quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Elegia para Adamantina


Adamantina, a ilha minha,
não sei de onde chegou,
de onde veio,
se do café, se do leite das vacas,
não sei se o orvalho do campo
quis que fosse minha ilha,
minha quente ilha,
cheia de carros, carros
que não sabem se vão
ou se voltam, igrejas,
sim, muitas, e bares,
conveniências, e um enorme
buraco no meio, com postos de gasolina,
com pessoas indo e voltando,
para suas casas que me lembram
tumbinhas enfeitadas,
ai, Adamantina, linda, bela, feia,
que cidade estranha, que cidade
curvada, onde, quem colocou
as silhuetas da suas casas?
quem te pos na mão desses
homens que não sabem se
sobem ou se descem?
és por acaso um caldeirão?
Cidade minha, luminosa e triste,
cheia de escuridão por dentro,
névoa, névoa controladora,
só há mercados para trabalhar
em ti? não há outra coisa a não
ser trabalho? somos todos teus
filhos criados para sermos escravos?
que estranho, és bela, minha donzela,
minha cidade, minha bela cidade
ali estão construindo casas, vejo pela
janela, já destruíram o riozinho que
passava no fundo?
e agora, os carvalhos vão ser plantados onde?
onde vão colher o café?
o gado eu sei que será morto em algum lugar
bem longe da vista dos religiosos,
você é imensa, você é bela, você é tediosa.
Como te amo, cidade luz, altaneira sem bandeiras.
Te amo, assim como amo de Cristo a Luz.

Questionário


Para onde vou?
Não é dia de morrer,
é dia de nascer,
dia de cantar.
Por isso leio Maiakóvsky,
por isso estou segurando
as lágrimas vivas de Rimbaud.
Por isso todos os poetas
me dão conselho quando escrevo:
Góngora, e sua sábia e difícil virtude,
Neruda, com o seu mar feito de espuma e comunismo,
encontro no caminho as rosas de Gabriela Mistral,
apanho os espinhos de Adélia Prado,
e por todos os muros brasileiros
há um sol vago que lembra Drummond,
mais eu insisto em gostar mais de João Cabral.
Vou vagando por folhas e vejo Marly de Oliveira,
e ali estou conversando com Mallarmé,
suando com Kafka e acordo como uma barata
recitando os salmos de Davi de trás para frente,
meus companheiros, escritores machucados,
esquecidos pelos tempos, nas velhas livrarias
que não são suas, queimados nas estantes,
envelhecidos pelas aranhas que tecem
suas teias para vender aos sábios chineses.
E ali, no meio de tudo, estou eu, tecendo
o que posso tecer, minha pedra, minha madeira,
meu pobre poema, pequeno e grosseiro,
meu único poema, meu filho sem nome.

Esquecimento


Esqueci que em nenhum dia eu estive
porque não pude passear pelo
jardim da tua boca.

Te amo e te amo sempre


Te amo, minha amante,
e esse é o começo da
minha tristeza de violão:
te amo, amada minha,
te amo, meu amado pulmão,
te amo, serafins fêmeas,
te amo e te amo meu pequeno
pedaço caído de pão.
Te amo, e te amo, ossos,
te amo, minhas mãos bravias,
meu suor, te amo meus cabelos,
te amo, mulher sem nome,
te amo, meu amigo que esqueci,
te amo, te amo, amada dos dias longos,
te amo como nunca amei ninguém,
te amo como se eu fosse chegar
ao fim, te amo para saber se existis,
te amo, para desfrutar o ego do coração,
te amo, minha amante,
te amo, minha viola, meu violino,
te amo mar, te amo arpão,
te amo, amada minha,
te amo, meu amado pulmão.

Vento, velho vento


Vento, velho vento,
companheiro meu,
companheiro de Rimbaud,
velho companheiro,
companheiro dos copos
e das taças, companheiro
dos dinheiros, companheiro
dos viajantes sem pátria,
companheiro dos nômades,
companheiro, e companheiro
dos aleijados, dos mortos,
companheiro daquele que
se banha na água do mar,
companheiro daquele que
lê com dificuldade Góngora,
daquele que declama de decor
como eu
os maravilhosos versos de
Quevedo,
vento, velho vento,
sem rumo, sem pátria,
dono do seu próprio
nariz, sem rosto, sem livros,
vento, seu carimbo é o seu toque,
vento, pobre e rico, ao mesmo
és nada, meu querido, meu caríssivo
vento.

