,
esse rio, aquela pedra,
o oceano, eu poderia
cantar Adamantina, Lucélia, Inúbia Paulista,
eu poderia sim, abrir em ti, chão, esse asfalto, e celebrar as pedras redondas que choram pelo Cristo, ou quem sabe, com dedos de mel, compor o bosque de novo na folha, e descongelar os peixes, e ver que em ti está o granito,
o diamante, assim como está a terra amarela, vermelha, a cor negra do chorume, chão amigo.

Bravo,
chão
amigo.
Te toco como uma abelha brava, e no pão do seu trigo me movo como um murro, e construo a ti minha casa, e me cerco de tijolos e pedras, letra sem horas, caminho por caminho, tronco por tronco, te vejo, chão amigo, a amar meus pés, a beijar os pés de todos, folha por folha, movendo as raízes, beijando-as, cercando-as, suavíssimo, elegante, uma só lição nos dá, porque és humilde e simples, chão, moreno, liso.

Do mar as baleias


Não estão as baleias longe de mim, porque fiquei deserto e largo como o dia,
e estive esperando como as estações o tempo, e quando chegaram para me beijar como um barco, virei trem em movimento.

Baleias, onde vão a essa hora do dia, se serão afogados os marinheiros, nessas gotas que pingam da chuva, e talvez o mar ensine a todos que a natureza sempre vence.

Ai, não posso esquecer baleias minhas, suas vozes de areia,
ai, que não volto como um pássaro na janela,
nem canto as substancias da vida.

Porque em cada minuto, minhas amigas marinhas, eu as vejo longe, eu, que cruzo os mapas sentado na terra, perguntando: seguirão as baleias vivendo quando as estão caçando?

Por ti eu fico


Se existe algo que
posso deixar aos meus filhos
é o meu carinho e o meu suor.
Se morro, quando for inverno,
na tarde triste e fria,
a liberdade voltara
e me tornará vivo
como um verme,
e a chuva irá cair, como caiu ontem
Eu fico,
para que seu rosto me veja,
e voltemos a nascer
como a lua, como o sol,
nas recordações estarei, nos meus livros, nos meus poemas, na minha alma, na minha
tumba, ainda que seja borrado
o meu nome no bosque do
tempo, nunca desaparecerei,
porque eu serei,
e juntos nós dois seremos.

Bom-dia


Bom-dia,
e começo o meu verso.
E não começo.
Para que ninguém
os leia.
Para que os entenda
todos.
E por fim,
vou sangrar com ele
na arena que o lancei.
Obrigado.

Desvanecimento


Vou ama-la, por todos os tempos para te amar como um só sol. Não querem mira-la? deixem-me amá-la só, e por todos os anos.
Mas que ninguém se interponha,
porque vou amá-la por amar os que não te quiseram, 
porque eu te quis, como me
quiseste..

Por te amar


Te amo,
desde o fim,
aqui, 
no meio,
no erro,
na memória,
na solidão,
sem poder,
adormecido,
sem palavras,
te amo sim,
ainda,
sem saber,
cosmico,
te amo,
por pesar,
por saber tudo,
por saber nada,
por te amar
te amo,
só isso
mais nada.

Desamor


Amor, quando disserem pra ti,
com vozes de maldade,
que já não sou e já não sejas, 
não fui eu quem disse,
quando eu quiser dizer,
não creias.

A mim me pertence a hora


Meu covarde, meu amigo,
meus ramos, minhas tralhas,
meus suspiros, meus desejos,
meus olhos mortos de baleia,
minha colher, minha cenoura,
minha balada, minha batata,
meu dente, meu pobre pé,
meu trabalho, meu suor,
meu amor de tantos dias,
minha morte de tantos anos,
meus olhos devorados pelo sono,
meu caminho de lugar nenhum,
meu carro, meu cimento,
minha casa na areia,
minha casa sem firmamento,
minha bebida, meu cachimbo,
meu sapato, meu cabelo crespo,
meu nariz adunco, minha voz nasal,
meu suspiro de vagabundo,
minha canção de cigarra,
minha lanterna de lombriga,
meu arcanjo de rosas murchas.

Uma bacia na casa


A terra, seja como se vivêssemos, em mim, em ti, no fogo, na água.
Abrindo o céu escuro, as nuvens brancas,
uma porta infinita, onde o passado dorme e o sol descansa.
Nas janelas abertas entra um rio que não pode cantar, suspira uma pedra que não pode sonhar, a humanidade impregnada de maldade toca flauta, o vapor do outono celebra os trens e as estatuas são apenas objetos para se jogar para os gafanhotos.
Ainda assim cantamos, até vermos sangrar de folhas a primavera, até ver do chão saltar a espiga, que não se emociona, nem chora pelos mortos.

