terça-feira, 5 de agosto de 2025

As Uvas da Justiça e o Vento de Deus



Eles riram.

Riram com dentes de ouro,

com fuzis envernizados,

com crucifixos pendurados no peito

como medalhas de mentira.


Gritaram “Deus!”

mas suas mãos tremiam de dólar.

Beijaram bandeiras

com a boca suja de propina.


Um vendia o país por migalhas,

o outro fugia pela sombra das gôndolas,

Zambelli —

com os saltos afundando em Veneza,

escondendo na bolsa o próprio rastro.


Mas as uvas amadurecem.

E o vento,

ah, o vento —

traz sempre o cheiro

do que está por apodrecer.


O tempo,

essa foice sorridente,

desceu do céu não como vingança,

mas como correção do universo.


Bolsonaro —

faraó de papelão,

messias de palanque podre —

foi trancado não por ódio,

mas por excesso de mentira.


E a Zambelli,

musa da bala perdida,

agora corre como galinha na Itália,

procurando a diplomacia

que não limpa a alma.


Mas a justiça —

essa videira de fogo —

não falha.

Ela tarda,

sim,

porque é paciente como o mar,

mas vem,

como o Deus que vê o que se faz nas sombras.


Agora,

as uvas são outras.

As da vergonha,

da conta bloqueada,

do silêncio que engasga o fanático.


E o vento sopra —

como soprou em Nínive,

como soprou em Sodoma —

um vento de páginas viradas,

de tribunais divinos

e vozes que dizem:

"Aqui, não mais."


Oh pátria cansada,

ergue tua cabeça!

Os ratos roeram tua fé,

mas não teu destino.


E nas uvas da justiça

fermenta o vinho novo

de um povo

que não esquece.



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