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No inverno russo,
a neve pousa nos telhados
como um pincel pousa na tela:
lenta, precisa, inevitável.
*
No verão brasileiro,
o mar se abre em cores tão vivas
que parecem vir do mesmo lugar
onde Picasso guardava suas tempestades.
*
Suas pinturas respiram
o ar frio das estepes
e o vento quente das praias.
Há nelas a curva de um cavalo no campo
e o gesto de uma morena ao sair do banho.
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Os azuis de Picasso são rios congelados
que, ao derreter, se tornam samba.
Seus vermelhos são o sangue dos poentes
tanto sobre a taiga quanto sobre o morro.
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Olho Guernica
e vejo, ao mesmo tempo,
os sinos de Moscou sob a neve
e as buzinas do Rio ao entardecer.
*
Picasso vive
porque o mundo inteiro cabe num quadro seu:
o frio que corta o rosto na Rússia,
o calor que molha a pele no Brasil,
a memória que atravessa fronteiras
e ainda assim reconhece,
no traço firme,
o pulso humano.
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...
...
...
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