quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Arcanjo andarilho



Arcanjo andarilho


Se vejo anjos

Se vejo anjos
Com os meus
Olhos de homem
Então sou santo
Então sou alguém
Que já não sabe
Se vive ou se morre.

Belas asas de
Querubins inflamadas
Pelo fogo divino da
Misericórdia.

Fogo, este, que
Consome a tudo
E a todos.

Deixai que a morte
Responda as questões
Dos rios e das árvores.
Se vejo anjos nos bosques
Se vejo almas nas casas
Se vejo flores nos bosques

Sei que Deus ali me guarda.



Sem sombra de dúvida

Sem sombra de dúvida
Te amo e não posso me
Esquecer desse amor
Que a tudo consome.

Sei que ele não pode
Ser visto pelos olhos
Incompreensíveis dos ateus.

Esse amor carregado de
Nuvens e flores
Se move até os altos céus
E se derrama pelo deserto
Entre as orações e as lágrimas.

Amor, que divino caminho escolhido:
-O caminho de amar profundamente.




Estrofe

Eu não me escondo enquanto sonho porque canto e sou consolado pela voz de Deus no meio de sombras que velam meus olhos.
Olhai bem: aquela nuvem é um rei.
Aquela pedra aflita entende a aflição
do peregrino que caminha sem rumo.
A maçã caída entende a queda de todos
pecadores.




Maktub

O amor sempre será um ato de fé maior que o universo inteiro.




Entre os seres

O melhor que temos não
é o silêncio em um mundo
terrível.
É a ação (não o movimento)
de efetuar o bem (em um mundo maligno),
esse raro desígnio
entre os seres.


 

Eu já fui poeta 
Isso faz muito tempo
Quando eu vivia
Em outras eras
Na Espanha medieval
No antigo Egipto.
Eu já fui poeta
Em barcos, cidades,
Nos campos das feras,
Nos bosques das driades.
Eu já fui poeta
Falei de deuses
E heróis, ciclopes
 E sereias do Mar Mediterrâneo.
E entre estradas e homens,
Vi o amor e a face da esperança
Em cada flor e em cada janela
Onde a alma pura descansa.




Os labirintos

São os seus olhos verdes,
Nuvens exiladas na terra,
Ou são o fogo das velas
Que choram mui ausentes?
Se vejo a beleza de tal rosto,
No sorriso da fera amorosa,
Não sei se caio vivo ou morto
Nas altas e bravas ondas.

Esquecerei essas paredes que
Ferem o coração semelhante
A um arpão afiado contra o pe

Ixe que se mexe para frente.
Se nada restar construirei a chave
E olharei ilhas que não sejam mar.




O fim do mundo

Sim, espero, que seja
O arpão e o mistério.
É o fim do mundo que
Chega entre o chão e
As pessoas que já não
Choram, porque tudo 
Se esvazia na escuridão.
Olhamos o fogo e a água,

O vento passando pelas
Bocas, as jaulas, enquanto
A aranha tece sua teia

Os homens tecem redes.

Levantai as mãos ao alto
Uma estrela cai ausente.



Dos sonhos...

Se sonho coisas como essas
Labirintos, navalhas, estrelas,
Vejo nos largos passos que dou
Uma enorme presença física
Onde não se pode achar nem
O aço, nem a fechadura, nem
A casa onde o gato dorme.
Pois se tudo se move para
Abrir os olhos quando o relógio
Apita acordamos desesperados
Para a tristeza bela da vida.
Luar dos ciganos, misteriosos
Sons de onde a alma percorre.
Suspiramos todos nesse  mar.


O último detetive

_ Hoje é apenas um retrato quieto na parede.



Se há um mar 

Se há um mar
já não quero mais estar no sol.
Que os raios da espiga brilhem
no horizonte de outras colinas.
Se há um mar
que os elfos dancem e a noite
seja triste e fria.



Tô baixando música
Tô tocando espírito
Tô sentado de lado
Tô de frente do espelho
Mel de abelha é doce
Mas rã bonita tem veneno.

Pasto queimado venta
Tô baixando ali em baixo
Ali em cima ninguém aguenta
Tô sentado aqui do lado
Eu não quero mais quem me dera.

Traz um copo de coca.cola
Faz café seu folgado
Vai trabalhar vagabundo
Quem morre cedo tá descansado
Se o mundo inteiro gira
Tá explicado o pecado.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Caminhando



Se me perguntarem aonde fui, já não sei responder. Fui além, corri alguns metros. 
Cheguei até a porta de um rio imenso e depositei ali a minha alma. Fiz um pacto com Deus no meu coração de homem. Não menti, Ele veria.

Tenho fé para muitas coisas, só não tenho fé para entender essa questão maluca : onde, onde?

No Egito, entre os milhões de faraós, escravos, pirâmides inabitáveis? Ou entrei nos musgos andaluz da Espanha?

Ali, aqui, minha alma se espalhou. Sou parte daquele lago, vislumbrei o por do sol no Nilo, olhei as muralhas chinesas, escalei sonhos em forma de montanhas.

Perdi o rumo e cheguei aonde tinha que chegar. Só não me lembro onde. Porque o importante para minha alma foi percorrer o caminho. E o caminho é a Verdade. 

Aonde fui? Até Jesus Cristo!

O pequeno menino andaluz

O pequeno menino andaluz 

O pequeno menino andaluz tinha um sonho.

 Lá estava a montanha que ele sempre desejou escalar. Ouvia histórias de que um dia, certo rei mouro, ali colocou um tesouro, e que muitos desejavam encontrar, sem nenhum resultado. Mas ele seria o primeiro a encontrar o tesouro.

Com muito cuidado ele começou a subir a montanha, sempre imaginando as riquezas que lá encontraria, porque como nós todos sabemos, os mouros antigos depositavam muitos diamantes, ouro, jóias em baús antigos, e que essa fortuna inestimável era a fonte da riqueza de seus impérios.

Com esse pensamento o pequeno menino andaluz subiu a montanha com seu cajado, que herdará de seu pai, um homem simples que nunca sonhou com tesouros, e vivia sua vida no amor de sua família.

Quando ele chegou no topo, se deparou com uma rosa vermelha. Uma única rosa, solitária, que olhou para ele. E ele olhou para ela.

- Bom dia senhora rosa. Escalei essa montanha em busca do tesouro de um antigo rei mouro. Gostaria de saber se voce sabe onde esse tesouro está.

A rosa olhou no fundo dos olhos azulados do menino, e reconheceu que sua alma tinha a virtude dos sonhos, e a fé dos guerreiros da reconquista. E então lhe disse:

- O tesouro, pequeno menino, não é aquele que perece. Não é prata, nem ouro. O tesouro é aquilo que seus olhos alcançam. O verdadeiro tesouro é a fonte de Deus.

- E onde está essa fonte?

