Não foi na terra que nasceu tua poesia —
foi no convés,
na boca salgada do mar,
no estômago virado de tempestades!
Martinson!
Marinheiro-poeta,
sueco de punhos duros e olhos de cosmos,
tu sabias:
a gota de orvalho é um planeta,
o planeta é apenas
uma lágrima suspensa no espaço.
Eleito entre juízes de fardão,
sentado na Academia sueca,
mas debaixo da casaca
ainda o mesmo marinheiro
com cicatrizes de corda,
com a garganta rouca de vento nórdico.
Nobel?
Nobel é só um selo na carta,
mas tua palavra —
ah, tua palavra! —
furou o casco da eternidade,
entrou como arpão
no flanco da baleia cósmica!
E quando chamaram de “escândalo”,
quando disseram “vergonha” —
riram de ti?
Não!
riram do espelho,
que nunca refletirá a coragem
de um poeta que veio do mar.
Martinson!
Tu não escreveste versos,
tu içaste velas de fogo,
tu cuspiste sal no rosto do vazio,
tu cantaste:
“sou homem, sou marinheiro,
sou estrela que se debruça
sobre a gota d’água.”
E hoje, lembramos:
não morreu em 78 —
apenas voltou
à primeira onda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário