terça-feira, 26 de agosto de 2025

Interesse de longa data

para josé saramago e jorge amado


O interesse de longa data pelo homem, pelos seus símbolos e deuses, e pela posição do Homem tanto como indivíduo como humanidade num mundo onde o Divino já não está presente já não fala, paira sobre nós como uma sombra silenciosa que se alonga ao sol da manhã e se retira à noite, sem que possamos tocá-la, sem que possamos medir sua ausência, e ainda assim sentimos a urgência de compreender, de nomear, de arrancar de nós mesmos a certeza de que algo que foi outrora completo agora se mostra incompleto, fragmentado, e que tudo aquilo em que acreditamos, tudo aquilo que chamamos de verdade, repousa na dúvida, e que talvez seja essa mesma dúvida o único sinal de que alguma vez estivemos próximos do divino, mesmo que o divino não fale, mesmo que não nos veja, mesmo que nos deixe sós com o peso de nossos símbolos e de nossas perguntas, e que o homem, sim o homem, com sua fragilidade e sua força, com seu riso e seu choro, com a fome e a esperança, continua a caminhar, a construir, a destruir, a tentar compreender a posição que ocupa no mundo, e nisso consiste toda a nossa história, todo o nosso esforço, toda a nossa solidão compartilhada, porque não há resposta que nos seja dada de fora, só o eco de nós mesmos, só o interesse de longa data pelo homem.



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