quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Olhos marinhos


~no mar
todas as coisas
são profundas:
as algas as conchas
os caracóizinhos.
~no movimento
das ondas o vento
se embala e o mar
(luz e fonte do sal)
sempre dança.

Tu és

Quantos sóis há nos teus olhos?
Queimando sua pele, enegrecendo
Sua beleza com o amor do meu
Coração cheio de judaísmo e cristianismo?
Onde repousa sua boca longe da minha?
Mariposa, mariposinha escura,
Onde voas sem janelas, sem vento,
Sem rosas rubras, metais, brisas?
A lua deixa clara em sua boca vermelha
De batom, enquanto eu e os caramujinhos
Recitamos velhas canções de Goethe
No orvalho da noite estrelada...
Ai, ela fere os meus olhos de um puro
Escuro luar, cheio de nuvens passando
Para embelezar o céu com a cor negra.
Muitos sóis femininos existem... Tu és uma delas!

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Despertando


Caracóizinhos
no teu sorriso.
Tão densa.
Tão negra
a nuvem que
chove.
Depois o navio
solta a fumaça
o peito cheio
de mariposas
dela me abrem
asas.
E o seu sorriso
cheio de caracóizinhos
marinho.

Sonhando com ela


Rios de cobre
cobrem os meus olhos
agitados.
Noites sem estrelas
não são claras.
São negras e densas.
As águas agitadas
ferem a máquina fotográfica
com violência.
Quanta espuma,
foge da guarda,
a noite é densa e negra.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Sim


כן
Para Sión nós vamos,
Ken,
Para Sión nós fomos,
Ken,
Nas margens do amor
Do Eterno, descansaremos,
Ken,
E em Sión viveremos,
Amén.

Toledo


para Yehudah Ha-Levi
Toledo,
e a fúria dos ventos.
E eu te leio.
Morrendo como
o mar em cada
dia, em cada onda.
Toledo,
e a fúria dos desejos.

A turca dos meus olhos


Com o teu brilho
serias rainha,
amada minha.
Com o teu brilho
de pêssego e o teu
perfume de farinha
serias princesa,
serias rainha
amada minha.
E em tua boca
eu descanaria
amada minha.
Pois serias princesa,
serias minha, rainha.

Gazel da Importância


Não é o tempo
que nos consome.
Não, não é a vida
que nos destrói.
Não, não são
as coisas tristes
que nos entristecem.
Nada disso faz sentido.
Todas essas coisas são
como vasos quebrados.
Não, não é o amor
que nos fere de morte.
Não é a paixão que
nos prende a terra.
Nem os sonhos valem
tanto quanto a realidade.
E para quê decifrar
os signos dos espelhos?
As fontes métricas dos
rios e das estrelas?
Alá sabe a resposta.
Mas nada disso importa.

Amarei


Amarei a coroa
da tua boca.
Amarei o teu seio
de carmim
e tuas nádegas de sereia.

Sua voz


Sua voz pode
ser um silêncio imenso
raios ou trovoadas
nas asas dos oceanos
cheios de
água.

No mar


Tudo sempre igual
no mar.
A mesma onda volta
a praia, igual ao mesmo
poeta a suspirar
o seu amor.
Quanta espuma,
sempre a mesma,
o mesmo vento,
o mesmo mar.
E no amor? -Que tormento.
Sempre alguém pra se amar.

Seus cabelos


Com o fio da morte
os seus cabelos acenderão
o céu.
Serás estrela
ou arderá como as
nuvens em águas
densas?
Com o fio da morte
seu rosto pálido
será luar.
E os seus cabelos negra
incendiarão o céu
de luz e paz.

Em cada verso


Em cada verso
um pedaço de mim
se perde como uma
peça de teatro
onde cada fala
se encaixa no amor
físico e duradouro,
sem lembranças
tristes, ou amargas.
Em cada verso
se desprende um pouco
o rio invisível da minha alma.

Visão do campo


Do outro lado de mim
está o campo.
Do outro lado...
Só há verde na
terra,
só há azul no
céu.
Do outro lado de mim
está o campo.
E o orvalho denso
descansa e canta.
Ai, campo de papel...

Granitos choram


Se eu morro,
granitos chovam
no velório.
Se me morro,
que o balcão fique
no depósito.
Meu coração está
no meu balcão, morte.
Se morro,
que granitos chovam
no velório.

Despedida


Fecho os olhos,
em cima do balcão
está o meu coração.
Do outro lado da rua
a menina me oferece flores.
O meu coração
é uma tangerina azul.
Se eu for embora
não deixe o meu coração
no chão.

KAWAII


Doce e pura uva
do vale amoroso,
da chama do amor.
Minha gatinha, minha amada,
minha pequenina,
minha bela flor.
Sorriso de duna,
seios de laranja,
perfume de cereja.
Ai, tangerina do meu amor!

-Silêncio


Natureza imóvel
cantando o seu
silêncio de verdes.
Rajadas de ventos
coroam a tempestade
com folhas selvagens
e pequenos insetos.
Um rio cobre o ruído
dos tigres, o som agudo
das agulhas do bico de
todos os pelicanos tímidos.
O amor se torna uma estrela,
o som inaudível de uma explosão.
Está tudo em silêncio
embora estejam gritando,
cantando, batendo as
colheres no chão.
Em silêncio se move o
amor
e também
a imaginação.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Para meus leitores italianos



-com amor e carinho-

Flores italianas, montes
da itália, de onde vejo
a ferida do gigante caindo
no meio do mapa?

Um país, como dizia
meu querido avô: esse aqui
é a bota de um grande homem
que andou pela europa.

É a bota de Deus,
eu diria, ou as botas
que judas perdeu.

Flores italianas, ruas,
vejo os passos de cada
coisa. Um som de música,
da itália. Onde fica?

Lírios


Lírios,
que lírios?
Os do trabalho,
os da alegria,
os da tristeza,
os da poesia?
Que lírios?
Brancos,
como os
olhos dela.
Lírios mortos
como a morte.
Lírios vivos
como as areias.
Lírios,
que lírios?

Coração


Coração,
há rochas nas colinas,
pequenas vibrações
do verde.
Ai, coração,
o céu é azul
e o vento invísivel.
Coração,
verde ferro raia
enquanto o sol
desfia e minha
canção interroga
a poesia.
Ai,ai,ai,ai, coração...

Exílio


Quantas pátrias
verei em lágrimas
dos teus belos olhos?

Verso qualquer


para elias canetti

Duende,
fórmula mágica da escrita.

Lua


Volta lua,
coração ferido te espera
bem no meio da rua.
Volta lua,
fonte prata,
embriagadora de poetas,
olhos postos nas janelas.
Traz ela para mim,
cobre ela de jasmins,
colore os olhos dela
como a rainha das elfas.
Volta lua,
beija o chão moreno e morto,
volta lua,
está sofrendo enquanto aprendo,
volta lua,
as estrelas estão chorando.
Volta ao coração ferido
que te espera
com beijos e sorrisos.

BEIJO


Açúcar-mascavo,
potes de colheres.
Rios suaves de
lábios, perfume doce.
Embriagadora colina.
Sol, fonte de luz,
lua, fonte de reflexo.
Ponte entre dois.
Conexão de vidro:
muralha da China.

Minha Herança Sefardim


Essa face intelectual,
um elefante judeu
olhando a lua embriagada,
um negro de porte guerreiro
um mouro filho de judia,
essa face intelectual,
caminhos, fontes, colinas.

Balada do vento sul


Vento,
quem está de luto
e não abre a porta
aos trovões que choram?
Vento,
onde levas tuas asas
de bosque, suas sementes
de barrentas frutas?
Vento,
quem galopa em teus
olhos cegos, em tua boca
carnal feita de nadas supremos?

Amor


Das coisas misteriosas
que a vida me deu a contemplar
seios de oceanos e beijos de mar
só pude me esquecer do sofrimento
o resto eu quis recordar porque vinha
de ti com tudo o que oferecias: o miado
das suas coxas cristalinas, o suspiro
do véu da tua boca de fermento,
os cabelos ondulados de ondas.
Ai, corpo de mulher, forma da vida.
Das coisas misteriosas
que a vida me deu a contemplar
não pude deixar de lembrar do amor
não pude deixar de te amar!

CHEGADA


Quando parti
dos teus olhos
me esquecendo
de viver os momentos
suas mãos levantaram
o ar da noite na minha
boca sem mel ou vida.
Potros e éguas relinchavam
enquanto o caminho das águas
aguardavam as camponesas.
Quando parti
teus olhos morenos
me seguiram por toda estrada.
Foi assim que descobri que cheguei.
Foi assim que descobri que chegavas.

DISTANTE


Está vendo
aquela colina de ferro?
De ouro maciço
são os seus dentes de flores.
Está vendo
aquela torre de ferro?
O verde do cosmo
empalidece o asfalto cinzento.
Está vendo
aquela estrela chorando?
São frutas tristes,
abandonadas no campo.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Do amor...


O amor se elevou
em mim...
Culpado, recuei.
Mas ele me disse:
eu morri por ti!
e por ti ressuscitei!
Tornei a fonte.
Amorosa vida.

Hino de Deus


Fonte de misericórdia,
Deus de amor
e de verdade plena.
Jesus, vida infinita,
carne e sangue
do meu poema.
Vida onde me
refugio de verdade.
Espírito Santo de Deus:
amor e verdade
                                        (Eternidade).

Balcão semíta


No meu balcão
meu coração semita
desenhado de oceaninhos
de cristal.
No meu balcão semita.
Ai, povo de Israel, ai!
Não está a venda
o meu coração
de papel e metal.
Atrás do balcão,
te amo, minha flor,
te todo o meu coração.

Oceanos


itanhaém

Oceanos de papéis
são.
Molhadas dunas de
areia da praia.
Suave flauta de sol.
Oceanos de papéis
são.
Ondas são plantas
molhadas.
O planeta é uma mancha
que sofre.
Quanta água!

Eis a terra


Eis a terra.
A terra pura.
E mais nada.
Só terra e silêncio.
Terra de vida plantada.
Terra de areia.
Eis a terra.
Morta. Cinzenta.

O sonho da vida


(donzela)
É lenta a voz da vida.
E só ouço os seus passos.
Viver é estar nas lidas
desses estranhos astros.
Escuto e penso, medito.
Recordo e durmo, sonho.
Viver é profundo e escuro
e é luz em que sempre acordo.
Donzela, ei de ouvir seus
passos enquanto viver.
Não há dúvidas que ao morrer
ainde escutarei você dizer:
eu ainda amo você!

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Lembrança de praia


Lembro do mar lento
queimando sua pele
com o sol ofuscante
no sal das ondas vibrantes.
Ergueu os olhos
quando me viu segurando
conchas nos cabelos
dos sonhos?
Que negrura vem
da noite certa quando
as portas se fecham
e a noite não há ruídos?
E o mar deve estar
agitado de gente
desde cedo...
Não sei de noite.

Minha pena


... a minha língua é a pena de um destro escritor... 
Salmos 45.1

Agora sonho com você
mar distante, vagas frias.
Enquanto cerco de intrigas
medito em silêncio sobre a bíblia.
Que quero mais se não
mergulhas em águas tão vorazes?
Me afogar no azeite sagrado.
Beijar o fogo divino de Deus.
Será mar, esse o meu fim?
Morrer soterrado por mil serafins?
Agora sonho com você!
Mar, quantas coisas existem.
Decifra-me, maré, o pêndulo terrestre.
Enquanto leio e medito em silêncio.