Quando eu vi


Vi Guarulhos,
e fazia frio.
Foi no ano dois mil e dezessete.
Ah, como era linda,
lindo as luzes dessa cidade,
pareciam me convidar a ser tigre,
a ser leão,
cada buraco, cada favela,
cada igreja, não vi tantas,
Guarulhos é uma cidade
que cabe dentro do meu coração,
uma cidade que tem um arco,
e tem um rio que segue para
algum lugar, acho que para o mar,
Guarulhos me pareceu um pouco
fria por causa do tempo,
da janela eu via os aviões,
e o frio nos meus olhos me dava
a saudade de algo que não posso
não consigo contar, não sei de saudade de Deus,
ou da minha casa, não sei se saudade da morte,
ou da vida, porque tudo isso estava em Guarulhos,
Guarulhos parecia suportar qualquer coisa,
as pessoas saqueando as lojas, as autoridades
sem saberem distinguir um tecido árabe,
os jovens sem rumo fundo seus cachimbo,
eu não encontrei a paz, nem o céu,
não há porque encontrar essas coisas
nesse mundo decaído e víl,
mais eu te encontrei, Guarulhos,
e te amei, pra sempre.

Posso


Posso voltar ao porto?
Vão deixar eu carregar
meus trapos, meus livros.
Não, não queimem meus
jornais, não sejam imaturos,
não se vendam, não,
nada se vende, esse mundo
é apenas uma brincadeira,
veja as formigas,
enquanto trabalham
as mariposas voam.
Porque tudo isso termina
com um assopro.
Posso voltar ao porto?

Por fim


Por fim ficará o poema.
     E na lapide irão depositar
flores.

Pra você que esqueceu meu nome


Pra
você que esqueceu
meu nome.
Um dia me chamei
Marfim, outro dia
me chamei Elegante,
dia sim dia não
era Sujo, era Limpo,
era Perfumoso,
era Ode, era Sabão.
Ai, quantos nomes
tive, nomes de
Serafins, Querubins,
nomes como Broto,
Fruto, Alface,
nomes que você esqueceu.
Não importa.
Não esqueça que ainda te amo.

Aqui está a terra


Aqui está a terra,
e vou contá-la
aos poucos e aos muitos,
começo com o vulcão
adormecido no teu peito gigante,
glacial, porque não fere,
aqui está a terra,
adormecida e forte.
A terra é minha vida,
cheia de plantas,
insetos, flores sem nome.
Esquecida, porque ninguém
traduziu a linguagem da
natureza.
Amadureceu na terra
a raiz, a suprema raiz
de todas as árvores,
e queimaram-nas os lenhadores,
e fizeram casas,
fundaram-nas na terra,
no alicerce terrestre,
e ali no seu gemido,
ó terra, imensa e fria,
vimos o sangue e o vinho.
Aqui está a terra,
e tudo passa por ela.
Tudo para ela é vida
tudo para ela é morte.
Ela não agradece
porque não está contente,
nem descontente.
Apenas está como está:
terra bruta, terra santa,
terra imóvel.

Morada marinha


Morar no mar,
por que não?
por quê sim?
Quem me garante
que na sua fuligem
o mar, esse transparente
céu azul caído
não me traga algo
que possa me mover
como gafanhoto aquático
até seu fim, porque sei
que ele, esse ser de água,
esse monstro sem braços,
é cheio de infinitos abismos.
Mar, meu belo mar,
meu horroroso mar,
pavoroso, não te quero,
e como te quero,
mar de tripas salgadas,
mar feito de ventos, de colinas,
mar onde se afunda a baleia,
e o navio encalhado dorme
tranquilo no porto,
porque és o porto,
e não és nada além de
onda e espuma.
Morar no mar,
não no mar, naquele mar,
aquele verde, aquele roxo,
aquele mar, roto como um sino,
vermelho como o sangue de um touro,
morar no mar,
envelhecer no mar
como um aquático poeta,
morrer sem respirar,
e ter uma casa cheia de caracóis
e um jardim de algas brilhantes
onde pequenos peixes-palhaços
contam histórias adormecidas
sobre o profundo mar,
o belo mar, o mar horroroso.

