sábado, 23 de junho de 2018

Quebrado ou recomposição de outrora

Quebrado ou recomposição de outrora

para w.b. yeats 

Basta de luas quebradas nesses sonhos 
incompletos de mais indolente fogo ou neve.
Colinas acimas estamos com frio,
e o vento é o abrigo dos olhos desesperados. 

As cortinas abrigam nossas almas,
soluços de querubins negros, cor de petróleo,
e as asas de serafins belos, semelhantes
as mulheres que brilham com a pele de estrela.

As luas são o ponteiro da terra,
a terra é o ponteiro imóvel de um relógio quebrado
que gira mais rápido que o tédio
infinito que move todas as coisas no cosmo.

Existência, profunda como o mel das abelhas,
o ar que respiro é a fonte onde
o meu sofrimento é um urso de patas quebradas
e a minha alegria um elefante que recita poesia
de memória.

Chega de atirar pregos contra os inimigos,
pregos enferrujados que podem gerar fragmentos de milhos.
Eu quero o martelo, lançá-lo contra os bárbaros,
o martelo ou a foice, qualquer coisa que corte.

Os olhos fechados como caramujos encolhidos
enxergam do outro lado o rio que corre
desesperado para beijar o mar,
o mar, esse leite grosso e quente como o gozo.

E mesmo assim todas as coisas
estão diretamente interligadas ao vazio.
Como peixes sem cartola percorremos
as cidades, as tumbas, as lojas, as festas.

Toquem o clarim enquanto cavalgo
com os meus pés de hipopotamo
por esse mundo estranho, sem significados.

Grito como sempre, com a voz de panela:
Basta de luas quebradas nesses sonhos 
incompletos de mais indolente fogo ou neve.

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