terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Balada do natal que passou



Natal, natal esquecido, erva, erva esquecida,
no meio dos sinos e dos lustres,
nos prédios grandes, nos olhos,
vejo uma pequena estrela simbolizando morte.
A vida está distante.
Natal, natal esquecido que passou em sombra.

A chuva cai, pelas lajes, pelo cimento,
os prédios gemem, as vozes são do rio,
as coroas dos reis são o martírio de Jesus,
as falhas dos outros são as nossas falhas.

O amor, esse grande vidro, desaguou na
carne, na linguiça, na fome mundial.
Espero o comercial e começo a ver
os espaços, as danças, as luzes.

As mesmas luzes que deram
ao meu espírito um pequeno sofrimento.
Enquanto eu carregado de loucura
ia subindo, subindo pelo céu
carregado de querubins com rostos de
Lutero.

Donde vens, natal abandonado,
natal que passou pelos olhos, pelas bocas,
pelos orifícios impronunciados pelos cultos tímidos,
em plena festividade. 

Passou é claro como o sonho,
enquanto dois divertiam-se dois choraram,
vejamos o trigo, a raiz, o lodo,
o formigueiro consumido pela
falta de exegese humana.

E qual é a qualidade desse dia
que passa como qualquer dia
e se comemora com grande
alegria? Não dizia os antigos
profetas de israel: todos os dias
são os mesmos perante os olhos do Senhor.
Ou sou eu quem diz essas coisas sem ler o talmud?
Afinal, a natureza é horrível. E não nos ensina nada.

Podemos fechar os olhos
e respirar com lentidão.
Marretem o ano-novo,
o natal passou, o fogo se apagou,
a chuva deu lugar ao arco-íris de Noé.
Uma pesquisa irá revelar verdades.
Verdades são mais profundas que insonias.

Felicidades.

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Chuva natalina


Passou a chuva
e os seus relâmpagos.
Mas a chuva não
era uma gaiola.
A chuva não era
um pequeno comerciante.
A chuva era um véu
cobrindo os nosss olhos.
Cobriu as cores dos piscas-piscas
e vaga-lumes.
A chuve era a alegria de Deus.
Ou a tristeza das nuvens.
Passou a chuva,
aguou o tempo,
sarou feridas, cantou.
Depois tudo virou sol.
Suave luz. Esquecimento.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Água e Canção


A onda, violenta asa,
 no sol escurecido de sangue
a luz da rajada agitada,
o frio delírio e a fonte da morte.

Dormente olhos de lágrimas,
 luar sem luz, silêncio,
na voz viva do espelho,
a rachada fonte desfeita.

Onde o amor dormiu 
 estrelado, coroado de versos,
luzes pretas e brancas, 
cores ruivas, cinzentas do poema.

Partiu meu peito a espada,
 feriu meu respirar com questões,
frio, lentamente cai tombado.
Era o presente. E ela o passado.

AMOR NATALINO


Não
 quero
deixar
esse
natal
frio.
Vem 
esquentá-lo
com a tua boca
em meus beijos...

Amor



Sim, esse é o meu amor
prata como a colher,
verde como o campo,
azul como o céu,
negro como a noite.

Não queres provar dele?
Provar da serenidade dos
meus beijos de eucalipto?
Sentir a doçura do meu peito?

NATAL

NATAL

(NASCIMENTO DE CRISTO)

As flechas dos sinos tocaram o coração ferido,
nascimento de Cristo nos gelos das alegrias constantes,
na varanda do mar repousam mariposas,
poetas escrevem suas luas em forma de espelhos.

Do outro lado do mapa existe dois candelabros!
Uma colina verde, outra colina de ouro.
O sonho dentro do sonho torna as miragens
vinho, fogos-de-artifício, olhos que choram
mel em formigueiros, pequenos sorrisos.

Pequenos arcanjos e querubins de cristal
em volta de Lutero celebram o natal.
A voz de Cristo se ouve descendo o riacho,
uma tocha reluz na sinagoga e na igreja.