A cada manhã


A cada manhã me nasce
um novo verso,
em cada manhã,
só posso oferecer
felizmente, infelizmente,
o mesmo verso de
sempre para todos
e para ninguém.
Por isso não espere
muito dos meus poemas
que sempre falam das
mesmas coisas,
do mesmo mar,
da mesma colher,
do mesmo legume,
da mesma mulher,
do mesmo sol
e da mesma brisa
que colhe a espiga,
fere a árvore,
lança as folhas
ao chão com revolta.
É um dom, uma maldição,
é um segredo intimo
entre o coração e as trevas,
entre a luz e a escuridão,
quando nasce o poema
gemendo e gritando,
querendo ser asa e querendo
ser pedra e a fundar no rio,
e beijar a boca,
e sentir o gosto do pêssego,
e o sabor das amoras.

Circunstâncias do amor


Pelo mar triste me aproximo,
e dentro do fogo há um rio no seu rosto,
nas suas mechas de rubras colinas.
De pão e areia és feita,
e seus lábios dentro de mim
acendem o graveto e o violino.
Por isso quando durmo acordado,
dentro do meu coração sombrio,
ali te faço, como uma maça,
para que tua boca me devore,
e para que o meu sangue
seja o mel e o vinho do amor.
Tu e eu somos
como o mar
com seus peixes,
somos como a terra e seus frutos,
labaredas de fogo,
cerejeira,
amoreira,
mangueira,
é o mar terrestre
que nos enche
e que nos puxa,
e que nos
une.

Bosque

Para o bosque, existe apenas um único conselho, que não nos disse:
Digas o que sentes, rápido, antes que o silêncio da morte te corte as folhas.

Quero apenas te amar

Ainda não estou preparado para ser e só quero te amar... 
Ainda não sei se posso tocá-la,
 mesmo longe, quando falas, 
não, eu quero apenas tê-la em meus braços, 
e no fogo do amor, quero apenas te amar.

Alma

É nesse século que eu quis nascer, entre o crepúsculo e a verdade. 
E me encolhi entre o mar e o sol sem febre.

Acordado


Estou acordado.
Entre o sonho e a realidade.
Tenho sono.
Por que fui medir
com as gaivotas
meu desesperto de terra,
se foi o mar que me
ensinou a tombar
com o jardim?

Por assim dizendo fui vendo


Por assim dizendo fui vendo as coisas e fui sabendo mais com os dicionários do que com os professores e me medi com as montanhas e afrontei as casas e quis ser baleia e relâmpago e nadei a beira do caminho como um caranguejo e emudeci e gritei para a tempestade para que não molhasse os jornais nem deixasse o chão da sala molhado porque as visitas iriam embora e o mar roncador iria apenas destruir as casas dos ricos que ali estavam apossados como mamíferos sem tetas e eu dei risada por saber que aquelas coisas não podiam ser outra coisa a não ser shakespeare ariano suassuna ou quem sabe camões dando a nos conhecer os efeitos divinos como uma mesa ou uma cadeira enquanto colhíamos rosas no chão sabíamos que os espinhos que nos cortavam podia ser xícara e até mesmo bule.

Separamos

para giuseppe ungaretti
Separamos a noite
com a claridade óbvia do dia.
O sol é um ponteiro
e a lua aponta para o mar.
Que solidão de ser astro,
que solidão de ser areia,
que solidão de ser apenas
uma pedra no meio da
rua.
Desfrutando as frutinhas
no caminho, a Luz solar
vai queimando o boné,
e no meio do calor as
folhas das árvores dançam
com as vassouras.
É tudo um ato clássico e divino
feito para esconder algo claro,
que não pode ser visto
no espelho dos banheiros.

Aquele que ainda não trouxe não chegou


Aquele que ainda não trouxe,
não tem problema, aquele que
não sentou junto do mar,
aquele que nem sequer
notou que a árvore foi derrubada
pela tempestade.
Mesmo que tenha cinco metros
de carência, ou um desejo de leopardo,
que mostre os dentes como os canários,
ou toque harpa como o sol
para iluminar o chão gripado.
Não iremos colher dos bosques
as espigas, as maças não estão aqui.
Por favor, o dia dentro de mim se
faz largo porque aquele que ainda
não chegou não trouxe o pão,nem o peixe,
nem o café, nem o sonho, nem o paraíso.
E ficamos tu e eu esperando
o arco-íris do amor atravessar o coração.
E os peixes de gravata simplesmente
riram das perigosas gaivotas.