Entendimento


Por noites turvas e tristes
vaguei mirando o teu ser.
Completo livro perdido
entre a sombra de te querer...

Qual a razão de te querer tanto?
Quantas sombras quando sonho.
Para quê o teu corpo em palavras
se as rimas são falhas?
Mas há a graça de uma boca divina
que quando tudo torce retorna
o seu perfume de gazela iluminada.
E por ser cego te vejo perfeitamente
e por ser surdo ouço tua voz.
E por não te ter, sei que te tenho!

Valsa da água


Água,
água mansa,
suave e cristalina.
Canteio de flores,
morenas e transparente.
Fonte de vida.
Água,
água mansa e cristalina.

De Guarulhos


Guarulhos,
em teu frio
vivi na casa
dos meus tios,
respirando
o sossego da
névoa e da garoa
fria da serra que
se eleva do mar.
Não sei se vivi.
Mas voltei a sonhar.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Flutuando


Chorando flores


onde?


refletindo


Descendo


Descrevo-te,
crepuscúlo
amarelo do 
dia e da noite.
Mancha viva
das horas findas.
Vento suave do
sol de tartaruga.
Ó lentidão
dos alfaces.
Ó imensidão
dos vaga-lumes.

Balcão de manhã


Fomos feitos um
para o outro.
Coração de cobre
navalhas de oito.
E para que eu dormisse
bem morto e profundo
terias que ser sereia
e eu o mar.
Coração de cobre
navalhas de oito.

Se o amor


Se o amor te deixa
com essa poeira nos
olhos
o coração vê o verde
silvestre campo.
E te eleva.

Ventos


Ventos assopram
do sul...
Boca de morango...
Fermento do mar
enferrujado...
Chorando o
navio leva o
comércio nos olhos...
Para onde vento?
Para... Onde... Mar...?

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A italiana



Com os muros de fogo nos olhos azuis
minhas leitoras italianas, os muros da Itália,
azeite, água, algumas rochas mornas,
a italiana lembrança dos teus seios morenos.

Sedosa, a brisa marinha cobriu nosso olhos,
se não eram beijos eram nuvens,
se não eram casas, poderia ser
algo como a felicidade, ou talvez,
algo como a lembrança.

A italiana sabe muito bem disso,
por isso ergue bem os olhos e vê
as palavras que componho nos livros.
Só isso? Só isso!

Procura da pastorinha


Por onde andas,
formosa pastora?
Pelos campos de
Sevilha? Ou pelas
imensas ilhas?
Por onde andas,
com o cajado do
amor? Por onde
andas, amada minha?
Por onde andas,
meu amor?

domingo, 21 de janeiro de 2018

A VOZ DO CAMPO


A voz do campo,
ferida sentida,
encanta o rio,
águas da vida.
Ai, voz verde,
voz de nuvens brancas
e cinzentas como
a noite negra.
Sozinha, a voz do campo
colhe os nossos olhos,
bagos solitários,
vide da natureza.

Canção da italianinha



Linda italianinha, 
onde é a tessalônica? 

Ela me sorri enquanto
componho versos e sonhos.

Linda, linda italianinha,
você tem olhos azuis ou verdes?

Onde brotou o rio do seu peito?
Do mar ou da enchente?

Onde fica a tessalônica? 
Ó, linda italianinha, bela e quente.

Sol e lua estão nos seus peitinhos.
Lindos, dormentes.

Ai, esse amor


Ai, esse amor,
coração, esse amor
tão puro, incandescente.
Ai, esse amor,
de raízes raras,
tombadas pela
terra morena
e pelo céu ardente.
Ai, coração,
esse amor de uvas
e lábios congelados,
amor puro, de fogo,
amor quieto, metálico.
É o único amor que tens,
amiga,
e é o único amor que
tenho.

Comércio


Para você
o meu coração.
E para mim
a sua voz de arbusto.
Minha casa
é o seu coração.
E sua casa
é a minha paixão.
Para você
o meu coração.
E para mim
sua voz linda,
arbusto da canção.

