Abraham Senior,
coroado de idade e de cargos,
dobrou-se diante do cetro,
tomou o batismo como quem toma
um cálice de ferro —
e ali perdeu a canção de seus pais.
Em contraste, Don Isaac Abravanel,
com as chaves da fortuna ainda na mão,
deixou cair as moedas
para segurar os rolos da Torá,
e saiu,
como coluna de fogo,
com os que partiam.
Os caminhos de Castela
arderam sob os pés descalços,
e as lágrimas eram mapas
que não levavam de volta.
Muitos fugiram,
como pássaros perseguidos,
para Portugal, para Navarra —
onde um instante de abrigo
brilhou como breve luar
antes da próxima noite.
E eu digo:
não há corte, nem trono,
nem patrocínio real
que pese mais do que a poeira
que sobe dos passos do exílio.
Saio com o meu povo,
não para ser salvo,
mas para ser pó,
para ser vento,
para que a dor encontre voz
em cada geração.
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