O telhado está quebrado com milhões de vento,
a chuva tombada comemora o sofrimento,
duas crianças levam a esperança de papel,
enquanto aves sem nome cantam sem o véu.

Decidido chegar até o outro lado,
comemoramos o nascimento de Jesus.
A leve graça de dezembro outonal,
cantamos e suspiramos por efeito e direito.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Tudo é som

Tudo é som
já ensinou hermeto pascoal
o filho de Deus
tudo é música
tudo é melodia
tudo é harmonia
tudo é criação
Ação
canção
poemão
balão balão
valsa canção
Tudo é som
já ensinou o capitão!

Escrever

Escrever

Escrever é inventar 
um mundo que não existe.
É imaginar algo. 
E por em palavras 
o que não pode 
se dizer com gestos.

Matéria e Espírito


Que o vento
no seu rosto...
Claridade...
Onde dormimos
e sonhamos...
Realidade!
Frio rio,
quente rio.
Verdade, verdade.

Saudade


Árvore
seca,
sem rio,
sem vida.
Árvore
pequena.
Nenhuma
colina
(nem brisa).

sábado, 23 de dezembro de 2017

a vida

a vida é o que é

الحياة هي ما هو عليه

Foi aqui



Foi aqui
a primeira vez que eu
(faz quanto tempo mesmo?)
te beijei.

Sua boca de mel tocou os meus lábios,
e a esperança ardeu como o muro das lamentações em meu
coração de vidro. Ali entendi o significado das explicações,
ali mesmo eu vi os seus olhos enegrecidos me iluminando.
A noite não havia consumido o meu coração nem o teu,
e sua boca ardia de amor na minha boca de judeu.

E quanto mais nos distanciávamos um do outro
o amor ia nos aproximando, decifrando os mapas,
os relógios, os espelhos, os muros, as cercas,
os livros misteriosos, os labirintos esquecidos,
as mitologias, os sonhos, os candelabros, os contos.

De repente
escrevi o seu nome.
Nome tão lindo, tão pequeno,
nome de mariposa,
nome de borboleta,
nome de pardalzinha,
nome de luneta.

Esqueci-o
carregando-o por todos os lados.
Já não existia hora, nem comércio, nem casa, nem trabalho.
Sua boca era o meu presente, o meu passado, meu instante
jorrando, ardendo, queimando, esfriando o meu ser tão sofrido.

Entraste pela porta
e disseste para os meus olhos:
pousa na janela do meu amor tuas mãos feridas de brilhantina.
E queimaram a minha pele com fumaça,
e cortaram os meus pés com distancias,
e machucaram a minha mão com cobranças,
e deram-me nomes ridículos, sofridos.

Por ti tudo suportei.
Meu Deus, tu o sabes,
que como Jacó amou Rachel
eu também a amei.

E ela não me quis.
Por que? Porque as coisas não existem.
As coisas são por si mesmas
como o campo, como o frio,
como o vulcão que destrói
e queima a corrupção.

E ela não me quis.
Não, não.
Ela não me quis.

Suportei todos os mistérios, fui esburacando a lua,
sofrendo o sol, queimando minha pele de camelo,
fazendo o meu comércio, vendendo minhas pinturas,
vendendo o meu sentimento, olhando do outro lado da ponte
o rio de águas cristalinas que era Cristo dentro do meu peito
incendiado de vontades, desejos, coisas, ilusões, sagrados.

Por fim ela me avistou do outro lado do muro,
já não era dia nem noite, já não era tarde nem manhã,
a porcelana estava queimada, o vazio existente não abria
sua porta, os autores estavam mortos, os vidros espatifados,
as árvores cortadas estavam queimadas,
as máquinas eram as coisas que existiam
dentro das minhas lágrimas de caracol.
E um enorme pé esmagou minha pequena casca.
O café esfriou, a chuva se calou, o dia tornou a ser o que não era.
Por que? Porque as coisas não existem.
As coisas apenas são o que são. Isso. Ilusão.