Se foi


Ali se foi
a água, a serra,
o mar salgado
e a névoa.
Se foi...
Para onde?
Só para dormir
nas sombras
do horizonte.

Deixar


Para onde
foram seus olhos
negros com o
vento e com
as nuvens
empalhadas
pelo céu?
Para onde?
Foges com todo
mundo no vazio
e no silêncio.
Não foges comigo
por causa das rosas
ou de seus espinhos?
Estrelas brilham
grilos cantam
sapos coaxam
e as folhas caem.
Para onde?
É só deixar os
pássaros cantando.
Porque te amo.

abstraindo


chanucá


sábado, 20 de janeiro de 2018

Escuridão



                                          -para boris pasternak 

Estou nesse mundo,
e tudo isso não vale um tostão.
Quantas sombras, meu Deus,
quantas sombras.
E é tudo em vão!

Aos maus, as riquezas,
aos pobres, a ilusão.
Que faço com minhas mãos?
Escrevo, martelo, esmurro a parede.
E é tudo em vão.

Vou contemplando tudo,
amores, vasos, flores, elfos.
E é tudo em vão.
Tudo se finda 
com a escuridão.

Agora estou certo
de que perdido estão.
Mas não me nego a existir.
Mesmo que existir
seja tão em vão.

Quantos rios se movem



Quantos rios se movem
em nossos olhos secos?
E peixes de cristais dormem
em nossas bocas dormentes?

Ai, rios, solitários como
as árvores no campo cheias
de abelhas e outros insetos.
Ai, rios, profundos, velhos,
rios, fontes onde os velhos
faunos se alimentam de folhas.

Não questiono minhas duvidas
em tuas águas transparentes,
nem quero cantar as coisas
sem a vibração das águas.

São muito os rios que se movem.
Serão esses os caminhos das lágrimas?
Vozes de rios, dormentes, poços.

Luz oriental


-kawai
Não sei por quê,
mas a noite entrou
dentro da sua pele,
nos seus cabelos,
nos seus olhos,
e você, linda e morena,
asiática, oriental de sabá,
tornou o ébano
o ouro do amor
no mais intenso amor,
puro, fresco,
onde os nossos
beijos calcaram
o universo de cores.
E sua luz negra
nos cabelos e nos olhos
iluminou-me
quando toquei seus
lindos par de seios
quando te abraçava,
meu amor.

Se eu te amar


Se eu te amar
até a primvera
não existir mais,
rios moverão o céu,
e o meu amor será
sem coração abandonado
no meio do luar.
Se eu te amar
lentamente enquanto o
dia se consome em
vento, nos beijos de
fogo, nas vozes que se
findam com a morte.
Por isso vou te amar...
Tenho que te amar!
E te amo...

Lembrança


Vou me lembrar
dos teus olhos
quando o mar
de repente se secar.
Mas se lentamente
sua voz se perder
dentro de mim e do
amor ardente e sem vida,
então
terei que te esquecer,
sem dúvida ou
questões.
E será o nada
ardendo em nossas bocas.
E então a vida incendiará
o nosso amor coerentemente

As ruas


Eis aqui as ruas,
as eternas ruas
onde passam estrelas,
pessoas, seres.
As ruas estreitas
e largas, asfaltadas
e esburacadas.
Cheias de nuvens,
formigas, lírios, casas.
Para onde me levarão
essas ruas misticas,
ruas rústicas, cheias de
ventos, restos de comida,
pelos de gatos, coquinhos
amarelos e pequenas
abelhinhas dançantes...
Vou pela rua com os
sapatos sujos, a alma
limpa,
o amor sangrado e o peito
sonolento cheio de sonhos
e calçadas
tombadas de
existir.

