londres acorda com o peso da névoa
o big ben marca a hora para quem não quer se atrasar
e o rio tâmisa corre como se tivesse aprendido etiqueta
berlim respira história pelas cicatrizes
os muros caíram mas permanecem nas pupilas
cada esquina é uma frase que alguém não terminou
paris é um quadro pendurado em si mesma
o sena reflete a torre e as pombas sabem pousar
as ruas sabem fingir que não envelhecem
mas são paulo —
são paulo não finge, não disfarça
é um rugido de ônibus na madrugada
um mar de gente que se empurra para existir
a chuva bate no concreto e volta como vapor quente
o vento é fumaça de churrasquinho e gasolina
a beleza está no corpo que atravessa a avenida
no grafite que desafia o vidro das torres
na pressa que se recusa a ser elegante
na mistura que engole línguas, sotaques, fomes
e cospe música, negócios, beijos, assaltos, invenções
londres mede, berlim lembra, paris posa
são paulo explode — e continua
a mais bonita porque é a mais viva
a mais viva porque é a mais caótica
e o caos, aqui,
tem o rosto de uma cidade que não sabe parar
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