morrerei num dia sem importância,
talvez numa terça,
talvez enquanto um cachorro coxo
atravessa a rua em câmera lenta.
não haverá manchetes,
ninguém dirá “era um gênio incompreendido”,
e a biblioteca municipal
continuará fechada às segundas-feiras.
talvez alguém lembre de um poema meu
— mal lido, mal entendido —
num bar com cheiro de cerveja velha.
e um bêbado jurará que me conheceu,
embora confunda meu rosto com o de um guitarrista de punk.
no hospital, a enfermeira perguntará:
“senhor, alguma religião?”
e eu direi:
“sou devoto dos livros que nunca terminei”.
a morte não será dramática,
nem bela,
nem um grande final.
será só um corte abrupto,
como quando a luz acaba
no meio de um filme ruim.
e se houver um túmulo,
escrevam apenas:
“aqui jaz alguém que
sempre acreditou que não valia a pena
chegar tão cedo.”
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