Ousadia


para garcia lorca

Nada melhor para Alma
do que um bom Banho
de um Puro Nada.

O que mais dói


O que mais dói para um filho
é ver as lágrimas de cristais
de sua mãe caindo para o
poço do chão.

Vazio


Nada mais
Que um
Coração partido
Para desafiar
O amor
A lua
E o destino

Soberbo


Às vezes perco a vontade do poema...
E me lembro felizmente
que eu sou a poesia extrema...

Calendário




quarta-feira, 29 de agosto de 2018

O mar é ali


(Itanhaém)
Participei do mar um pouco
por curiosidade de sal e água.
E na onda marinha morria,
depois renascia, e ardia.
O sol parecia beijar o mar
com tochas flamejantes,
e meu corpo tombava no
galope da água.
E o mar ria,
se despedindo dos banhistas.

Não sei


Eu não sei o seu nome
mulher colina de gelo,
nem o mar, nem as folhas.
Só a fruta da sua boca
aprimorou a luz solar da
primavera.

Vou nascendo


Vou nascendo aqui,
e crescendo como um
tubarão, 
mariposa,
baleia,
chego até teus olhos
e me despeço.
Chegou a hora
de ser pó, madrugada,
areia.
Agora que sei seu nome,
te amo de dia a dia,
de noite em noites
te chamo,
para partir
e para chegar.
Para me amar,
me odiando,
para me odiar
me amando.

Querem


Querem que eu
Explique meu poema.
Que coisa patética.
Poema é silêncio
E barulho de cinema.

Dia


Com quantas manhãs irei fazer um dia?
E quando eu passeio pela memória
cantando aqueles beijos, sendo mel, elefante,
porque não irei recordar a laranja da suas nádegas?
Não posso cantar a nudez como Boccaccio?
Ai, quando eu caminho preciso olhar,
olhar as coisas, porque sou o cronista de tudo:
da miséria, da riqueza insuportável dos condomínios fechados,
dos super-mercados, das sacolas, preciso cantar.
Ali esta ela, ali esta ele, a ninfa do rio, sentada
as margens das folhas, o centauro negro feito de marfim,
o unicórnio cavalgando até o bosque, as abelhas,
as lésbicas que estão juntas como sabão,
os jovens homossexuais que comem carvão,
os bosques, meus bosques destruídos pelos
industriais para fazerem casas de aluguel para alugarem
ao pobre, ao oprimido e ao aflito.
E vou andando como quem carrega uma cruz,
ou quem sabe uma lua que me tinge os olhos
de turva sangrenta de uva, ou um licor de melancolia
que faz bem para o meu coração ensolarado.
Mesmo que você não fale um a, e nem queira me entender,
eu te entendo, assim como as nuvens, como as plantas,
sei o que o touro passa preso, e porque os bois querem
vender para mim sua carne no matadouro longe da cidade.
Noite e dia são sempre a mesma farinha, sempre
o mesmo outono, o mesmo verão, e começamos
sempre a cantar as mesmas coisas que nos alegram.
Eu já declarei Whitman meu mestre, e Neruda,
e Lorca, e João Cabral, e todos os outros poetas,
Marly de Oliveira, Olga Savary, Marianne Moore,
não posso, tenho que admirá-los para formar o dia,
o dia que nasce dentro do poço e dentro da água,
porque esse dia é o dia menos, o dia que se forma
como um relâmpago, o dia que se vai para anoitecer
como se a chuva da vida determinasse nossas ações.

Teu silêncio


Teu silêncio
como a aurora.
Posso suportar.
Até quando?
A terra se desmancha
em teu silencio de amora.
Teu silencio, amada,
teu silencio de abelha,
silencio de onda.
Que silencio maravilhoso
esse em que não dizes nada.
Esse silencio em que lanças
tudo para baixo e deixas
o cabelo crescendo e sem
me amar e sem me querer
sem silencio frio martela
meus olhos.
E como amo teu silencio.

Ritmo


Mudo mais de ritmo
do que mudo de camiseta.
Aclaro meus passos com palavras,
e já me escreveram no meio dos poetas melancólicos.
Faço meu poema legível até para as mariposas
e me punem por ser místico como o mar sanguinário.
Elevo meu canto até o céu, e as costureiras
entendem a linha que ele forma,
a polícia me denúncia por ser imoral,
os políticos se vingam por não entenderem o lobo, o touro.
E enquanto canto, vou mudando como as estações,
como os anos, como os meses, e como os dias.

