terça-feira, 7 de junho de 2016

Cauda de baleia ou poema de uma segunda-feira fria

Cauda de baleia ou poema de uma segunda-feira fria

Aqui sentados à mesa, ouvindo 
a noite chiar seus chuviscos puros como o mel,
tu e eu bebemos separados pelo véu
puro da idade e do tempo e da amizade.
Faz tempo que não vejo nesse céu
escuro  o branco puro das nuvens
percorrendo caminhos tão estranhos.
Eu não entendo a vida nem a natureza
mais posso dizer que me gusta mucho
tomar um gole de coca-cola sentado à luz
da lâmpada fluorescente que ilumina a mesa.
Enquanto ouço a tagarelice e o cotidiano
e a conversa se desenrola infinita como
um carretel, não percebes nem eu percebo
que meus olhos, pés, braços e mãos estão
tão cheios de pranto quanto a nuvem que
desabou no meio do campo suas ágüinhas
feitas de farinha magnética da terra.
Talvez isso sim seja poesia. Afinal,
como posso saber se é ou não poesia?
E quando um poema me surge de repente
(não como um ditado ou como uma inspiração)
fico tão contente que quase infarto meu coração.

Por exemplo, notastes que eu criança ainda
fui mais além da necessidade de permitir-me
amar? amar como amo todas as mulheres
que por mim passam sem deixar vestígio algum
que me amam que me querem que existo que me...
talvez não entendam jamais as raízes desse verso.

Não havia luar, nem luz, nem pensamento,
porque será que a minha mente se concentra
em coisas tão estranhas? coisas tão puramente
estúpidas e sem nenhuma traço de conhecimento?
porque penso na cauda de uma baleia azul cinzenta
enquanto estou ouvindo o som desses cantores
gordos que cantam fabulosamente competindo
aos meus ouvidos com o cantar chiado do blue do vento?

Me perdoe, eu que escuto mais do que falo
ouço tudo para anotar mais tarde, só para
ter com o que me ocupar enquanto o tempo passa
feito um io-io sem vida por minha vida de carne e osso
(ai, meu coração é tão puro, tão amoroso).

E eu ouvi a noite, ouvi o dia, ouvi o ruído ao
meu redor pela primeira vez e pela primeira vez
tive capacidade e ânsia e desejo de encarar as pessoas
e mesmo assim continuo o mesmo pelicano
desejoso de voar para o mar e se afogar bêbado
de suco de pêssego nas areias das praias do atlântico.

Depois de ouvir tanto sobre o ladrão de casaca os pássaros
também desejei ser cineasta um dia, e quem não sabe
que saiba que tenho mais de oitenta roteiro feito
à máquina de escrever (sim, amada oriental,
eu tive uma máquina de escrever para escrever
poesias, e quem me deu-a foi um little bird que
ouviu minhas preces de camaleão iluminado).

Notaste ou não notaste que aquela noite
quem precisava de uma companhia era eu?
Notaste ou não notaste que tudo o que não
existe, a falsidade e a verdade me sufocam
nessa cidade?

Mesmo assim eu canto, canto como
quem quer cantar. Canto como um cantor
recém descoberto que canta sem se importar
com quem ouve com quem vê com quem olha.
Canto porque só posso existir cantando.
Ô noite que se foi para nunca mais voltar:
Obrigado.



  

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