na noite de sevilha,
um homem pensou em partir.
a tristeza era um rio espesso,
que não corria para o mar.
murilo, com olhos abertos,
guardou o amigo do silêncio,
como quem vela uma chama
que o vento ameaça soprar.
mas a manhã chegou
com sua claridade oblíqua,
e o homem anunciou:
— não partirei.
não foi a vida que o reteve,
nem a súbita doçura do mundo,
mas a imagem de seu corpo
sob um mármore barroco,
com anjos gordos,
cachos de pedra,
e volutas que o sufocariam para sempre.
ele, que amava o traço limpo,
a arquitetura nua,
não poderia repousar
numa prisão de excessos.
e assim ficou.
não por amor à vida,
mas por horror ao ornamento,
por fidelidade ao desenho claro
que sempre perseguiu —
até no descanso final.
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