Extraordinário


-para marly de oliveira

Que extraordinário dia
feito de terra, feito de mar.
O mar, mesmo longe, afeta
a alma,
e a alma, esse cordão de madeira,
se põe a chorar.
Perdão, só posso cantar a terra,
só posso dizer que
é vermelha, e a areia
que está saindo da velha casa
sendo demolida
é o pó que irá cavalgar
até as mariposas.
O sol parece um ovo cru,
como sempre,
as galinhas estão comendo milho,
não há vento porque não há chuva.
Que extraordinário dia,
esse dia nosso, onde a taça de ferro,
o copo de vidro, o café com leite
e o pão nos saudá: bom dia, que seja mais um e que menos seja.

Ontem


Foi a noite ontem.
E que mais?
Foi as estrelas,
quentes,
o frio suave,
sua fotografia na mesa.
Por isso o dia se estende
como uma mão finita.
Por isso a noite é uma
cascavel pronta pra
enlutar a lua, essa noiva
abandonada no céu.

Lugar


Perdido como um canivete,
andando como uma barata tonta,
quantos carros, quantas linhas de telefone,
onde estão a alma e o amor?
em que rio ficou perdido a alma da infância
para que eu me lembrasse
dela com tanto colírio.
E lá vem mais chuva, e mais calor,
é uma panela, uma tocha,
um vento repentino e gelado
que fecha os olhos com suavidade.
Não tem lugar nenhum onde queira
se estar só, a não ser com a sabedoria
da alma hindu.

mulher


terça-feira, 28 de agosto de 2018

A nudez

E ela se ofendeu com um
grito de gato, e me senti
triste, e me senti sujo como
a terra, a lama molhada
pela chuva, eu, sem roupa,
nu, como meu pai Adão,
queria lhe mostrar a cobra
a serpente que cospe branca
o líquido do prazer,
e ela não sei se gritou,
perdeu meu corpo,
peço desculpas por tal,
peço desculpas por ser
calcar, rochoso e nu,
não tive a intenção 
de faltar com o respeito
diante da rainha das borboletas
amarelas do outono.

                                          27 de agosto de 2018






Sou


--Para Marianne Moore


Mau-humorado
que nem
um caranguejo

Encontro com a Luz



Encontro a Luz
nos momentos de Infelicidade
porque tenho uma Lanterna.

Adolescente

Consigo escrever em qualquer lugar, em qualquer momento. Mais preciso de silêncio. Não consigo escrever com barulho. O barulho me inibe. E é um fato curioso isso, porque na escola, cercado de uma multidão, que mais parecia um bando de papagaios (com todo respeito a tais aves), eu conseguia me sentar, e com a caneta na mão e o caderno aberto,  escrever e escrever, como se fosse uma cachoeira de palavras, uma geleira em forma de dicionários, escrevendo versos e mais versos. Hoje não, infelizmente. Hoje preciso do mais absoluto silencio. Preciso ser o silêncio, carregar o silêncio, comer o silêncio. Não posso vendê-lo, não posso mercadeja-lo com ninguém. Ele precisa ser meu, egoisticamente, e isso, apenas para que o poema, essa força vital da literatura, brote. Sem silêncio não componho. Talvez se eu fosse surdo, iria escrever excelentes odes, magnificas elegias, vastos compêndios de sonatas. Só que a surdez nada tem que ver com o silêncio. O silêncio é o ato do só, do solitário. Não, o silêncio do poeta não é uma masturbação, não é um sentar-se em frente da tv e deixar ser levado como um imbecil por notícias de assassinatos inúteis, não. O silêncio que me refiro é o silêncio nascente da dor e da alegria. Preciso de silêncio. Porque ele vem com Luz e com Trevas.  

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Torre


Poste


Sensações


Em cada sensação do universo
estou
como um motor sentindo, sentindo,
rodando, rodando,
de sonhos, mágoas,
e lá vem o dia e lá vem a lua.
No final as sensações do mundo
são a morte e são a plenitude pura.

Assim


Assim que o dia
chegar
   meus olhos
te verão então

Sexo?

