quarta-feira, 1 de junho de 2016

Carta geográfica

Mar,
aqui onde a terra me enterra,
deixa-me descansar em teu olhar.
Cobre-me de sal, de onda.
Cobre-me de algas e de conchas.
Deixa-me ser, tu e eu, mar, companheiro,
como um peregrino marinho, como uma
baleira curiosa a te cruzar sem rumo.
Mar,
deixa-me descansar minha cabeça
em tuas vagas. Deixa-me por minhas
asas de pelicano adormecido em tuas
pedras imensas. Mar, cobre-me com
o frio do teu corpo mole. Enche-me de
barbatanas, de guelras, de fedor marinho.
Mar,
vou colher teu sal e vomita-lo em forma de
poesia amarga, de protesto contra a noite.
Mar,
vende-me um oceano em forma de suco

de pêssego.
Mar,
repete o seu som de violino em meus cabelos
negros.
Deixa-me ficar diante da tua praia, mar,
e descansar com o meu corpo de pó e de metal
em tuas entranhas aquáticas e cinzentas.
Mar,
que tu não existas mais
e que nem eu mais exista

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