Então eu me lembrei que eu tinha coisas boas
para recordar sentado na pequena escada da minha humilde casa:
os versos de walt whitman e de pablo neruda,
a doce melodia de ariano suassuna, as orações hebraicas,
a voz da minha queria avó, o som da música da chuva.
Eu me lembrei da voz dela, a voz, aquela voz do amor
e me enchi de pensamentos, compartilhei coisas, mistérios.
Era e não era a lembrança das coisas que não são.
Era lorca, tolkien, era cecília meirelles, era bíblia,
era amigos e inimigos, era estrelas, mares, poentes.

Embalsamado de amor coloquei a minha voz
a recitar escuridão.
Querem o meu dinheiro.
Mas ainda sou pobre, pobre.
Não tenho marfim, nem prata, nem ouro.
Por que querem que um poeta pague pelo
seu prato de arroz e de feijão?

Amor, ai amor, tudo isso é essa dor.
Mais você canta, e é preciso cantar,
porque preciso escutar sua voz.

Não sei escrever detalhes, nem inventar mundos,
não sei caminhar com roupas, nem com cores,
não sei decifrar olhos, não sei amar e nem sei ser amado.
Por isso só você pôde ser o meu amor eterno.
Por isso estou preso. Por isso estou acordado.

foi aqui
a primeira vez que eu
(faz quanto tempo mesmo?)
te beijei.


quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Primeiro

É assim que eu te vejo:
como a manhã se
aproximando em luz
até meus olhos.
Onde repousa o campo,
a vida, as coisas que
nos aproxima e nos
distancia de alegria e medo.
Nossas bocas unidas,
minha mão em seu corpo de arbusto.
O suor do nosso amor
escorrendo pelos olhos.
São lágrimas de alegria.
Ó vida, ó tempo, ó suave eloquência.
Deixai-me com ela, para explicar:
o sentido da minha vida é te amar!

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

consciente de quê...

consciente

de quê
aq uela
estrela


até a ponta
                 des'tra outra

são
nossos
lábios se

          beijando

Olhares trocados


Em uma centena de multidão,
quanta gente apressada, desesperada.
Passo por você levando uma tábua.
Você me olha com leve expressão.
O que carrega ela no vestido?
Prédios, carros, pássaros enjaulados.
Suspeito que leve a paixão do seu lado.
Mas isso não é afirmativo.
Nossos olhares trocados
pareciam neve sendo derretida de leve.
Lá vem você dizendo que é besteira
se apaixonar sem saber o nome da borboleta.
Esses cabelos são loiros? São negros?
Parece que o futuro depende dele.
Leio em seus olhos algum poema que fiz.
O dia está claro. E bem quente.
As calçadas são péssimas,
não foram pavimentadas corretamente.
As ruas esburacadas quando viu nosso olhares trocados
choram, sorriem, cantam e gemem.
Não disseram o seu nome, nem o meu,
não por timidez ou outra idiotice qualquer.
Não podemos nos apaixonar por um movimento
de paixão leve e qualquer.
Por isso o meu chapéu de metáforas
estendi no meio da rua, só para vê-la passar.
Quanta fumaça de azul-néon nesse céu.
Você não viu porque estava admirando o meu chapéu.
Por fim voltamos pelo mesmo caminho.
Mulheres, homens, crianças de colinho.
Do outro lado ela vai com um vestido estranho.
Preto, e branco. E meus olhos a acompanham.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Namorados


Com algumas exceções,
é claro, derivativos.
Ou coisas desse tipo:
um peixe, guarda-chuva,
a farta lua cheia no céu azul enegrecido.
Quero ficar sozinha.
Também quero ficar sozinho.
Que tal ficarmos sozinhos juntos?


Somente o amor e só. Ouvistes?

Mas eu quero deixar o meu amor aqui
amanhecido, alaranjado como a nuvem branca
refletindo a luz do sol com pequenas variações
sinistras de alaranjado: laranja escuro, rosado,
laranja claro, embranquecido.
Lembrando que todas as coisas que vemos en
quanto estamos andando pela cidade é fruto
da construção lógica e herança da humanidade
fria e calculista.
Mesmo assim amemos os buracos no meio da
rua, as calçadas com pedras soltas, 
as árvores belas, musgosas, cheias
de formiguinhas subindo, subindo sem
rumo, sem ordem de chegada /ou saída.