🤔Sexo? 
       Pra que, 
se a vida 
            me fode todo dia 😂😂😈😂😂

😀

Dueto


Veja
é a luz do céu que cai
de repente
sobre os meus olhos.

É noite.
Como eu poderia dizer
o céu tem pele negra,
e como brilham as estrelas
nesse negror ofuscante.
Veja
é o ocidente e o oriente
que se espelham.
É o céu.
É a morada de Deus,
ali em cima.
Quanta luz. E quantas trevas.


sábado, 25 de agosto de 2018

Caminho


Para um poeta solitário
um mundo inteiro de silêncio
é como uma flauta tocada
por serafins e flechas roucas.
Dentro do muro ou do abismo celeste
uma gargalhada rege esse mundo
como se uma espada agreste
fosse a ponta de um muro.
Passando por árvores e pássaros,
sabemos que as folhas do vento
quando caem em forma de lágrimas
tornam-se cimentos.
Por isso o final de tudo é a mesma coisa,
a cortina prata desse mundo se enrola
e tudo vira praia, mar, areia.

Nua


Espaço

AGOSTO DE 2018
(ADAMANTINA)

-para ícaro, meu amigo

Com a Sabedoria pode-se construir
imensos muros, enormes sinagogas,
belas catedrais.
Pode haver pancadas de ouro
na inteligência
ou chuva de marfim
na vigarice. No entanto
devemos sempre amar
como a fúria da natureza.
Eu escrevo por puro prazer,
pelo puro prazer de 
talhar a palavra na folha
como um lapidador de diamantes,
e depois descansar contente
com o vinagre do mar, com a
areia nos pés, suspirando
por arcanjas e serafinas.
É bom ir para o norte, para o sul,
escalar o leste com as mãos, 
ver o oeste com horizontes vermelhos.
Mesmo que esses caminhos
não nos leve a lugar nenhum, nos levem a nada,
mesmo que o oceano nos afogue,
mesmo que o sol, ícaro, queime sem dó
suas belas asas.


Divã completo do amor incompleto


-para neide, minha amiga


Foi no bosque, e faz muito tempo,

eu não tinha
naqueles dias esses olhos tristes de
molusco esfomeado,
nem minhas mãos eram foices
de borboletas amarelas.
Minha casa tinha um caminho e atrás
dela o fogo cristalino de um rio branquinho.
Eu sentia saudades dela, dias, anos, meses,
de vez olhando seu corpo nu, espiando
a janela entre o sol e o vento, via o
corpo perfeito de japonesa, como um
girassol brilhante, e meus olhos sabiam
que contemplavam uma estrela na terra.
Mas ela não sabia o meu nome, porquê
era um enigma, nem a chuva aconselhava
o amor, nem a felicidade repartia
com os serafins o mel, nem a tristeza
arrancava do silêncio mechas vivas
do amor frondoso como a aurora.
E o bosque queimou as folhas, e o fogo
levou lentamente meus sonhos; 
    morri, revivendo; amei ela, sem ser correspondido.



Desprezo


Quanto mais me desprezam
mais entendo o carácter do coração
desses cristões de meia tigela.


p.s.: 
e ainda se acham seguidores de Jesus... vão tomar no olho do c... bando de selvagens !

Tudo


Tudo o que acontece
Com um poeta é motivo
Óbvio de poesia.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Lendo poemas imensos


Se uma linha pode conter, Amiga,
um só sossego de amor, no braço da minha caneta.

Lendo poemas curtos


Em um trecho vejo com
os meus ouvidos de toupeira
um imenso trem que se
locomove contra a chuva
e tomba em um muro
jorrando sangue dores
depois vem os arcanjos
levando nas mãos bucetas
cadentes e imensas estrofes
em forma de confusões
e por fim um imenso coleóptero
educativo que diz ser o verdadeiro
franz kafka.

O que importa


As vezes te esqueço...
  E a eternidade te recorda.

AMIZADE


Não é pouco
o assunto que
temos para gargalhar.
Quando a morte chegar
na tua porta
talvez tu
se lembres de
mim sorrindo.

Neruda


Ali esteve
o primeiro
marinheiro
segurando
nas mãos
a espiga
a maça,
observando
a lua com
um cachimbo
de amor na
boca.
Nenhuma
musa pôde
ficar de fora
de suas crônicas.
E quando morreu
não velaram:
acendeu ao céu
como um eterno
enamorado.