- Onde está o seu coração, aí estará a fonte de Deus.

Então o pequeno menino andaluz olhou os quatro cantos da terra, vendo a natureza. E entendeu que o Amor que sentia em seu coração era o verdadeiro tesouro. Ele não precisava nem de ouro, nem de prata. Pois estava vendo verdadeiramente a fonte viva feita por Deus.

Maktub

Maktub

O pordosol é belo para que pode refletir em seu espelho de Luz a graça viva e Santa de Deus. 

Maktub

Precisamos caminhar,mesmo que não exista mais caminho. 

Para chegar aonde queremos, seja no coração do Amor profundo ou nos nossos Sonhos mais malucos, devemos caminhar, correndo o risco que a estrada carrega: pedras, troncos, serpentes.

Peregrinos somos em terra alheia, devemos partir para chegar. Aonde o seu coração descansa aí está a resposta da sua vida.

Maktub

Se deixarmos os nossos sonhos nos guiarem, então, finalmente iremos encontrar a resposta que tanto aguardavamos ansiosos.

Maktub

Escrever é alcançar corações.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

De frente do mar

De frente do mar 

A morte não o assustava mais. Simplesmente passou a ser um assunto qualquer dentro de sua cabeça. 

Ele já era um homem velho, de largos anos vividos, idade que poderia ser chamado de avô, não fosse o problema de nunca ter tido filhos.
As putas em sua vida foram muitas, difícil definir uma que tenha lhe marcado mais. Vivia desde tenra idade entre o trabalho e o puteiro.

Não quis se casar. 

Não por causa de alguma culpa religiosa que trouxesse no peito. Mas sim pelo simples fato de ter tido uma decepção amorosa que marcou muito sua vida. 

Hoje com tantos anos vividos olhava o mar do portão da sua casa. Lembrou que na sua adolescência conturbada, entre socos, cerveja e sexo, tinha lido um ótimo livro chamado de "O velho e o mar".

Hoje, pensou, sou esse velho. Porém o mar não me acalma a alma. Ali está ele,  se movendo, como as coisas se movem. A vida se move. A vida é movimento. Eu já não tenho mais movimento. Não tenho mais vida. Porém ainda vivo.

Os olhos azuis se encheram de água ao ver uma linda mulher que passou em sua frente. Lembrou dela, aquela que tinha acertado uma pedra violentamente em seu coração.

Será que ela ainda se lembra de mim?  Do outro lado o oceano se agitava. Não tenho mais medo da morte, pensou.

Não, não tenho.

Dois mundos



Nós dois sabemos
Que há o mundo que
Nos rodeia com átomos
E esferas gigantes.
E existe o mundo que
Os olhos não vêem
Quando o coração não
Sente: o mundo das mãos
Invisíveis de asas de navalha
E dragões flamejantes.

Noite com você



Não quero outra coisa
Se não o seu sorriso de
Noite escurecida e a brisa
Do vento da sua boca.
De manhã o sol irá fazer
A ventania da cidade
Se acalmar em sua alma.

Serei o seu pastor te guiando
Até Santiago de Compostela.
Ali dormiremos com as estrelas
E seremos uma só coisa:
Eu Sou o Sol e você será
As estrelas girando no
Pensamento da natureza.

Então compraremos por
Leite a suavidade do mar.
E com as jabutis escalaremos
As montanhas dos desertos.

Blindagem



Eu vejo nos seus olhos
O brilho azulado do oceano
E enquanto anjos cantam
Um deserto amarelo celebra
A ressurreição dos mortos
E as insígnias da morte.

Deserto



Aí que sol quente,
Canta a areia e o dente.
Aí que sol verde.
Canta o sal e a manteiga
Aí que luz prata
Canta sem voz a navalha enferrujada.

Celebração



Quem canta se não
O pássaro e os véus e o sono?
O sol é só um ponto morto.
Não existe nenhum mapa
Para distinguir nossos olhos.

Quero partir para outro lugar
Que seja a natureza e a vida.

Se a morte é um cão peludo
Que ao menos o navio seja feito
De mariposas vermelhas.

Ameixa



Deixa eu
Celebrar teus beijos
De manteiga.

Quem abriu
A porta do destino,
Assassinando
O amor de tantos
Suspiros?

Deixa eu
Celebrar teus beijos
Enquanto me deito
No mar que nunca para
De vomitar.

A árvore



A árvore tem prantos
De cebola e celebração.
A menina de saia na
Minha frente quer sair.
Ela não sabe que o mundo
Não é feito de folhas nem
De alegrias nem de vento.
Ela não sabe que as raízes
São zangadas e os homens
São maus por dentro.
Ela quer brotar no rio que
Flui com rapidez e silêncio.
A árvore tem prantos
E chora pela luz sem vento.

Valsa esquecida



Fechei o balcão por cima
De sete rosas e oito margaridas.

Queria escutar o silêncio.

Que nobre de vida.

Fechei o balcão por cima
Com oito anjos e sete lombrigas.

O cachorro verde chorava
Suas odes de espigas.

Fechei o balcão por cima
E meu coração vivia.

Ardia.
Ardia.
Ardia.
Ardia.

Emoção



Eu escuto a voz
Do amor
Com o coração
De rouxinol
Que tenho.
Existem flores
E existem desejos.
E eu escuto o coração
Com a voz do vento
Que meus olhos
Não enxergam dentro.
Eu escuto a voz do amor
Como quem quer partir
Para encontrar o mel
E a doçura das migalhas de pão
Que o céu invoca
Como uma dança
De solidão e tristeza.
Não existe angústia nessa
Voz porque o poente não
Sabe cantar asneiras.
Eu escuto
A voz do amor
Com meu coração de
Torneira.
Escuta tu também
Enquanto o oceano
Ama a onda e o céu ama a nuvem
E a noite, esse flamingo sem asas,
Deita debaixo do coqueiro
Para ouvir a lua
Contar fábulas antigas,
Quando o mundo era belo
E a vida menos violenta.
Hoje não. Hoje eu escuto
O coração com tristeza.

Questão

Onde anda o meu coração
No meio da noite que se agrega
Entre mim e a maçã e a Mesquita celeste?
Onde anda o meu coração
Que procuro em muros formosos
E nos sonhos onde posso escalar
Montanhas altas e sentir o vento
Como uma águia pela imensidão.
Onde anda o meu coração?

Chove lá fora



(paulotahan)

   Chove lá fora
E eu sei que Alá
Irá iluminar meus olhos
Com sonhos e tesouros
 Porque oo se amor é infinito
E infinito são nossos sonhos

Apócrifo de Paulotahan



Lendo as dunas do deserto
Olho para o céu emocionado.
Aqui vivereis mil anos ao meu
Lado, e aqui a seu lado eu viveria
Mil anos acordado.

