sexta-feira, 22 de junho de 2018

AMIZADES

AMIZADES

(retratos)




Incompleto luar

A lua, essa bacia
prateada de cor.
O céu está escuro,
os galos não cantam
quando morrem na
sombra.

Um frio percorre
o nosso corpo.
O nosso corpo
de querubins
corrompidos
de gelo e fogo.

A lua é meia ponta:
de um lado, mar,
do outro,
terra.





A meio caminho do corpo caído

para jorge guillén

Veio o frio corrompendo o bosque
e as folhas chorosas caíram, caíram,
enquanto nossas mãos cortadas
sangravam de medo, chegou do
outro lado do poente dona morte.

Agouro dos segredos, escória
escura das maravilhas divinas.
Divino são o ponto final onde
começou a morte e se encerrou
a vida.

Latidos no meio da noite,
picadas de serpentes,
o trotar de cavalos,
o peixe afogado na terra.

Dona Morte, companheira
de todas as coisas.
As folhas caídas no chão
ainda gritam, gritam.

Meus olhos serenos
celembram as folhas
dos livros queimadas. 

Queimadas, queimadas,
ai, de mim, queimadas.





Sentido da vida

O seu corpo, mulher minha,
o seu corpo de vide, videira,
seu peitinho de cadelinha,
seu peitinho duro de anja.

Dorme em mim, cabelos
escuros, cabelos santos,
dorme em mim com sua
boca de maré, de açúcar.

Amada minha, minha,
minha gatinha, cadelinha,
sou seu gato, seu cadelo,
sou seu arame, sou seu
martelo, martelai-me
rainha minha, amada minha.






Os pobres choram

Os pobres choram
eu vejo e eu escuto
os pobres os pobres
choram em cima dos muros
em cima do muro
os pobres cantam cantam
e o vento vem varrendo tudo
os pobres choram trabalham
os pobres morrem morrem
os pobres os pobres são
os aventurados os cristos,
os pobres aqueles sujos,
aqueles pobres sujos esquecidos
mendigos abandonados
ai que mundo injusto ai que mundo terrível
os pobres os pobres estão chorando
choremos todos todos juntos.

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