Se souberem alguma coisa para que
o amor não seja algo comercial, ou variável.
Como dizia Herbert, nós nos afastamos 
irremediavelmente um do outro como...
Vejamos os peixes no aquário. Peixes-palhaços.
Amphiprioninae. Que linda coloração.
Preto, preto, laranja, branco.
Branco, branco. Laranja. Preto, preto.
De um lado ao outro no aquário.
Vou usar a imaginação como te pedi:
somos eu e você no aquário, bolhas
subindo, subindo. É o amor, dizia a canção
irritante e constante que se tocava na rádio.

Agora um detalhe simples e qualquer.
Uma volta, um pequeno esquecimento.
Sozinhos? Sozinho. Eu e você. Não pra sempre,
é claro. É só um momento qualquer. Ouvistes?



quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Cuidado


No céu há uma lua incompleta,
um ridículo circulo, interno,
luminoso como a teia de aranha
arrancada de manhã sem nenhum sorriso.
Do outro lado uma estrela
abatida, cansada de existir,
talvez se finde extremamente
com uma explosão simples, quente.
Se ela soubesse falar
com certeza iria mandá-los a merda.
De algum jeito misterioso
esse brilho nos lembra um
espelho rachado, porém formoso.
As coisas por aqui ficaram invertidas.
O norte acabou sendo o sul,
o oceano se tornou raso,
e o céu denso superficial.
Milhões de milhas nos separam
nessa luz estranha, boreal.
Que estranha lastima!
E não há orgulho algum nesse circulo.
Um rídiculo pedaço de prata,
suspenso, brilhante, porém esquecido.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A mocinha


Começou com um simples pedido de amizade. Ela mandou o convite. Eu aceitei. Simples assim.
Fiquei impressionado com sua beleza. Me lembrei até da frase "as aparências enganam". Meditei. 
Ela me lembrou um antigo amor que eu tinha, antes de conhecer o mar ou o céu. É difícil dizer essas coisas com palavras certas. 
Vou tentar resumir: ela tinha os cabelos negros, escuros como a noite.
Era uma morena de cabelos negros, igualzinho a... Só mudou o nome. 
Seriam a mesma pessoa? Ou quem sabe seria até um perfil falso, um "fake" contemporâneo? Não entendo essas coisas. Nem ela de certo.
 Mas então um dia ela me deu oi. Um oi tão ligeiro, tão simples, tão bom. Um oizinho imenso, capaz de abrir mares, desplantar árvores, desaguar nuvens. Estou tentando ser poético, e como sempre não consigo. Mas essa mocinha era a mais pura poesia que Deus estava fazendo para mim. 
Conversamos, me amiguei da moça. Fiquei encantado com sua rapidez em querer ficar comigo. Eu queria a conhecer, é claro. Afinal, não sou sábio, mesmo assim é muito bom conhecer novas pessoas, sair um pouco da cova da solidão.
Quer me encontrar aonde? 
Ah, esse aonde me impressiona. Até hoje estou o ouvindo, lendo suas palavras. Que tal ali? Marcamos o local. Que horas? Horas tal... Ótimo.
Alguns afazeres comuns, uma pequena garoa, uma caminhada rápida até a farmácia. Etc... etc... etc... Preciso de um remédio. Pronto.
 Na hora marcada para se encontrar com ela, a musa, a mística, lá estava, eu e o sorvete na frente da sorveteria.
Quantas pessoas, quantos carros desnecessários. 
Quanta pressa; para onde eles querem chegar assim tão rápido?
Mesmo assim estava ali esperando ela. Tinha chegado visita na casa dela. Entendi, como entendo tudo.
E até hoje estou com o sorvete, a água com gás e o guarda-chuva esperando ela chegar. Ela não vem. É melhor voltarmos pra casa. Onde quer que isso seja!