Que símbolos misteriosos
Poderiam ocultar a beleza
Que Alá faz raiar dessas areias
Onde o Egito nasce pedregoso
Árido e belo com imensos desertos
Onde minha alma pousou minha boca
Em seu coração de mariposa ?

Mil anos aqui viveria
Até acordar para te encontrar.
Juro por Alá e pela espada Santa
De Maomé :

Se tiver que nascer mil vezes
Aqui quero nascer

Se tiver que morrer mil vezes
Aqui quero morrer.

Ask

Ask

Estava curioso e sem fazer nada. Juntando as duas coisas me deu na mente ir fuçar numa rede social antiga chamada ask, onde você respondia perguntas de amigos, anônimos, etc...

Então percebi que curiosidade. Como o tempo passa. As perguntas são as mesmas, e as respostas às vezes diferentes do que penso hoje em dia.

A amizade não se perde. É um dom. Ao ler algumas coisas tolas, algumas respostas agradáveis e outras engraçadas, vendo anônimos irritados com alguma ociosidade vazia, fico perplexo.

Como o tempo seguramente sabe sei também perfeitamente que Deus para julgar o ser humano de fato irá olhar nossas redes sociais.

Tenho medo.

Pois agora, culpa do ask, sei que Deus já tem na ponta dos olhos as respostas das minhas perguntas!

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Eis

Eis os sonhos
O amor e os lírios
No campo a vida
Nos vales os suspiros
Eis os sonhos
Nos vales esqueçidos.

Sapatão



- Aquela ali.

- Pois é.

- Mó sapato.

- Não te creio.

- Pode acreditar.

- Tens certezas disso?

- Claro. Confirmo e carimbo em baixo: cem por cento sapatão.

- Meu Deus que mundo é esse em que estamos.

- Sim. Também não acreditei quando vi.

- Você viu?

- Claro. Eu que vendi.

- Oxi, você não tá dizendo que ela é lésbica?

- Seu tonto. Sapatão é por causa do tamanho dos sapatos que ela comprou. Ela tem um pé enorme.

- Pé grande? Desse tamanho...

- Por isso que eu digo. É o fim do mundo mesmo.

Chega



Ter certezas é perder tempo. Por isso é bom não ter muitas certezas. Nesses dias todos tem a certeza de que o país irá melhorar. Todos tem certeza. E se piorar? Pode ter certeza.

Em cada esquina, cada lugar, cada canto, as pessoas andam cheias de certezas. Resolvi não tê-las. Isso só pra bancar o modernista? De jeito nenhum.

Não tenho certeza se o mundo vai acabar. Existem os estúpidos que tem  certeza que vai.

Existe a certeza de que tal pessoa vai pro inferno. Eu não tenho essa certeza. Por que afinal não sei nem mesmo se o inferno existe.

 É possível existir o céu. Em cada canto você pode ver ele: em um beijo, em um gesto de compaixão, na humildade, no amor.

Ter certeza que vai chover é querer ser Deus. E quem se atreve a ter certeza disso? Por isso é bom não andar tendo muitas certezas.

Tenho certeza que vou morrer. Mas tem certeza que a morte é certa? E o que é estar certo nesses dias de tantas incertezas?

Se eu tenho certeza que é bom não ter certezas? Com certeza!

Ensinamento



  O guru ensina:

  - A glória do mundo é transitória. E não é ela que nos dá a dimensão da nossa vida,mas a escolha que fazemos de seguir a nossa lenda pessoal, de acreditar nos nossos sonhos e de lutar por eles.
  Somos todos protagonistas da nossa existência e, muitas vezes, são os heróis anónimos que deixam as marcas mais duradouras em nossas vidas, sem nenhuma explicação.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Brida e o seu dia de aflição

Brida e o seu dia de aflição

Brida estava cansada daquele dia. Tinha estado nervosa a maior parte do tempo. As pessoas não a compreendiam. O chefe falava bravo. Não era um dia de momentos bons.

  Ela estava ali na praça, e naquele instante ela sentiu uma sensação profunda da paz.
Somente ela conseguia contemplar a voz Deus. 

Lentamente de seu rosto desceu dos seus olhos verdes uma lenta lágrima. E mais uma, depois mais outra. Ela estava em prantos.

"Que dia horrível Senhor, que tive, será que entendes isso?"

De repente ela escutou uma voz.
"entendo".

Como que impressionada, ela perguntou ao Santo Espírito:

- Senhor, Como entendes o que sinto?

E a voz do Senhor a respondeu:

- Minha filha, eu também tive um dia em que me cansei de tudo o que estava acontecendo.

 Nesse momento ela viu uma mão pregada numa cruz, e entendeu que dia o Senhor estava lhe dizendo.

- Pai, perdoa me. Pois somente o Senhor conforta o coração dos homens. Obrigada pelo sinal do teu amor. Pois um dia de aflição ao seu lado é como estar vivendo no paraíso.

Uma vez

Uma vez

 Uma vez andei até um precipício. Sim, naquele precipício mesmo que você tá pensando. Não senti vontade de pular, porque bem, me lembrei que não sou um canguru. 

 Uma vez senti que ia dar risada na cara de um general gorducho que parecia o papai Noel. Pra me complicar mais a situação, o infeliz estava usando uma roupa vermelha, tinha uma pança gigantesca, e barbas maiores que a minha, já que minha religião é judaica.

Uma vez vi uma tartaruga de terno e gravata lendo Franz Kafka. Perguntei a ela se acreditava no amor dos homens. E ela deu gargalhadas angelicais.

Uma vez descobri que tinha uma anja debaixo da minha cama. E acabamos nos casando. A lua de mel foi no céu. Naquele dia descobri que estava morto.

Uma vez ressuscitei ao terceiro dia. Mas isso é uma história para ser contada uma outra hora...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Todos os nomes, o nome



A cada livro que fiz
Perdi meu nome na
Estrada seca de olhos.
Em uma navalha me
Chamaram Pedro,
Por causa do ocultismo
Virei Tadeu. Por ter
Nascido prata me
Nomearam Gabriel.
Enquanto os anjos
Recolhiam meu prepúcio
Nomearam minha alma
De Rafael. E quando a
Porta do ouro se secou
Me chamaram de Miguel.
Antes de dormir virei
Paulo com olhos de Borges.
E quando despertei do túmulo
Me nomearam Francisco Luna.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Ensinamentos


As Lágrimas Te Ensinam O Valor De Um Sorriso.

As Lutas Te Ensinam O Valor  De Uma Vitória .

O Tempo Te Ensina O Valor Da Espera .

E Deus Te Ensina O Valor Da Fé!

Um carinho sempre é bom













Lendas judaicas



Do rabino Elimeleque

O rabino Elimeleque havia feito uma bela pregação, e agora voltava para 
sua terra natal. Para homenageá-lo e mostrar gratidão, os fiéis resolveram seguir a 
carruagem de Elimeleque ate' que ela saísse da cidade. 