Ondas e ventos


Um lugar
onde os nossos
olhos se cruzem
sem rancor,
sem amizade,
que seja apenar
o amor amarelo
a nos cercar
com chamas
vermelhas
e águas
azuis.

Irapuru, meu amor



Do alto o vento leste
uma carícia de momento.
Irapuru meu amor.


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

(...)


Sophia de Mello Breyner Andresen


Marinheira de
palavra certa
arco da noite
alva sonata
barcarola indo
ritmando com o mar
salgado de águas...

Olga Savary


(amor)
Nenhuma canção
que não seja
água
terra
fonte de vida
disfarçada de
morte
montanha
estrelas vermelhas
e
frias.

Fernando Pessoa


(álvaro de campos)
Se o mar é uma sombra
Portugal é uma gota de chá.
Como dirão os antigos
a sabedoria dorme no
coração.
É sabia a vida,
é triste o destino.
Só o mar é profundo.
Só o mar
e algumas canções
esquecidas no baú.

Sair


Como amanheceu
sem sorriso
nessa canção
de aurora que se
esvai?
E como cantar
cada milagre
que acontece
sem sabermos, sem vermos?

São Paulo


(cidade)
Como dorme o seu
sonho, seja nas
árvores sem galhos,
na chuva fria sem água,
ou pode-se ver
as raízes dos prédios
que se vão fundas
como a morte
para os pneus dos
carros como invernos
cheios de dores cósmicas.

Felicidade


Básicamente
um amor
uma saúde
uma
linguagem secreta
onde dorme
as coisas que
são e que se vão
em pensamentos
felizes.

O rio


Para onde o rio
se move, com as
águas frias
e as folhas
caindo como
constelações
mornas.
Se move até a raiz
do mar, para se
tornar chuva,
névoa, lembrança,
café com leite...

Praia


Gaivotas
vão

voam
como
nuvens
espessas
que somem
a beira do mar.
Choram,
cantam,
gritam
e amam.
Serena é a dor do mar
e as gaivotas a entendem.

Do mar


-para olga savary

Essa concha, branca,
clara como a lua,
na praia, jogada.
A concha é uma canção
enevoada de dor...
Lá se vai o mar,
beijando a concha
como se beijasse
uma estrela...
Concha, marcada
pelo ritmo selvagem da
vida,
existência...

Noite com frio


Passa o vento
como um cristal
cortante.
A lua esbanja
seu brilho,
as estrelas
refletem as lágrimas
de vida que provém
de Deus.
A chuva cai,
lenta e morta,
o vento passa,
suave
como uma espada
incendiada
de escuridão,
trevas formosas.

Um verso


Para Pound

Um verso nasce d' lágrimas e sorrisos...

Vida


Além dos lírios
e dos vestidos 
tudo te ama e eu te ...amo...

Paixão


Quando ela me amou
e isso faz dias ou anos
nenhum desperdício 
significou um beijo
ardente dos lábios unidos.
Tu ardias e eu ardia
e com nosso arder fizemos
queimar as estrelas.
Fico no presente
te vendo de preto e rosa
e lembro do seu sorriso
rubro e intenso
Sol do amor que sempre brota.

Introdução ao silêncio qualquer


Qualquer coisa que seja
um adeus em meio da areia.
Dos dois lados uma montanha.
Esquecimento e insegurança.
Dizer adeus às nuvens é
apenas escavar raízes fundas.
Profundidade é o amor
que chega como o vento
Sussurrando.

Emotiva


Vendedora


A comerciante



quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O que é o amor?


o amor é o amor...
diria... os sábios..
e o sábio.. schopenhauer
diz que o amor é
apenas a vontade cega e irracional
que todos os seres têm
de se reproduzirem, dando assim
continuidade à vida e,
por conseguinte, ao sofrimento.
e o que é o amor?
o amor é o amor... simplesmente belo...

Caracterização schopenhauriana


o mundo fenomenal 
produto de uma cega
insaciável estranha
maligna vontade 
metafísica sem sentido.

Versos para Sniffy


Sniffy meu filho,
te pus ao mundo e tens
que saber já: irás morrer
como todo mundo.
Essa é a vontade
e a representação de
existirmos.
E lembre-se: leia muito
Schopenhauer para não
ser burro como a maioria.