Increpação


Onde estava
o seu rosto de nuvem?
Dentro do amor,
fundo e fundo,
dentro do amor.
Naque dia tão
profundo, profundo.
Te vi beijando minha
boca, mordendo os meus lábios,
olhando os meus olhos,
dizendo que o amor não
era para incréus, mas sincero.
Duvidaste do amor,
antes que o galo cantasse.
Lá estava suas mãos,
seu corpo, seus olhos,
a lua deslizando lenta,
funda, funda,
mas profunda.
Porém ninguém dizia nada
que se pudesse deixar escrito
no tabuleiro do esquema.
E seus olhos enxarcados de
lágrimas me viram pela últim vez.
Lento, carregando um poema.



Que o amor de Deus

Que o amor de Deus nos guie!  قد حب الله دليل لنا!

Colheita


Que colheita bela!
de um azul intenso são
os seus olhos, não.
Que colheita bela!
No prateado luar
seus olhos e lágrimas
são uma coisa só.
Que colheita bela!
Bem longe há um
caminho de paz
e outro de tristeza.
Não.
Que colheita bela!
em seu coração um
rio cruza dois céu,
um prata e um vermelho.
Que colheita bela, coração!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Amor



Ontem o céu estava como hoje:
cheio de nuvens grandes, rosadas
e roxas.

Era um dia quente, quente.
Nenhum vento de frio soprava
sobre os rostos.

Estava quente como hoje.
Mas o ontem se tornou hoje
tão depressa que podemos

imaginar uma ruptura no tempo
para lembrarmos que dia e noite
são o mesmo lado da
moeda.

Esquecer é um perdão eterno.
O espelho do céu reflete a lua,
decrescente figura, minguante,
lembrando que os amores não
podem ser essas flores laranjas

que sorriem para a paisagem
(e não para o pintor).

Agora o laranja é intenso,
embaçado como pote de manteiga.
O céu escuro irá tingir esse quadro
parecido com o vestido de uma linda mulher.

Por fim a noite irá cruzar os nossos olhos.
E outra vez irei recitar com minha voz fanha:
ainda te amo, te amo.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Retrato da cidade



Estamos andando, andando,
nunca chegamos a lugar nenhuma.
As ruas são largas, o asfalto é horrendo,
é claro que combina com a cidade.

Quantos buracos!, a cada meio metro
podemos ver uma piscina de água-marrom
sempre que chove a lenta chuva.
As calçadas estão carcomidas, 
                                             com toda certeza
os reparos vão ficar para o futuro,
afinal
esse não é o país do futuro?!

Repare bem, porque tudo nessa
cidade é feita de reparações (é um povo muito reparador):
o céu de manhã camufla as nuvens com o sol
e elas ganham um tom alaranjado indescritível
de tão belo.

Algumas araras estão em cima dos fios de eletricidade,
fazendo companhias as orquídeas solitárias
que respiram no meio dos mesmos fios.
Ah, tem outra nação capaz de fazer um
espetáculo tão belo quanto esse? 
Natureza e energia juntas. Ambas não são
a mesma coisa?

Essas dúvidas tem que ficar para trás.
Estamos com pressa para chegar no trabalho.
Pressa, carros apressados se atropelam
um do lado do outro nessas ruas cinzentas, feias.

Cuidado ao atravessar a rua, poeta,
eles sinalizam para o pedestre
aumentando a velocidade.
Vão chegar aonde mesmo?

Ah, ao trabalho, suponho.
O melhor trabalho seria ficar olhando
as marias-sem-vergonhas que
vemos nas calçadas.

São tantas, e são tão coloridas.
Umas são amarelas, outras brancas.
A mais bonita é a rosada.
Parecem estar realmente com vergonha.

E os pardais enfileirados, em cima das telhas?
Um, dois, três. Não passam de seis.
E são tão tímidos. Com um gesto
se espantam, fogem voando.

Sério, se não fosse a natureza em volta
eu diria que essas casas são tumbas
e a cidade não passa de um cemitério,
e andamos cercados por fantasmas.

É melhor correr apressado,
tentando imitar esses carros acelerados.
O motivo é o mais simples possível:
o céu escurecido é sinal de tempestade.

