quinta-feira, 14 de agosto de 2025

contra a confusão universal


1

este é um mundo

em que cada um de nós,

conhecendo as nossas limitações,

conhecendo os males da superficialidade,


terá de se agarrar

ao que está perto,

ao que conhecemos,

ao que podemos fazer —


aos amigos,

à tradição,

ao amor —


porque, de outra forma,

dissolver-nos-emos

na confusão universal,


e nada saberemos,

e nada amaremos.




2


este é um mundo que nos chama para longe,

que nos oferece miragens fáceis

e nos afasta da raiz do que somos.


por isso, cada um de nós,

conhecendo as nossas limitações,

sabendo dos males da superficialidade,

há de se agarrar ao que tem perto —

ao que conhece pelo toque das mãos,

pelo rumor da voz,

pelo cheiro do pão acabado de sair do forno.


agarrar-se ao que pode fazer

com a firmeza de quem levanta muros contra a maré,

com a paciência de quem limpa a casa

e abre as janelas para a luz.


guardar os amigos

como quem guarda a água num cântaro,

seguir a tradição

como quem segue um caminho antigo

entre oliveiras e muros caiados,

amar com a inteira força do corpo

como quem abraça a própria casa na tempestade.


porque de outra forma

— se deixarmos a nossa âncora —

seremos tragados pela corrente,

dissolver-nos-emos na confusão universal,

perderemos o nome das coisas,

não saberemos o que é o vento,

nem o que é a esperança,

e o amor será apenas uma palavra esquecida

num livro que já não se abre.



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