No fundo dos seus olhos


A noite cresceu
tão profunda no fundo
dos seus olhos
de arcanja.
E que noite triste,
e que noite bela,
noite, noite feita
de foices e martelos,
uma noite que salta
como um camelo,
uma noite deserta
cheia, multidão carente,
indo, voltando, gritando,
chorando, e mesmo assim
só os seus olhos eram
brilhantes, porque eram
estrelas caídas como
flechas na terra postas
por Deus para me iluminar.
Duvidas?

Explica-me


Explica-me: por que sou mar?
Não tenho dom de adivinho,
não mágico, nem sou obtuso.
Qualquer explicação que seja.
Por que sou mar se me prenderam
na terra?

Ode ao pão


Comemos o pão.
O pão de cada dia.
O nosso pão. 
O mesmo pão.
O trigo, a farinha.
O melhor do pão.
O pão. O pão.
O próprio pão quente,
saltado do fundo da
terra.

Versos sentado


Onde estava a lua
com o seu branco serafinico
espantando as vespas
na noite escura?
Ao invés de vespas
temos gotas de chuvas,
risadas, converseiras,
carros indo e vindo,
e cerveja brisando
nossa cabeça de
espantalhos mortos.
A noite escura é um
véu calcário para os meus olhos,
sinistro é ver
que entre o
nada e o tudo
existe um muro,
uma loja de carros,
uma igreja,
cadeiras,
e a água correndo
para cair no bueiro
sujo e úmido.
Dai-me uma explicação,
qualquer que seja,
que seja um tigre,
uma raposa, um tatu,
dai-me qualquer coisa
que explique esse
barulho, esse silencio.
Se não tiver nada,
não fiquem bravo comigo,
sou a única pessoa de verdade
a por essa cidade no mapa.
E para quê? Para que haja
apenas a saudade, e o presente.

sábado, 1 de setembro de 2018

Para que você me ame


Para que 
você me
ame
como
nunca
para
que
sejamos
um só
corpo.

Amar



Amar o
amor
como
  se
amasse
ou
não
    as duas
coisas
que
uma
   só
são!

Moshe


Vejo Moisés
Como se fosse
Sigmund Freud.

Dilema

escrever. escreviver. o que é isso? não sei. pausa, vírgula, pontos, por favor, estou lendo joyce e estou ficando um pouco rancoroso com guimarães roça, ele é muito rosa pro meu gosto, haha, querem que eu escrevo normal. bom, a faculdade daqui só tem genios, por isso a cidade não prospera nunca, haha. piadinha do dia: uma formiga viu outra no espelho e descobriu que era ela haha, péssimo jornalismo mundo péssimo, se Deus fuma cachimbo acho que não, mais se fumasse ele iria dizer: todo mundo experimenta o cachimbo da floresta.
to ouvindo roberto carlos, e daí não posso ser romantico, não não pode você tem que ser fonkeiro ou sertanejeiro ou gostar de assistir a hora do pesadelo. pesadelo são os buracos dessa cidade haha. parabéns prefeito, você é um sonho de valsa para nós (e quando digo nós quero dizer pra mim que sou o único cidadão de bem dessa sociedade estranha, porque sou judeu, e não goy).

quero escreviver. escreva. ué, do que você tá se queixando? deita no divã, tira a roupa, fica pelado e manda bala pra dentro e bala pra fora. vocês acham que isso é conotação sexual? vou dizer uma coisa: eu estive no barraco do apocalipse e descobri um  segredo: o mundo não presta. querem mais? comecem a ouvir joão gilberto, e a ler mais schopenhauer, é o único conselho que eu dou. Dar é coisa de gay. Porque eles tem dinheiro, pelo menos os que conseguem. Haha. Que mundo ridículo. Meu processo. Meu desprocesso. E agora, que que eu faço presidente? O país vai entrar em guerra.Se liberar as armas já sei como me proteger: vou contratar de aluguel a funda de davi. Haha. escrever. escreviver.