Sua ausência, princesa

Quando o sol e sua luz
quente
corta os meus olhos
para não vê-la
branca

verde.
Um sonho de
amor
pulsa na dor.
E tudo se torna como és,
pureza de luz ausente.

Espatifado


É o seu reflexo
a beira do rio
do rio congelado
de versos frios.

Sim, o seu reflexo
brilhando como uma
estrela constelada
de castelos e sonhos.

Me fere, ó reflexo
de vidro, espelho repartido,
quebrado pelo amor do mar.

Inspiração



Há um outono
na janela entreaberta
dos teus olhos
cheios de luz e sono.
Há um verão
nas suas mãos
e duas laranjas
são
teus seios de luar.
Há um sim e um não
na buceta da 
inspiração.

Um amor




Que o amor que
nos une seja chama
que a canção
dos nossos beijos seja
eterna e permanente.

Que eu te queira
para sempre,
e que você me
queira como sempre
para sempre,
eternamente.

Dinâmico



Eis o corpo
daquela estrela
se movendo como um
peito grande
no cosmo negro.

Será essa a metáfora
perfeita descrevendo
o seu corpo
em cima do
meu?

                  (Amor meu).

Poetas


Há poetas que falam
de tudo.
E há outros que falam
de nada.

Os que de nada falam,
nada sabem, mais falam,
e os que de tudo falam,
seja automóveis carros enguiçados
enguias paralelas mortes rápidas
por fim também de nada
falam porém por tudo falam.

Ela


Onde descansar
onde já não estou,
nem vivo mais
respirando
o seu perfume de
marinheira morena.
sentindo as gotas
errantes dos seus beijos
de diamante,
cerejeira,
ó carpinteira,
arcanja, guerreira.

A princesa



Suas mãos carregam
a chama viva, ardente,
do amor, do amor cristalino
que tudo torna 
existente.

Suas mãos são as colinas,
ó pé de elfa, marinheira,
não fique ausente,
seu amor é consistente:

és princesa, companheira.

Canção para Minha Rainha


Luas meridionais
nas pontas dos seus
volumosos seios
de cristais incandescentes.

Posso chupá-la
a noite inteira
sem cansar a armadura
da minha língua.

Como é bom abraçar
suas nádegas de ninfa
e beijar seu cuzinho
de verdadeira rainha.

A amada primeva


Como esquecer o seu
nome
nas frias
noites dos
bosques
sem sonhos?

-Não posso esquecê-la.

És a estrela primeira,
a amada perfeita,
a verdadeira

sereia, companheira.

Caminhada



para sophia de mello breyner andressen 

Sou um poeta, e canto a
morte, e
nada que simbolize
a vida
tem a beleza que carregue
um só graveto
jogado
esquecido

                       nos bosques.

Safada


(interrogando-a)

Brilha na sua bucetinha
gozada
a luz da minha espada.
E você a quis
dominá-la
e mamá-la
com sua boquinha
quente
e apertada.
Seria o seu cuzinho
feminino
a porta vitoriosa
da minha gozada?

Canção erótica



(com o pau duro)

Brilham seus olhos
na escuridão plena
dos segredos intensos.
Amoroso, te ofereço
meu pau como
uma colher de
leite-condensado.
Você, chupa até
o talo de engasgá-lo
E pede o mel,
o leitinho branco,
porquê quer mamá-lo.

Estampa do amor




Arcanja nu, de 
calcinha rosada
e cintura de uva.

Da manhã, tingida
de lua, sua beleza
é um beijo vendido
por sua boca pura,
carnuda.

Arcanja nua,
ventos e chamas
na sua bucetinha

(como sua calcinha,
            rosa).

Aos peitos dela


Não me deixe aqui
no vento,
antes de apertar
com a língua
o biquinho duro
e excitado desses
grandes, imensos
peitos.

E depois de mamá-los
irei para a bucetinha
de cobre que tens.

Deixai-me chupá-la, vou chupá-los.

Cor de noite



Mama meu pau
e chupa até a
última gota da
minha gozada, amada.

Depois iremos a
brincadeira anal.
   Vou
  lamber seu cuzinho
até
     deixá-la excitada.


   então
plenamente
lumbrificada
      irei penetrá-la para
   a nossa
esperada
           gozada.