Ali mesmo


Ali mesmo o teu nome
infincou raizes no meu
peito doente, onde celebrei
a descoberta com pontes,
rochas, mapas e centopeias.
E no meio do escuro o
teu nome me abrasava
magnético, puro.

O nome


Foi aqui que aprendi o
seu nome, nome lento
de fruta, de neve, a erva mais
doce de um sônoro nome.
Recitei o seu nome com a
minha boca cheia de amor,
o amor mais puro, o amor
rupestre, amor de fogo 
e gelo, amor incendiado de
beijos na tua linda boca de
gerânio.

Balestra


Quando o sol
raiar,
sete esporas
de nádegas
verei.
E na luz fixa
desenharei palavras
de amor, lembrando
lendas de
antigos reis.
Quando o sol
raiar,
sete esporas
de nádegas
beijarei.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Olho as horas


para mallarmé

Olho as horas que passam.
As coisas se movem, o dia,
a noite, o navio cheio de algas,
o mar da morte.
Olho as horas que passam.
E o ano começa e termina,
e o amor nasce e morre.
E tudo recomeça nas horas
que olho se passarem
enquanto as sementes
sozinhas, se germinam.

Pelos campos


Pelos campos
vou,
colhendo flores
com os
olhos.
Pelos campos,
lindos
campos de lírios,
girassóis infinitos
de amor.
Por você eu vou.
Pelos campos
vou,
colhendo flores
com os olhos.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Nosso amor



Nosso amor se
basta existindo.
Não precisa se
quer ser explicado.

Oriental

(Alhambra)

Moura dos
olhos claros.
Pele escura
do denso orvalho.

Sol e Mar


Que belo
rio são
seus olhos.
Fontes de
plumas do
amor e das
nuvens.
Como
correm
para o mar.
O sol é sua boca
E o meu coração é o mar.

Chove


Chove a chuva
pura do
amor.
Chove.

Sinistras noites


Sinistras noites
de luares intensos.
A luz dança.
E as estrelas gemem.

Nascimento das flores


para marly de oliveira
Nasce a flor
de manhã,
a sua flor
de manhã.
Roseira ardente,
lírio intenso,
girassol de fogo.
E nasce com
o mel da existencia.
E nos perfume de amor
o ano todo!

Ode


Basta ver
(será o mar?)
esse azul intenso do céu
escrevendo em nossos olhos
mensagens de amor.
 O que está vendo ali o pavão
com a cauda magnífica, feito 
relâmpago? 
Extraordinárias nuvens intensificam
o céu cheio de arco-íris invisíveis. 
Observemos as coisas direito:
qual o detalhe desses bovinos
em forma de gente? 

Vamos olhando pela janela.
Os aviões estão subindo.
Guarulhos é fria, e quando
faz calor é calor de se queimar.


Para quê essas coisas existem,
se não
para vermos as coisas como são.

Isso é só um detalhe.

Basta ver
(será o mar?)
 o azul das cores. 
Só.

É lindo


É lindo o horizonte
se quebrando em
leves e pequenas
ondas.
Onde dormem estrelas
se não no mar infinito
dos teus obscuros
olhos?
Ai, vagueio, mariposinha,
vendo no versículo do amor
tua face corada de
cereja.
É lindo o horizonte
quando escure o beijo
e a luz (lâmpada do amor)
se acende.

Sinceridade


Pode o tempo denunciar as coisas físicas,
apagando de uma vez
por todas nossas lágrimas enferrujadas,
os lírios do cobre,
as asas quebradas de pequenas mariposas.
Pode e não pode.
Qual é o nosso dever,
cidadão poeta, contemplador
de rubrar rosas?
Só nós dois diálogamos
a verdade das pontes,
os rios noturnos,
silênciosos olhares,
largas avenidas infestadas
de carros barulhentos.
Para quê? Para tudo e para nada?
O tempo passa e o vento dança.
Cantar é dizer o que já foi dito.
Imagino.

