sexta-feira, 15 de agosto de 2025

O NOBEL É UM BRILHO DE LATA


escutem!

escutem, senhores de casaca,

madames de plumas,

acadêmicos de bigodes encerados!


o prêmio nobel de literatura

— ah! esse santo graal das letras —

não é passaporte para o paraíso

da verdadeira poesia!


quantos,

quantos senhores engomados,

quantas senhoras de lábios pintados,

receberam a medalha dourada,

posaram para o jornal,

e depois…

desapareceram como bolhas na espuma de cerveja!


não confundam, camaradas,

a tinta que escorre do coração

com a tinta que assina contratos.


a qualidade da literatura

não cabe numa caixa de joias,

nem se mede pelo peso do ouro

que penduram no seu pescoço

enquanto você sorri como quem engole cacos de vidro.


ah! nobel! nobel!

esse circo respeitável,

com palhaços de paletó

e domadores de palavras domesticadas.


olhem para eles!

recebem o prêmio como se fosse

um beijo de deus no altar da língua,

mas escrevem como se tivessem medo

de sujar as mãos com o barro do mundo.


o bom escritor

não precisa de nobel,

precisa de pulmões para gritar,

precisa de pés sujos de estrada,

precisa de olhos que queimam ao olhar

a miséria, a alegria e o sangue.


o nobel é uma moeda

que brilha mais para os banqueiros da cultura

do que para o povo que lê

no trem lotado, na fábrica,

ou à luz fraca de uma lâmpada pendurada.


não, não estou cuspindo no prêmio —

estou cuspindo na mentira

de que ele é a medida da grandeza!


me dêem papel,

me dêem um lápis quebrado,

me dêem uma praça cheia de gente faminta de ouvir,

e eu troco mil nobéis

por um único verso

que faça um velho sorrir

ou uma criança perguntar “por quê?”.


porque a literatura, camaradas,

não é desfile de honrarias,

é combate corpo a corpo

com as palavras e com a vida.


e se um dia, por acidente ou ironia,

me derem esse prêmio —

aceitarei, sim,

mas com um sorriso tão largo

que o mundo inteiro entenda:

o ouro deles é lata,

e o meu verso é dinamite.




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