quinta-feira, 9 de junho de 2016

Morte


Assim quero morrer:
sem dizer adeus, sem dizer olá.
Quero partir imóvel como um navio
naufragado em tuas águas, mar.
Quero me afogar dentro de tuas
elegias, quero existir dentro do
pântano dos teus olhos.
Quero morrer como uma
folha caindo morta no chão,
deixando nua a árvore,
cheirando o céu com podridão.
Leiam em minha tumba lamentos
e salmos feitos com palavras
vindas do coração, mais lancem
em minha cara toda a maldade
que carreguei em forma de sapato
em forma de pessoa em forma de maça.
Quero morrer enterrado com os meus livros.
Por favor, me enterrem com os meus livros.
Me enterrem com as mariposas
mortas no caminho em que passei.
Me enterrem como se enterram um cachorro
sem pátria, sem idioma, sem amor, sem saudade.
Não tenham lágrimas nos olhos,
porque enquanto sou enterrado
estarei com as estrelas, brilhando nu e puro
sem pecado cristão, sem inspiração e sem cabelo.

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