TRÊS CANÇÕES DE AMOR DORMENTE


1
Olhos orientais, campos
doce dos seus lábios.
Seios de mel, trigo,
raiz onde cai o raio.
2
É sua voz ao longe,
é sua voz sim, camponesa,
pura, pura de oceanos.
É sua voz ao longe.
E eu a sigo.
Amando.
3
Onde eu morrer
enterrai-me com o teu amor.
Do meu balcão vejo o segador
segando beijos para o meu caixão.
Se eu morrer, guardai-me
em teu coração.

Natureza morta


para jorge guillén

Asas de ferro
quebraram o verde.
Vieram sufocar
o vento com correntes.
Asas de ferro
talharam casas tristes.
Tudo findou.
Já não existe.

Balcão


com tema de lorca

(kawai)

Deixe o balcão aberto.
Minha alma
está ali
dentro: vinho
e ferro.
Deixe o balcão aberto.
Do outro lado
do muro e na rua
eu e ela nos beijamos
flores e desertos.
Se eu morrer...
deixe o balcão aberto.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Porto


Silêncio de porto
chegando.
É a noite surgindo
na luz do porto.
A praia quieta sente
a brisa das ondas.
Nenhuma sensação,
nenhum ar ou riso de
chuva ou raio noturno.
E chega calado os passos
da noite quebrando o horizonte.
E o mar é apenas lembrança.
E nós apenas lembrança somos.

Pequena


Nos rios dos teus olhos
duas sereiazinhas moram.
Ai, olhos mornos de oriental.
Orientam meu coração ao litoral.
Dois olhinhos são, coração,
olhos negros de oliveiras.
São puxados como a noite,
quietos iguais ao sereno.
No rio dos teus olhos, pequena,
dorme e descansa o vento do amor.

Alá Akbar


Maomé com seu turbante
canta hinos para Alá.
Sua voz é tão vibrante,
dá vontade de chorar.
E cantamos juntos com o
profeta: canções e melodias.
A noite cai sobre nossos olhos.
Só as mil noites nos ilumina.

Canção do dia


Esse é o dia, o mesmíssimo dia,
fonte da claridade azul do céu,
ritmo das nuvens que choram
gotas em forma de águas nos
olhos entristecidos da manhã.
Esse é o dia, o dia que vem,
que surge em forma de labaredas.
Que dia é esse? O mesmíssimo dia.
O outro dia se foi. E esse outro?
Ai, esse outro é a colheita,
é o sol em forma de lua,
são as coisas se movendo
para dentro do teu peito,
os nossos amores ardendo.
Esse é o dia, o mesmíssimo dia,
fonte da claridade azul do céu,
ondas enervam as flores que
se vão na morte e na vida.
O perfume arde. Dia-a-dia.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Canção do vento


Abrigo do meu
coração,
é só o vento
cantando, não
chores nunca.
Adeus, meus campos,
meus belos campos.
Abrigo do meu
coração.
É só a tristeza noturna,
o sol sem vida,
o ferro prata das
mariposas. Adeus.
Adeus meus campos.
Sou agora a terra distante
o peregrino cinzento.
E para quê quero estrelas
se não posso amar a sua
estrela em forma de dois
seios?
Abrigo do meu
coração. É só o vento
cantando. É só o vento...

Ouves


Ouves a minha
voz?
É o vento chiando
ou a
chaleira
ao relento?
Ouves? Não.
Não há maripoas,
nem tristezas.
Estou aqui
sentado com
o ouro vivo da Bíblia.
Te leio, amada minha.
E ouves minha voz,
com toda certeza!

Felicidade noturna


Pelos meus olhos
vão tormentos.
Luas de marfim,
sonetos e ventos.
Escrevi um amor
no meio do cosmo.
Meu coração congelado
era um serafim de guitarra.
Por onde andavas, amor meu,
longe da minha boca sem frutas?
Para onde foi o teu rio de mel?
Meus olhos ficaram
parados, imóveis.
Acendi o candelabro.
Recitei a D'us o seu nome.