Carta



Uemba, uemba, não sei o que isso significa, só to afim de escrever alguma coisa. Como não vão me pagar, vou escrever mesmo assim, como to fudido fálido vou escrever mesmo assim, e alguém vai perguntar OQUEÉQUEESSEIMBECILNARIGUDOVAIESCREVERQUEJÁNÃOTENHAESCRITOANTES?
Sabem o que significa a palavra "uemba"? Não, não é uma palavra latim. Uemba significa troca de cartas. E nesses dias em que as missivas já não mais são mandadas, houve a troca de (dísparates cômicos) cartas pelo meio da mídia entre o homem da música que nunca morre, caetano veroso, e o vampiro da república. digo presidente da república, o meu xará, temer, xará porque meus ancestrais vieram da mesma região que ecce hommo veio. 
cae nosso caro cae comparou o bruxo nepotista a alguém de nome ciro. confesso que por ser um alienado de marca maior não sei nem quem é ciro nem quem é o presidente do senegal. mais tudo é importante para Deus, afinal, ele criou esse mundo em sete dias, depois descansou e nunca mais fez nada. Deixemos  as blasfemias cômicas de lado, e vamos voltar ao assunto.

caeTAno cai de pau em temer. temer rebate caetano. Michel era o nome de um músico famoso nos estados unidos da américa dos nortes, que cantava como um zumbi (se é que ele não era um). 

Gomes é nome de vendedor de balões ou doces. Temer tem mais cara de temeroso. Ainda acho graça da sabedoria do povo brasileiro em inventar a frase "quem não deve não temer!" 
Isso deixa Picasso Modigliano Jorge Amado no chinelo. 

Ai meu Deus, essas missivas de jornais dão ibope não dão? O que será que a globo vai falar no notíciario? Vamos imaginar. 
Em carta a Caetano Veloso, Temer rebate comparação com Ciro Gomes, depois engole um guaxinim e vende um pedaço do Amapá para a China, porque futuramente os chineses irão governar o mundo.

Sensacionalismo não, henry miller, pelo amor de Deus, já estamos cheios de sansação. 

Cae, nosso querido Veloso, chamou o caríssimo Temer de dissimulado. Confesso que estou sem  o Houaiss na mesa para explicar-vos como intelectual superior que sou diante de toda a nação, o que significa essa palavra. Acho que dissimulado quer dizer que ele quis dizer que Temer é um poeta que faz versinhos muito ruins, que fazem Ungaretti revirar no túmulo. 

Temer foi pelo menos civilizado, usou a palavra prezado. Nesses tempos tão estranhos, acho que nada deve ser prezado, a não ser a música de joão gilberto, que precisa de compreensão. 

Em tempos de cartas, os blogs são os navios. Mesmo assim fernando pessoa está tomando chá e acabou de comentar comigo: caetano mandou carta a temer? sim, pessoa, e você sabe todas as cartas de amor são rídiculas.   

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Particularmente seria um mal-estar tentar descrever a atual situação de catástrofe iminente que assola a humanidade contemporanea com palavras meigas, que cheguem a tocar os espíritos (ou pessoas) com almas boas, se é que possa existir nesse planeta decadente tais pessoas, onde pesa uma sociedade desumana e miserável, como a dessa humanidade, cega e irracional. 
Assim como a vontade que rege a existencia humana, pelo menos no meu ponto de vista, é cega e irracional, há um porém que me deixa com os cabelos eriçados, já que é a questão da razão que pulsa em seres como nós, os humanos, por assim dizer por falta de palavras melhores.
Ora, se essa Vontade com maiscula, conforme diria com toda certeza e absoluta razão Schopenhauer, é cega e irracional, também tem em si mesma a razão como fonte de base para a sustentação natural da vida, ou seja, na natureza não há nada irracional ou ilógico, nem racional nem lógico, e sim semplesmente tem o que deve ter por si mesma, ou existir porque existe. Não é difícil entender isso numa linguagem acessível, e nem é preciso explicar tais coisas com termos cultos ou diferenciados.

A indiferença da vida gera o o sofrimento do individuo? Ou o sofrimento é apenas em si mesmo, assim como a dor, um sinal de que o individuo, o ser, o objeto pensante, continua a viver. 
A dor e  o sofrimento seriam um sinal de vida. Curioso, já que fazemos de tudo para fugir do tédio, da solidão, e de qualquer coisa que possa machucar tanto o nosso corpo carnal, quanto o nosso interior (as dores do coração, da mente, etc). Fugir de qualquer dor é ter medo da dor. Ter medo da dor é ter medo da vida. Porque vida não está ligada somente a prazer, e sim ao sofrimento. Essa base se encontra, aqui no ocidente, muitas vezes interligadas com o cristianismo, embora de fato de um jeito incorreto e meio difícil de se apreender. As religiões orientais são fundamentadas nisso. Lembrando que o cristianismo nasce em uma região oriental, em comparação ao ocidente que o aceitou como oficialidade social. 
Seria então com base no pensamento limitado o sofrimento um acontecimento positivo? Seria a felicidade um suborno infeliz da vida que é negativo para o individuo, e que seu sentido é apenas uma ilusória condição ?
São questões muito boas de ficar pensando em algum dia quente de verão, ou no frio. Sempre gosto de lembrar o provérbio "o fim da alegria é o começo da tristeza", sempre acrescenntando o resumo do outro lado "o fim da tristeza é o começo da alegria". Posso estar enganado afinal. O fim da alegria pode ser alegria e o fim da tristeza mais tristeza, não tenho como saber disso, apenas medito com base nas leituras que já fiz e que ando fazendo. 

