escutem!
escutem, senhores de casaca,
madames de plumas,
acadêmicos de bigodes encerados!
o prêmio nobel de literatura
— ah! esse santo graal das letras —
não é passaporte para o paraíso
da verdadeira poesia!
quantos,
quantos senhores engomados,
quantas senhoras de lábios pintados,
receberam a medalha dourada,
posaram para o jornal,
e depois…
desapareceram como bolhas na espuma de cerveja!
não confundam, camaradas,
a tinta que escorre do coração
com a tinta que assina contratos.
a qualidade da literatura
não cabe numa caixa de joias,
nem se mede pelo peso do ouro
que penduram no seu pescoço
enquanto você sorri como quem engole cacos de vidro.
ah! nobel! nobel!
esse circo respeitável,
com palhaços de paletó
e domadores de palavras domesticadas.
olhem para eles!
recebem o prêmio como se fosse
um beijo de deus no altar da língua,
mas escrevem como se tivessem medo
de sujar as mãos com o barro do mundo.
o bom escritor
não precisa de nobel,
precisa de pulmões para gritar,
precisa de pés sujos de estrada,
precisa de olhos que queimam ao olhar
a miséria, a alegria e o sangue.
o nobel é uma moeda
que brilha mais para os banqueiros da cultura
do que para o povo que lê
no trem lotado, na fábrica,
ou à luz fraca de uma lâmpada pendurada.
não, não estou cuspindo no prêmio —
estou cuspindo na mentira
de que ele é a medida da grandeza!
me dêem papel,
me dêem um lápis quebrado,
me dêem uma praça cheia de gente faminta de ouvir,
e eu troco mil nobéis
por um único verso
que faça um velho sorrir
ou uma criança perguntar “por quê?”.
porque a literatura, camaradas,
não é desfile de honrarias,
é combate corpo a corpo
com as palavras e com a vida.
e se um dia, por acidente ou ironia,
me derem esse prêmio —
aceitarei, sim,
mas com um sorriso tão largo
que o mundo inteiro entenda:
o ouro deles é lata,
e o meu verso é dinamite.
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