Em dado momento, o rabino parou a carruagem, pediu que o cocheiro 
seguisse adiante sem ele, e passou a acompanhar o povo. 

 - Belo exemplo de humildade - disse um dos homens ao seu lado. 

 - Não existe qualquer humildade no meu gesto, mas um pouco de 
inteligência - respondeu Elimeleque. - Vocês aqui fora estão fazendo exercício, cantando, 
bebendo vinho, confraternizando uns com os outros, arranjando novos amigos, tudo por 
causa de um velho rabino que veio falar sobre a arte da vida. Então, deixemos minhas 
teorias seguirem naquela carruagem, porque eu quero participar da ação.


O PAI DESOLADO 

O rabino Abrahão vivera uma vida exemplar. Quando morreu, foi direto 
para o Paraíso, e os anjos deram-lhe boas-vindas com cânticos de louvor. 

Mesmo assim, Abraão permanecia distante e aflito, mantendo a cabeça entre 
as mãos, e recusando-se a ser consolado.

 Finalmente, foi levado diante do Todo-Poderoso, 
e escutou uma voz, com infinita ternura, perguntar-lhe: 

- Meu adorado servo, que amargura carregas em teu peito? 

- Sou indigno das homenagens que estou recebendo – respondeu o rabino. – 
Embora eu fosse considerado um exemplo para o meu povo, devo ter feito algo de muito 
errado. Meu único filho, a quem dediquei o melhor de meus ensinamentos, tornou-se 
cristão! 

- Não se preocupe com isso – disse a voz do Todo-Poderoso. – Eu também 
tive um único Filho, e ele fez a mesma coisa.




A MÃE DESOLADA 
Contam os sábios do Oriente, mas apenas Jeová sabe de tudo!, que uma mãe judia tentou educar seu filho da 
maneira mais tradicional possível. 

O rapaz, porém, tinha uma personalidade forte, e fazia 
apenas aquilo que o seu coração lhe indicava. 

Quando morreu, assim como o rabino Abraão da história acima, ela foi 
direto para o céu - já que tinha sido um exemplo de dedicação na Terra. Ali chegando, 
contou às outras mães sua agonia com o filho – e descobriu que nenhuma delas estava 
satisfeita com os caminhos que seus descendentes haviam seguido. 
Depois de dias de conversa – onde lamentavam não terem sido fortes o 
suficiente para controlar a família – o grupo viu Maria passando. 

- Aquela ali conseguiu educar seu filho! – disse uma das mães. 

Imediatamente, todas se dirigiram até Maria, e elogiaram a carreira 
de Jesus. 

- Ele foi um sábio – disseram. – Cumpriu tudo que tinha lhe sido destinado, 
andou no caminho da verdade, não se desviou um só minuto, e até hoje é motivo de orgulho 
para sua família! 

- Vocês têm toda razão – respondeu Maria. – Mas, para falar a 
verdade, meu sonho era que ele tivesse sido um médico...


ONDE DEUS MORA?

O grande rabino Isaque, quando ainda estudava as tradições de seu 
povo, escutou um de seus amigos dizer, em tom de brincadeira: 

- Eu lhe dou uma moeda se você conseguir me dizer onde Deus mora. 

- E eu lhe darei duas moedas, se você me disser onde Deus não mora – 
respondeu Isaque.


O MOMENTO DA AURORA 

Um rabino reuniu seus alunos, e perguntou: 

- Como é que sabemos o exato momento em que a noite acaba e o dia 
começa? 

- Quando, a distância, somos capazes de distinguir uma ovelha de um 
cachorro - disse um menino. 

O rabino não ficou contente com a resposta. 

- Na verdade - disse outro aluno -sabemos que já é dia quando podemos 
distinguir, à distância, uma oliveira de uma figueira. 

- Não é uma boa definição. 

 - Qual a resposta, então? - perguntaram os garotos. 

E o rabino disse: 

- Quando um estrangeiro se aproxima, e nós o confundimos com o nosso 
irmão, este é o momento em que a noite acabou e o dia começa.



A RESPOSTA 
Certa vez um homem interrogou o rabino Joshua Ben Ibrahim

- Por que Deus escolheu uma sarça para falar com Moisés? 

O rabino respondeu: 

- Se Ele tivesse escolhido uma oliveira ou uma amoreira, você teria feito a 
mesma pergunta. Mas não posso deixa-lo sem uma resposta: por isso digo que Deus 
escolheu uma mísera e pequena sarça para ensinar que não há nenhum lugar na terra 
onde Ele não esteja presente.


NAO ESQUEÇA DE GUARDAR A CAIXA 

O velho trabalhou a vida inteira. Ao aposentar-se, comprou uma fazenda - 
para que seu filho a administrasse - e resolveu passar o resto de seus dias na varanda da 
casa principal. 
O filho trabalhou durante três anos. Então começou a ficar com raiva. 
- Meu pai não faz nada – comentava com seus amigos. – Passa sua vida 
olhando o jardim, e me deixa trabalhar como um escravo, para que eu possa alimenta-lo. 
Um dia, resolveu acabar com a situação injusta. Construiu uma grande caixa 
de madeira, foi até a varanda, e disse: 
- Papai, por favor, entre aí. 
O pai obedeceu. O filho colocou a caixa em seu caminhão, e foi até a beira 
de um precipício. Quando se preparava para joga-la lá embaixo, escutou a voz do pai: 
- Meu filho, pode atirar-me do despenhadeiro, mas guarde a caixa. Você está 
dando o exemplo, e seus filhos, na certa, vão precisar usá-la com você.


Narciso, conto de Salomão

Quando Narciso morreu, vieram as Oréiades – deusas do bosque 
– e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas. 

- Por que você chora? – perguntaram as Oréiades. 

- Choro por Narciso. 

- Ah, não nos espanta que você chore por Narciso – continuaram elas. – 
Afinal de contas, apenas de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o 
único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza. 

- Mas Narciso era belo? – quis saber o lago. 

- Quem melhor do que você poderia saber? – responderam, surpresas, as 
Oréiades. – Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias. 

O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse: 

- Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo. 

“Choro por ele porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas 
margens, eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida”. 


É PRECISO MANTER O DIÁLOGO 

A esposa do rabino Iaakov era considerada por todos os seus amigos como 
uma mulher muito difícil; por qualquer pretexto iniciava uma discussão. 
Iaakov, porém, nunca respondia as provocações. 

Até que, no casamento de seu filho Ishmael, quando centenas de convidados 
comemoravam alegremente, o rabino começou a ofender sua mulher – mas de tal maneira, 
que todos na festa puderam perceber. 

- O que aconteceu? – perguntou um amigo de Iaakov, quando os ânimos 
serenaram. – Por que abandonou seu costume de jamais responder às provocações? 