Oração

Pela graça suprema do Deus
que Escolheu Abraão:
dizemos: amém!

על ידי החסד העליון של אלוהים
אשר בחר אברהם:
אנו אומרים: אמן!

Высшей милостью Божией
который выбрал Авраама:
мы говорим: Аминь!

דורך די העכסט חן פון גאָט
וואס האָט אויסגעקליבן אברהם
מיר זאָגן: אמן!

Religioso

Nenhuma religião
que não seja apenas ammar.

Existir


-para philip roth

Em todos os sonhos
naufraguei como em
miragem, em sol,
poeira, e tive que
extorquir
meu coração amarelado,
que nunca parou
de doer
por causa das flechas.
Assim quis ensinar
as mariposas a serem vento,
mas não puderam
aprender por preguiça.
Antes coube a mim
gritar pelo calendário,
ouvir as lendas,
meditar e acreditar
que um dia se abrigarão
em meus frutos
a Esperança divina.

Aquieta-te


Por isso não fui
quando cheguei, nem
quis ir, nem entrar,
nem coloquei luz
de madrugada, nem sorri
para o vento, nem amei,
fui semente porque era Sábado,
quis crescer no domingo,
falhei por causa do oceano,
e na terra me deixaram, mudo.

Para contar o mar


Para contar o mar
volto a repeti-lo:
eis a espuma,
o sol refletido no
azul caído.
E regresso como antes,
ferido de espuma,
ferido, desferido.

Imensidão



Partiu a manhã
para longe de mim.
Minha cara Luz,
onde posso encontrar
as Trevas negras do
seu perfeito corpo?

O dia


(2018)

Porque o dia
morreu em mim
nasci como
uma onda
sem rumo
em direção a praia,
apenas para
retornar a mim
mesmo,
e voltar a
ser mar.

(AGOSTO)

Amor



Suas penas são como dois
relâmpagos que vejo passando
entre os livros e o silêncio,
carregando na miragem do
amor o sonho que deságua
muito além de qualquer campo,
percorrendo a poça pura e doce,
onde seu rosto é uma onda
e o amor a flecha que derrete
arcanjos, porque és a arcanja
mais linda a existir nessa terra
obscura de véus sem olhos,
e por dizer seu nome o mar se
arrepia, e por cantar como violino,
as areias das praias aplaudem,
porque és a moça que tens a
tocha intensa que colhe a espiga
e a maça como duas fortalezas
onde nossas bocas
se tornam apenas uma só.

O mar


Pois bem,
que o mar está
aqui, que passe,
sendo onda, espumas,
desafiando as rochas,
e as praias,
cuspindo ventos, sol
e conchas,
porque não és
outra coisa
a não ser o mar
que passa.

Seus cabelos


-para milena

Seus cabelos
são lindos,
encaracolados
como arco-íris.
Porque não há
dúvida na beleza
que és tu, morena meiga.

Criação



Minhas mãos
doem
como as do
sapateiro,
do pedreiro,
como as mãos
de qualquer artesão.

Inspiração



E não existe nada,
só a porta e os livros,
e as estantes.
Do outro lado dos muros,
o miado dos gatos,
os sonhos que são
apenas sonhos.
                           Adamantina,2018

Chegada




Para onde foi o frio, a chuva,
 a noite e as árvores?
 Em que rio adormeceram
 olhando o mar com tristes olhos
 as gaivotas.
Faz calor, o vento chora folhas,
o amor vaga em algum bosque
e as perguntas continuam
     como sempre foram.

Um momento



Oh claro sentimento de sentir
a solidão e a dor e 
acordar na chuva ou no
calor, adormecido no inverno.
Assim sou e fui e vou,
para onde, se não tenho casa?

Se o dia me querer e me
colher como aurora, então
serei noite, bosque, vômito.

Mesmo que o jardim se canse
dos frutos e a areia adormeça.
Terei partido para a morte,
mais ainda assim serei
vida.