quarta-feira, 13 de agosto de 2025

elogio do caos de são paulo


londres acorda com o peso da névoa

o big ben marca a hora para quem não quer se atrasar

e o rio tâmisa corre como se tivesse aprendido etiqueta


berlim respira história pelas cicatrizes

os muros caíram mas permanecem nas pupilas

cada esquina é uma frase que alguém não terminou


paris é um quadro pendurado em si mesma

o sena reflete a torre e as pombas sabem pousar

as ruas sabem fingir que não envelhecem


mas são paulo —

são paulo não finge, não disfarça

é um rugido de ônibus na madrugada

um mar de gente que se empurra para existir

a chuva bate no concreto e volta como vapor quente

o vento é fumaça de churrasquinho e gasolina


a beleza está no corpo que atravessa a avenida

no grafite que desafia o vidro das torres

na pressa que se recusa a ser elegante

na mistura que engole línguas, sotaques, fomes

e cospe música, negócios, beijos, assaltos, invenções


londres mede, berlim lembra, paris posa

são paulo explode — e continua

a mais bonita porque é a mais viva

a mais viva porque é a mais caótica

e o caos, aqui,

tem o rosto de uma cidade que não sabe parar



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