- Veja como ela está mais contente – sussurrou o rabino. 

De fato, a mulher agora parecia estar se divertindo com a festa. 

- Vocês brigaram em público! Não entendo nem sua reação, nem a dela ! – 
insistiu o amigo. 

- Faz alguns dias, entendi que o que mais perturbava minha mulher era o 
fato de eu ficar em silêncio. Agindo assim, eu parecia ignora-la, distanciar-me com 
sentimentos virtuosos. e faze-la sentir mesquinha e inferior. 

“ Já que a amo tanto, resolvi fingir perder a cabeça na frente de todo mundo. 
Ela viu que eu compreendia suas emoções, que era igual a ela, e que ainda quero manter o 
diálogo”.


 A VERDADEIRA IMPORTÂNCIA 

 Jean passeava com seu avô por uma praça de Paris. A determinada altura, 
viu um sapateiro sendo destratado por um cliente, cujo calçado apresentava um defeito. 


 sapateiro escutou calmamente a reclamação, pediu desculpas, e prometeu refazer o erro. 

 Pararam para tomar um café num bistrô. Na mesa ao lado, o garçom pediu a 
um homem que movesse um pouco a cadeira, para abrir espaço. O homem irrompeu numa 
torrente de reclamações, e negou-se. 

 - Nunca esqueça o que viu - disse o avô para Jean. - O sapateiro aceitou 
uma reclamação, enquanto este homem a nosso lado não quis mover-se. Os homens úteis, 
que fazem algo útil, não se incomodam de serem tratados como inúteis. Mas os inúteis 
sempre se julgam importantes, e escondem toda a sua incompetência atrás da autoridade.


O rabino e o perdão 

A historia é atribuída ao grande rabino Bal Shen Tov. Conta-se que ele 
estava no topo de uma colina, com um grupo de estudantes, quando viu um grupo de 
cossacos atacarem a cidade e começarem a massacrar as pessoas. 
Vendo muitos de seus amigos, lá embaixo, morrendo e pedindo misericórdia, 
o rabino exclamou: 
- Ah, se eu pudesse ser Deus! 
Um discípulo, chocado, virou-se para ele: 
- Mestre, como ousa proferir uma blasfêmia destas? Quer dizer que, se o 
senhor fosse Deus, ia agir de maneira diferente? Quer dizer que o senhor acha que Deus 
muitas vezes faz o que é errado? 
O rabino olhou nos olhos do discípulo, e disse: 
- Deus sempre está certo. Mas se eu pudesse ser Deus, eu saberia entender o 
que está acontecendo.


É’ TUDO UMA QUESTÃO DE TEMPO 
Um judeu ortodoxo aproximou-se do rabino Wolf: 
- Os bares andam cheios, e as pessoas varam a madrugada divertindo-se! 
O rabino nada respondeu. 
- Os bares andam cheios, as pessoas passam a noite em claro jogando cartas, 
e o senhor não diz nada? 
- É bom que os bares andem cheios – foi o comentário de Wolf. – Todo 
mundo, desde o principio da criação, sempre desejou servir a Deus. O problema é que nem 
todos sabem a melhor maneira de faze-lo. Procure julgar o que acha pecado, como se fosse 
uma virtude. Estas pessoas que passam a noite em claro estão aprendendo a permanecer 
despertas e persistir em algo. Quando se aperfeiçoarem nisso, tudo que terão que fazer é 
voltar seus olhos para Deus. E que servos excelentes eles serão! 
- O senhor é muito otimista – disse o homem. 
- Não se trata disso – respondeu Wolf. – Trata-se de entender que qualquer 
coisa que fazemos, por mais absurda que pareça, pode nos levar ao Caminho. É tudo uma 
questão de tempo. 



domingo, 17 de fevereiro de 2019

Os avisos

Os avisos


Um dia, um jovem ajoelhou-se nas margens de um rio. Ele colocou os braços na água para refrescar o rosto e lá, na água, ele viu a imagem da morte. Ele levantou-se muito assustado e perguntou:

-Mas o que você quer? Sou jovem! Por que você vem me pegar sem avisar?

"Eu não venho procurar por você", respondeu a voz da morte. Acalme-se e vá para casa, porque estou esperando por outra pessoa. Eu não vou procurá-lo sem avisá-lo, prometo.

O jovem entrou em sua casa muito feliz. Ele se tornou um homem, casado, teve filhos, seguiu o curso de sua vida tranquila. Um dia de verão, encontrando-se ao lado do mesmo rio, ele parou novamente para se refrescar. E ele viu novamente a face da morte. Ele cumprimentou-a e quis levantar-se. Mas uma força o manteve ajoelhado junto à água. Ele ficou com medo e perguntou:

-Mas o que você quer?

"É você que eu amo", respondeu a voz da morte. Hoje vim procurar você.

"Você me prometeu que não viria me procurar sem me avisar primeiro!" Você não cumpriu sua promessa!

-Eu te avisei!

-Você me avisou?

De mil maneiras. Toda vez que você olhou para um espelho, viu suas rugas aparecerem, seu cabelo ficou branco. Você sentiu que estava com falta de ar e que suas articulações endureceram. Como você pode dizer que eu não te avisei?

E a morte levou ele para o fundo da água.

O Vento, Areia e as Estrela



Paulo Borges

Prólogo

 O frio do vento fez os pequenos pingos da chuva caírem no meu rosto. Ela ainda estava lá descendo a estrada em direção da cidade.

  Eu via os seus cabelos sendo levantados pelo vento, e pensei que ela estava livre para ser conduzida pela estrada que ela quisesse. Foi nesse instante que senti alguém sentando do meu lado.

- Você vãi deixar ela ir embora assim? -Uma voz me perguntou.

- O que eu posso fazer? -respodi. - Por acaso devo obrigar ela a ficar aqui comigo?

 Uma mão gelada me tocou. Senti um conforto como uma carícia que a tempos eu não recebia.

- Se quiser você pode se levantar e ir até ela e dizer o que sente. Tudo é possível para o que crê. Lembre-se sempre disse.

Quando virei para olhar e ver a pessoa que estava falando comigo, me vi completamente sozinho. Só uma pequena vaca pastava ao longe, do outro lado, na terra do vizinho.

 Entendi que um anjo tinha falado comigo. Ele tinha razão. Eu não podia deixar ela ir embora da minha vida.


Começo
 Quando cheguei na pequena cidade eu já tinha vivido muitas experiências. Eu não era um homem tolo, não no sentido de se deixar apaixonar por qualquer pessoa. Ia fazer vinte anos que eu estava no caminho da magia, um caminho nada peculiar, e até mesmo muito difícil de ser entendido.

 O meu currículo de vida podia ser resumido ao mais comum de todos: eu era um aluno medíocre, mas consegui me formar em uma universidade graças às boas condições sociais de meus pais. Não fui muito namorador, tive sorte de perder a virgindade com a empregada que tinha uns trinta anos.

