sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Em memória do sueco Martinson, o marinheiro poeta valente



Não foi na terra que nasceu tua poesia —

foi no convés,

na boca salgada do mar,

no estômago virado de tempestades!


Martinson!

Marinheiro-poeta,

sueco de punhos duros e olhos de cosmos,

tu sabias:

a gota de orvalho é um planeta,

o planeta é apenas

uma lágrima suspensa no espaço.


Eleito entre juízes de fardão,

sentado na Academia sueca,

mas debaixo da casaca

ainda o mesmo marinheiro

com cicatrizes de corda,

com a garganta rouca de vento nórdico.


Nobel?

Nobel é só um selo na carta,

mas tua palavra —

ah, tua palavra! —

furou o casco da eternidade,

entrou como arpão

no flanco da baleia cósmica!


E quando chamaram de “escândalo”,

quando disseram “vergonha” —

riram de ti?

Não!

riram do espelho,

que nunca refletirá a coragem

de um poeta que veio do mar.


Martinson!

Tu não escreveste versos,

tu içaste velas de fogo,

tu cuspiste sal no rosto do vazio,

tu cantaste:

“sou homem, sou marinheiro,

sou estrela que se debruça

sobre a gota d’água.”


E hoje, lembramos:

não morreu em 78 —

apenas voltou

à primeira onda.



Nenhum comentário:

Postar um comentário