Uma noite escura e fria


(paisagem noturna)


Pousou na janela dos teus olhos, diria, um tom de azul-claro tão bonito, que o céu inteirinho, afirmo, estava em suas pupilas marinhas.
Observemos os conjuntos das coisas que ainda podemos
descrever com lentidão, análise de anatomia: o céu, esse
espelho de duas faces, sendo convertido em duas coisas
ao mesmo tempo. Azulado e enegrecido, azul e negro.
Esquecemos por alguns instantes sua beleza transparente.
Vamos narrar outra história para o viajante.

As Murraya paniculatas estão desabrochando suas cores brancas. Inúmeras abelhas colhem seu cheiro,
e frutinhas vermelhas enfeitam seu natal, no dezembro.
As calçadas podem parecer sujas, mais as árvores
enfeitam a paisagem para torná-las belas.
Por que esses idiotas estão cortando elas?
Devemos nos lembrar que é questão de arte
observar o céu escurecendo tão lento,
enquanto pássaros apressados fogem da chuva.

Esse refletor branco que paira no céu,
antigamente quando eu era criança me ensinaram a chamar
esse pedaço de cratera de lua.
Que coisa riducula é essa pairando embranquecida
entre névoa tão densa e fria?
Pode-se ver a nuvem fugindo, fugindo,
deixando o espaço escuro com a sensação
de que o esquecimento é o único caminho para o perdão.
E que por fim o dia pode recomeçar.

Como sempre vamos contar estrelas
enquanto os grilos apressados entoam com as rãns
suas melodias de amor.
O vento gelado bate em nosso rosto.
Para quê decifrar a linguagem da natureza?
Sentir apenas não basta, diz o pobre viajante.
É tão escuro e frio esse lugar. Estamos aqui
apenas por estar. Privilégios naturais são exceções.
Essa é a paisagem que se abre como flor.

Anotação

 Sentada a mesa, escrevendo alguma coisa. A menina pousa os olhos no papel. A tinta azul se confunde com os seus olhos verdes. São a mesma coisa?
 Ela esboça um sorriso. Sente saudade, no coração. Toma um pouco de café, dá uma mordida em uma torrada feita de pão-integral. 
 Boceja, boceja um bocejo infinito. Deve ser um poema o que ela
escreve, ou uma historinha, um conto ao estilo de Kafka, uma balada musical. Ou escreve uma carta para o namorado, que acabou de chegar no Maranhão a trabalho.

 A tv está ligada, mas não há ninguém na sala, exceto o gato que dorme em cima da cama, esparramado. 
 Por fim ela se levanta, tampa a caneta, lava a xícara que continha o café, guarda o resto das torradas e rasga o papel onde havia escrito alguma coisa. Talvez um nome, um endereço, um poema... uma carta...

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Significa: flora


Pode ser que exista
e pode ser que não exista.
É o ar do mistério que
nos assombra juntos, vida.
Do outro lado do mar
percorro o céu com a terra.
Do outro lado da terra
percorro o mar com o céu.
Pode ser que exista
e pode ser que não exista.
No final é só uma flor
solitária, perfumosa, esquecida.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O amor

Chegou a luz elétrica,
vozes estranhas, relâmpagos.
O céu apagado ofuscou 
os olhos, os lábios.
Vários pássaros passaram
velozes, rápidos, em direções
contrárias. Buscando, quem sabe,
um lugar melhor para sonhar.
O sol, rocha escondida,
brilhando no espaço escuro,
talhou suas cores laranjas
nas nuvens densas, crepusculares.
Era isso o que desejava?
Era só isso o que pensávamos?
Um frio embaraçado por
concussões elétricas?
Até aí o coração suportou
a distância os seus beijos
lentos, macios, gostosos.
Suave é o amor. Chegou o tempo
de acender a luz com brasa & fogo!