 Por mais falador que eu fosse sempre gostei de me afundar em livros.

Principalmente em livros que falassem de magia ou religião. Quando me diplomei na faculdade senti um enorme vazio e uma sensação de que nada fazia sentido. Eu estava precisando de um choque de realidade. Porque às vezes grandes choques nos trazem vida.

Comecei a viajar. Nesse tempo encontrei o meu guia, um homem magro e ossudo, sempre disposto a falar em parábolas. Sua simplicidade me cativou até o fundo da alma.

Os mistérios do mundo da magia são muitos. As vezes é um caminho áspero, ele me dizia, olhando a estrada que eu devia percorrer para a minha Iniciação. Agora me diga, ele me disse, entre uma estrada com espinhos e uma estrada de asfalto, qual você percorreria?

-Mestre, e claro que eu percorreria a estrada de asfalto -respondi sem hesitar.-É a mais fácil.

-Por ser a mais fácil isso torna sua escolha a mais comum e a mais difícil. A estrada com espinhos só pode atravessar os valentes, os guerreiros, os santos, os profetas de Deus.

-Isso quer dizer que não posso entrar na Ordem?

-Claro que pode -ele me respondeu.-Mas você tem que lembrar que nossos caminhos nem sempre são lisos. Nem toda estrada asfaltada é boa para andar.

-Eu entendo mestre.

-Essa cidadezinha a frente tem uma pessoa que você vai encontrar que vai te ensinar umas lições. Depois de aprender todas elas você será um Guerreiro da Luz. Um membro da Ordem.

A cidade

Eu cheguei na cidade a noite, estava cansado e sozinho, perguntei a um homem que andava onde eu podia me hospedar.

Ele me apontou um pequeno estabelecimento perto da estrada de onde eu estava vindo. Fui para lá enquanto o céu parecia anunciar uma tempestade. Quando cheguei perto do local vi uma linda mulher de cabelos ruivos sentada na escada.

- O mestre disse que você viria - ela disse sem cerimônia. - Pode entrar. Seu quarto é o de número cinco.

 Me apresentei a ela esperando também ouvir seu nome. Seu silêncio me incomodou profundamente. Ela me olhava de cima para baixo, como se analisasse a minha alma.

- Não se preocupe - ela falou sem eu menos esperar. - Amanhã eu me apresento direito. Você está com olheiras e cansado. Durma. A cidade vai está de pé amanha de manha e eu tambem.

Achei graça no que ela disse, mas fiz como devia fazer. Escrevi meu nome na lista de hóspedes, subi até o quarto de número cinco e adormeci rapidamente.

Tive um sonho muito estranho. Sonhei que estava no campo olhando muitas ovelhas, e a estranha moça de cabelos ruivos ali estava comigo. Ela me apontava uma pirâmide, e dizia que ali estava o meu tesouro. O vento assoprava forte e uma voz dizia onde está o seu tesouro ali estará também o seu coração.

Acordei às sete horas da manhã. Levantei para tomar o café da.mesa. Comprimento com um aceno a dona da pousada, e vi a figura da mulher que havia falado comigo na noite anterior. Quando me sentei na mesa, novamente tive a sensação de que ela estava lendo a minha alma. Também notei que ela era muito mais bonita, um pouco branca e com um nariz arrebitado muito bonito. Seus olhos de uma cor verde me fizeram pensar se ela fosse irlandesa ou francesa. E realmente acertei no palpite.

- Me chamo Lana - ela disse, e na sua voz pousava um ar de mistério. - Sou parte da Ordem dos Três Caminhos. Estou aqui porque Mathias me disse que você é um iniciado.

- Sim, sou. Mas não sei por onde começar.
- Não tenha pressa. Aliás não tenha pressa de nada. Tudo o que tem que acontecer acontecerá. Se for pra você entrar na ordem, você entrara. Se não for...

- Já sei - interrompi meio zangado. - Não vou entrar.

- Não. Podemos te fazer membro honorário.

  Eu ri, sempre pensei que os Magos da Ordem fossem todos sérios.
Tomei o café e senti um doce perfume.

- Poxa vida -disse. - Que perfume bom que você está usando!
- Esse perfume que você está sentindo - Lana respondeu. - Não vem de mim, e sim da Força de Lótus.

 Não acreditei no que eu ouvia. Ela possuía o Dom de Lótus, uma das maiores forças espirituais dentro da Ordem.

Antigamente os membros da Ordem eram expulsos de todos os países onde tinham vínculos. E muitos com o Dom de Lótus era mortos, porque tinha forças espirituais além da nossa compreensão. Fiquei completamente encantado com Lana.

- Vamos - ela me disse. - Vamos dar uma volta pela cidade.

 A cidade não era muito grande. A única coisa que chamava a atenção era uma igreja bem no meio. As casinhas de madeira pareciam antigas, e as que eram feitas de tijolos lembravam as construções barrocas.

Um rio cruzava a cidade, e muitos turistas pareciam percorrer ela com muita vivacidade.

- Aqui sempre foi um centro de peregrinação para nossa Ordem.

- Essa cidade? Pensei que fosse em uma cidade mais ... Mística....

- Não é o lugar que transforma a pessoa. E sim a pessoa que se transforma no lugar.
É claro que Lana tinha razão. Percebi que além de muito bonita ela era muito sabia. Assim como o Mestre, ela tinha respostas na ponta da língua. Parecia sempre saber onde o meu pensamento estava me levando. Eu queria ser um membro da Ordem o mais rápido possível. Sempre fui uma pessoa apressada para as coisas desde pequeno.

- Você precisa aprender a ter paciência. Veja o rio. Ele não se apressa em ir para o mar. Ele simplesmente flui silencioso dentro da noite. Veja as estrelas. Que pressa elas têm em aparecer no céu enquanto o sol está brilhando? Elas brilham no momento certo, na hora certa. Tudo o que parece atrasado está sendo pontual. Até um relógio parado continua sabendo qual é o seu trabalho e por dentro de si continua a marcar as horas.

 Eram belos ensinamentos que eu desejava anotar em algum lugar. Como se soubesse a minha intenção ela me disse:

- Não precisa anotar essas coisas no papel. Escreva elas na tábua do seu coração.

E foi o que fiz.

Os três caminhos


-Todos os que iniciam os Caminhos Sagrados da Magia precisam aprender que existem apenas três caminhos.

 Cada caminho leva a algo, e cada coração está apto para encarar esses caminhos.

- Pode me explicar isso, Lana. Estou meio confuso.

- Claro que posso. E não só posso, como devo. Veja o exemplo dos Evangelhos. Os Quatro Evangelhos contam a vida do Mestre dos Mestres Jesus Cristo. Ambos são diferentes em si. Mas levam ao mesmo caminho: o caminho da verdade e da vida. O próprio caminho é a verdade. Não existe erro. Consegue entender isso?

