1
este é um mundo
em que cada um de nós,
conhecendo as nossas limitações,
conhecendo os males da superficialidade,
terá de se agarrar
ao que está perto,
ao que conhecemos,
ao que podemos fazer —
aos amigos,
à tradição,
ao amor —
porque, de outra forma,
dissolver-nos-emos
na confusão universal,
e nada saberemos,
e nada amaremos.
2
este é um mundo que nos chama para longe,
que nos oferece miragens fáceis
e nos afasta da raiz do que somos.
por isso, cada um de nós,
conhecendo as nossas limitações,
sabendo dos males da superficialidade,
há de se agarrar ao que tem perto —
ao que conhece pelo toque das mãos,
pelo rumor da voz,
pelo cheiro do pão acabado de sair do forno.
agarrar-se ao que pode fazer
com a firmeza de quem levanta muros contra a maré,
com a paciência de quem limpa a casa
e abre as janelas para a luz.
guardar os amigos
como quem guarda a água num cântaro,
seguir a tradição
como quem segue um caminho antigo
entre oliveiras e muros caiados,
amar com a inteira força do corpo
como quem abraça a própria casa na tempestade.
porque de outra forma
— se deixarmos a nossa âncora —
seremos tragados pela corrente,
dissolver-nos-emos na confusão universal,
perderemos o nome das coisas,
não saberemos o que é o vento,
nem o que é a esperança,
e o amor será apenas uma palavra esquecida
num livro que já não se abre.
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