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Desce a fresca chuva de dezembro

Desce a fresca chuva de dezembro
em vozes natalinas e suaves ventos
desce a fresca chuva de dezembro
em nuvens brancas e frutas vermelhas.
Desce a fresca chuva de dezembro
em aromas suaves que Deus rega
desce a fresca chuva de dezembro
concluíndo os mistérios da natureza.
Desce a fresca chuva de dezembro
acalentos sonhos, suspiros, tréguas
desce e paira

Nosso amor


Então vivemos
os nossos sonhos
tranquilos, intranquilos,
na linha invísivel das horas.
Por quê sonhamos e vivemos?
Que coisa magnífica é viver
esse amor rubro,
esse amor escuro.
Penso nos nossos
beijos de peixinhos
e sinto algo indescritivel
no coração.
Sentimentos de felicidade
passageira e veloz?
Sonharemos e viveremos.
Esse é o sentido do nosso amor.

Divagação

Ah que multidão estranha,
que estranha calçada.


Ruas esburacadas, 
árvores tão esverdeadas.


Por que passo por esse
caminho todo dia?
Quantos olhos mortos
me mirando a alma cheia
de feridas.


Ah que peça estranha,
notícias púrpuras, aves
cantando notas sonoras.
Essas casas são tumbas, não é mesmo?
Afinal, essa cidade não passa de um túmulo.


Ah veja quantos postes de luz
acesos como vaga-lumes,
imitando as estrelas que se
apagam no céu cheias de
ferias.


Ah que coisa estranha.
Interessante, porém estranha,

Outras coisas

Não há rio que nos una lentamente,
não há rio.
Não há tempo que nos fira de frio,
não há tempo.
Não há tempestade que sacuda as portas e as janelas,
não há tempestade.
Não há noite que nos acalente a alma,
não há noite.
Não há dia que nos fira o coração de amor,
não há dia.
De resto tudo existe por existir!

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Lembra

Eu também tive
os cabelos grandes
como você
eu também era hippie
como você
eu era nazireu desde o ventre
como você
ah eu lia livros interessantes
nas estantes
olhava o céu noturno
você sabe
naquele tempo
decifrar a felicidade sem misterio
era o meu desejo
(não sei o seu).
Por fim mudamos. Tu e eu.
Caminhos diferentes,
labirintos estranhos.
Deus mudou os tempos.
O cabelo está curto,
os olhos interrogando,
mais Deus mudou os tempos
(por isso te amo, te amo).

domingo, 3 de dezembro de 2017

Minha amada


Minha amada clara, minha amada escura,
minha amada estrela, minha amada lua,
sempre me esqueço a imensidão dos nosso
beijos quando nos amávamos na imensidão da rua.
Minha amada bela, minha amada feia,
em seus cabelos escuros caranguejos dormem,
em tua boca vermelha e japonesa sóis imensos
brilham dissipando as insônias noturnas.
Minha amada clara, minha amada escura,
na sua voz posso encontrar os limites da vida,
planetas, pedras, árvores, silhuetas,
o seu nome é uma luz clara, é uma luz escura.
Minha amada clara, minha amada escura,
olhando teus olhos uma piscina completa
o coração cheio de manchas, de marcas,
onde seu nome se escreve: te amo.

Até aqui

Até aqui cheguei, onde não estavas, onde eu não estive, onde luas de pratas e sóis de cogumelos vagavam
lentos como as lesmas, desamparados de morte
como os caramujos esmagados pela falta de atenção.
Até aqui cheguei, cheio de terra, transpassado de mar,
noturno, com os olhos inchados, com a alma em lamentos,
cheguei e você não estava aqui, nem o tempo frio,
nem as lentes velozes dos olhos esmorecidos.
Até aqui cheguei dentro da linha do tempo selvagem,
cortante, escrevendo e respirando como os peixes,
tentando abarcar a terra, o mar, o céu, as plumas.
Nada disso fazia sentido para a alma delirante,
cheio de remédios, sonetos, carros, vozes aquecidas pela
solidão, pela multidão que grita coisas incomunicáveis.
E assim a brisa me aconselhou a ser menos mar,
menos terra, a ser menos metal, menos conselhos,
me aconselhou a ser menos sábio, a ser menos poeta.
E por fim cheguei a te encontrar.