 - Consigo.

- Então você não és tão burro como eu pensava.

 Lana era uma mulher atraente mas não deixava de dizer o que pensava. Isso criou um grande respeito entre mim e ela. Sei que eu não era seu discípulo ela só estava ali para me orientar, mas mesmo assim comecei a ver que ela não era apenas uma Iniciadora comum. Lana era uma feiticeira.

 - Os Três Caminhos assim são chamados pela força que os conecta. A Força é Deus, e Deus é a verdade. Esses são os caminhos que você irá conhecer, aprender, experimentar e então será consagrado:
O caminho do Vento, o caminho da Areia e o Caminho das Estrelas. Os três são um só. Assim como uma árvore tem vários ramos e é uma. Assim como Deus para os cristãos é três sendo Um só.

 Ao falar essas coisas senti um leve arrepio percorrendo a minha alma. Lana mandou eu fechar os olhos para sentir o Vento que passava.

- Não se assuste com o que pode acontecer. Você poderá ouvir anjos, demônios, sim. Mas lembre que Deus é o teu escudo e a tua fortaleza. Vamos começar pelo caminho do Vento. Se você estiver disposto.

- Eu estou.


Quando voltamos até a pousada vi que Lana não tinha falado nada. Ela estava dormindo ao lado do quarto onde eu estava, e logo ela saiu para jantar.
 Sempre fui muito curioso e também sempre dei em cima das mulheres. O que não é nenhum  pecado. Queria saber sua história, se ela era ou não uma feiticeira. De onde ela vinha, e como entrou na Ordem.

Ela começou me contado que não tinha nascido ali, mas conhecia Tarbes de tras pra frente. Ela tinha bisavós irlandeses, e na infância foi uma menina quieta e tímida.
 Disse que tinha uma irmã, mais bonita e mais inteligente. Sem muitos amigos ela decidiu que iria se destacar em algo. E começou seu aprendizado no mundo da magia.

 Foi aí, ela contou, que decidi ser uma feiticeira quando encontrei um grupo da Ordem dos Três Caminhos. Percebi que o caminho da magia pode ser acessado por qualquer pessoa. Não é preciso dons, não é possível que as pessoas não entendam isso.

Lana tinha um jeito marrento de ser, mesmo assim ela era muito encantadora. Me contou que conheceu o Mestre quando foi viajar pelo Caminho das Estrelas.

 - Mas então eu vou ter que viajar para outros lugares para ser aceito na Ordem.

- É claro que não. Pare de bancar o tonto. Suas lições podem ser feitas aqui. O lugar não é importante, já te disse isso. O importante é a sua compreensão dos Três Caminhos.

- E quando vamos começar ?

- Você é muito impaciente. Isso não é bom para um Guerreiro da Luz. Mesmo assim espere. Nós vamos começar pelo Primeiro Caminho.

O Caminho do Vento


O horizonte se tingiu de vermelho, e depois apareceu o sol. Me lembrei da conversa com Lana e senti uma estranha alegria;

 Eu tinha conhecido muitas mulheres (mas nenhuma igual àquela).

  O mais importante,
entretanto, é que eu ia começar o Caminho.
Todo dia eu ia realizar o grande sonho da minha  vida.

"Não sei como as pessoas buscam Deus em um lugar como esse”, falou Lana, enquanto olhavamos o sol que nascia ao lado da igreja.

"O mundo é grande e inesgotável, o problema é que elas não se dão conta de
que estão fazendo caminhos novos a cada dia. Não percebem que os pastos mudam, que as estações são diferentes – porque essa é a graça de Deus.”

- Talvez seja assim com todos nós – falei para ela.

Lana me observou com atenção como sempre fazia.

- O destino muda tudo...

Sua voz parecia uma suave rosa sendo alisada pela brisa do campo.

Lana continuou em silêncio por algum tempo. Depois tornei a falar para ela do estranho sonho que tive com ela.
– Posso te dizer o que ele significa – disse ela. Mas é preciso ter olhos de ver e ouvidos para ouvir para compreender os mistérios.


– Então interprete o sonho – pedi e contei a ela tudo.


– É um sonho que fala do Caminho do Vento – disse ela. – Posso interpretá-lo, e é
uma interpretação muito difícil. Porque esse é o primeiro Caminho da Tradição.


– Seu sonho é um sonho muito difícil. As coisas simples são as mais difíceis e só os sábios conseguem percebe-las.

– Então não sou muito sábio.

– Não. Não é nada sábio. Vou te explicar o Caminho do Vento agora.

Saimos andando pelas ruas estreitas. Em todo canto haviam barracas de coisas para vender. Chegamos enfim no meio de uma grande praça, onde funcionava o mercado.
Havia muitas pessoas na rua.

De repente, no meio de toda aquela confusão, uma imensa ventania começou. Como se fosse chover.


Meu coração ficou pequeno, como se o peito tivesse subitamente encolhido.
Tive medo de olhar para o lado, porque sabia o que ia encontrar. Os olhos de Lana continuaram fixos em mim.

Em volta dela o mercado, as pessoas indo e vindo, gritando e arrumando as coisas por causa da chuva, que parecia que ia desaguar a qualquer momento.

- O Caminho do Vento permite que as pessoas comuns façam ventar.

- Como posso fazer isso? Eu não tenho o dom.

- Se você acreditar em você, verá que e capaz de fazer chover. Feche os olhos.

Fechei os olhos e quando Lana pediu para mim voltar a abrir que a ventania tinha passado.

- Não se esqueça que Jesus disse que faríamos obras maiores.

- O Caminho do Vento e a fé? - perguntei.

- Sim.

 Fiquei em silêncio por algum tempo, ouvindo o som das pessoas.

Depois, Lana se virou e falou:

– Há dois mil anos, numa terra distante, jogaram num poço e venderam
como escravo um homem que acreditava em sonhos –
compraram e o trouxeram para o Egito. E todos nós sabemos que, quem acredita em
sonhos, também sabe interpretá-los.
 Por causa dos sonhos do faraó com vacas magras e gordas, este homem
livrou o Egito da fome. Seu nome era José. Era também um estrangeiro numa terra
estrangeira. Ele seguiu a Tradição do Vento. O Caminho do Vento é a fé.
Sempre seguimos a Tradição.  A Tradição ensina como os homens devem
atravessar o deserto. A Tradição é a fé.
 A Tradição diz também para acreditarmos nas mensagens do deserto. É preciso aprender com o deserto. O que tem no deserto?

- Areia

- Tudo que sabemos foi o deserto que nos ensinou. Agora eu vou te ensinar o Caminho da Areia.
O Caminho da Areia

Na manha seguinte nos levantamos. Eu tinha aprendido que o Caminho do Vento dependia da fé. E agora queria aprender que ensinamentos o Caminho da Areia iria trazer para a minha alma.

