quinta-feira, 7 de junho de 2018

Cemitério do céu


Esse céu foi um céu.
Foi um céu e nada mais.
Aquele céu foi outro céu.
Um outro céu e nada mais.
Aquele céu não tinha água.
Não tinha água e nada mais.
Aquele céu era alaranjado,
alaranjado e nada mais.
Esse céu não tinha nuvens.
Não tinha nuvens e nada mais.
Não tinha nuvens, mais estava negro.
Estava negro, e nada mais.
Pelas nuvens negras dançavam
formiguinhas ciganas de calcinha.
Formiguinhas ciganas de calcinha
e nada mais.
Pelo céu bailavam todos como mortos.
Bailavam mortos e nada mais.
Com galopes feitos de buceta
de buceta, e bailavam, e nada mais.
Como grandes muros azulados
pintados pelos mercenários das igrejas.
Pelos mercenários das igrejas, e nada mais.
Pintando pelos dedos místicos de Deus.
Por um dedo de sete dias, e nada mais.
E o céu era o mesmo sempre.
E quando o cavaleiro enjoou de contá-lo,
duas foices inspiraram os olhos mortos
e a terra devorou o céu que estava
enterrado.

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