sábado, 4 de junho de 2016

se queres entender

se queres entender a minha
poesia, é preciso mastigar pedra,
devorar o ar, se alimentar de mel
café e farinha. É preciso observar
um porto cheio de mares, de ondas.
Arrastando palavras vai se movendo
a canção como um por-do-sol se des-
perdiçando em azul, laranja e amarelo.
Diversifico cada palavra como um
linha, um imã feito para puxar
temporais, águas, sonhos, sonetos e
terra pura e sem raiz, terra amassada
por água e pelas patas dos bovinos
domesticados. 
Ali enterro toda a matéria poética do meu canto 
se quiseres entendê-la sabei que mudo mais
de poesia do que mudo de roupa.
Quando estou com sono meu dia se torna
uma mariposa, quando chove em meus olhos
lágrimas outonais, gelos atlânticos, dores suburbanas
da cidade grande, o mar atravessa
a minha linha imóvel e confusa só
para me espantar as mãos de frio.
A cada palavra mastigo um novo exílio para a linguagem
e para a luz do amor que renasce a cada manhã.
E se queres entender a minha poesia, é preciso
mastigar sal, fogo, mel, terra, e argila. 

  

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