 Lana estava do meu lado usando uma roupa muito confortável. Começamos a andar até chegarmos em um lugar arenoso.



Andamos por quase todo o resto da tarde sem conversar nada.  Estavamos isolados em nossa convivência forçada.  Ao ir do lado de Lana fui percebendo o quanto ela era uma mulher linda. As lições do Vento me mostraram que ela podia fazer ventar com muita facilidade. Ela me disse que isso não era bem assim. Nem tudo pode ser feito da maneira que queremos, falou, tudo depende do momento e da hora.

- E sobre o que é Caminho da Areia?

– Hoje em dia Deus é apenas um conceito, quase provado cientificamente. Onde você desejar ver a face de Deus, você a verá. E se não quiser vê-la, isto
não faz a mínima diferença, desde que sua obra seja boa. O Caminho da Areia fala sobre o Amor. O Amor é aquilo que nos move. O Amor de Deus é a verdadeira força. A Ordem obedece sempre o que Deus nos ensina: a fé, o amor. Força vital que rege a existência.

- Eu consigo compreender Lana. É como o que sinto por você. Amor.

Lana suspirou como se esperasse ouvir isso.
- A grande capacidade do ser humano está no de poder fazer suas escolhas. Ninguém escolhe se apaixonar. Ninguém escolhe nascer em tal país. Mas as pessoas conquistam. Quando você quer algo a vida quer que você conquiste o que deseja.

- Lana, e porque o Caminho é representado pela areia?

- A areia serve para amaciar os pés, e também para chegar os olhos. Nem tudo o que é belo é reluzente.

- Qual o propósito desse caminho?

- O deserto está cheio de areia, e é no deserto que o homem tem o coração provado. Ao falar isso os olhos de Lana brilhavam. - Só depois de aprender a ver é que você poderá decidir se as coisas são importantes ou não. Você já é adulto o bastante para saber que um homem de conhecimento vive por seus atos, não por pensar nos atos, nem por pensar no que vai pensar depois de agir. Um homem de conhecimento escolhe o caminho do coração e o segue. Depois, olha o mundo a sua volta, fica contente, e ri. Porque ele sabe que sua vida terminará muito depressa. Sabe, porque vê, que nada é mais importante do que qualquer outra coisa. Um homem de conhecimento não é fiel a nada, apenas à maneira que decidiu viver sua vida.

- E alguém pode escolher viver apenas de amor?

Lana disse: Já lhe disse que, quando você fala, só faz é confundir-se mais.– Mas, pelo menos, agora está consciente de que está esperando que a sua vontade se manifeste. Ainda não sabe como ela é, nem como vai chegar até você. Mas entenda uma coisa: aquilo que poderá ajudar a receber e desenvolver sua vontade está no meio das pequenas coisas Preste atenção a elas!

Olhei ao redor e vi no meio da Areia que nos cercava um grande campo cheio de árvores frutíferas: Laranjeiras, macieiras e limoeiros. 


- Esse vida no deserto. A areia não representa apenas morte.


- Não. Não representa. Agora você já está pronto para o último caminho: o Caminho das Estrelas.



O Caminho das Estrelas


Ao confessar o meu amor por Lana pensei que ela também iria me corresponder. É difícil conquistar o coração de uma feiticeira. Mais não é impossível.


Traçamos nossas vidas pelo poder de nossas escolhas. Quando nossas escolhas são feitas passivamente, quando não somos nós mesmos que traçamos nossas vidas, nos sentimos frustrados. Uma pequena mudança hoje pode acarretar-nos um amanhã profundamente diferente. São grandes as recompensas para aqueles que têm a coragem de mudar, mas essas recompensas acham-se ocultas pelo tempo.


Geramos nossos próprios meios. Obtemos exatamente aquilo pelo que lutamos. Somos responsáveis pela vida que nó próprios criamos. Quem terá a culpa, a quem cabe o louvor, senão a nós mesmos? Quem pode mudar nossas vidas, a qualquer tempo, senão nós mesmos?

Deus sabe que isto é verdade. Eu iria aprender mais sobre os Caminhos. Mas o Último Caminho poderia ser a minha provação. 

Esperamos anoitecer para sair. Lana parecia ainda  mais bonita sobre a luz das estrelas. Paramos e ela começou a falar:


Quase todos nós percorremos um longo caminho. Fomos de um mundo para outro, que era praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viéramos, não nos preocupando para onde íamos, vivendo o momento presente. Uma alma gêmea é alguém cujas fechaduras coincidem com nossas chaves e cujas chaves coincidem com nossas fechaduras. Quando nos sentimos seguros a ponto de abrir as fechaduras, surge o nosso eu mais verdadeiro e podemos ser completa e honradamente quem somos. Cada um descobre a melhor parte do outro.


- Lana, eu disse sem querer, eu te amo!


Ela me olhou nos olhos. 


- O Caminho das Estrelas é o Caminho da Vitória. Todo Guerreiro da Luz tem sua luta. E em toda luta existe a vitória ou a derrota. A sua vitória foi passar nessa cidade e aprender as Práticas Antigas da Ordem dos Três Caminhos. Você já pode ouvir a lua, os anjos, as estrelas, se quiser. Deve aclarar os seus sentimentos. 


Lana me estendeu um broche e eu segurei suas mãos.


– Você é mestre de sua vida? – perguntei pra ela.

– Claro que sou! Eu, você e todos os outros. Mas nos esquecemos disso.
– Como eles fazem isso?
– Como quem faz o quê?
– Como os mestres mudam sua vida quando querem?
Ela Sorriu a esta pergunta.
– Com armas poderosas.
– O quê?
– Outra diferença entre mestres e vítimas é que as vítimas não descobriram as armas poderosas e os mestres as usam o tempo todo.
– Furadeiras elétricas? Serras circulares? – Ele parecia um náufrago em busca de socorro. Um bom professor o teria deixado descobrir a resposta sozinho, mas eu falo demais para um professor.
– Nada disso. 'Escolha'. A lâmina encantada com um fio que modela as existências. Se ainda assim temos medo de escolher outra coisa que não o que já temos, o que adianta escolher? A escolha é a arma do sábio. E você escolheu chegar até aqui. Você deve escolher todo o resto. Parabéns, você já pode participar das reuniões da Ordem.

Lana voltou pela estrada e eu consegui ver seus cabelos esvoaçantes pelo vento. Eu era um Guerreiro da luz. 


O conselho do anjo falou fundo na minha alma. Eu não podia deixar Lana sair da minha vida. 

- Lana, gritei, me espera.

Ela virou o rosto e pela primeira vez que nos encontramos ela sorriu. 

Os Três Caminhos me conduziram até o meu Tesouro.

Fim.