segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Saio com o meu povo



Abraham Senior,

coroado de idade e de cargos,

dobrou-se diante do cetro,

tomou o batismo como quem toma

um cálice de ferro —

e ali perdeu a canção de seus pais.


Em contraste, Don Isaac Abravanel,

com as chaves da fortuna ainda na mão,

deixou cair as moedas

para segurar os rolos da Torá,

e saiu,

como coluna de fogo,

com os que partiam.


Os caminhos de Castela

arderam sob os pés descalços,

e as lágrimas eram mapas

que não levavam de volta.


Muitos fugiram,

como pássaros perseguidos,

para Portugal, para Navarra —

onde um instante de abrigo

brilhou como breve luar

antes da próxima noite.


E eu digo:

não há corte, nem trono,

nem patrocínio real

que pese mais do que a poeira

que sobe dos passos do exílio.


Saio com o meu povo,

não para ser salvo,

mas para ser pó,

para ser vento,

para que a dor encontre voz

em cada geração.



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