quanto mais longe...
mais amo...
adamantina acorda cedo,
o sol bate no metal das janelas
como martelo em bigorna.
o ar tem cheiro de oficina,
mesmo quando vem do campo.
as ruas não se curvam,
não hesitam:
vão retas como quem sabe
que perder tempo é pecado.
em berna, o tempo é um gato
que dorme ao sol no parapeito.
lá, o relógio não apressa,
acompanha.
o rio abraça a cidade
como quem embala um filho.
em adamantina,
o rio corta —
trabalha a pedra, fende a terra,
não canta para adormecer.
a cidade é feita de vozes que gritam ordens,
de mãos que não se distraem,
de suor que não pede licença.
mas há um conforto oculto,
uma espécie de ternura dura:
o calor do café servido na porta da fábrica,
o aceno breve ao vizinho,
o banco de praça onde se descansa
olhando o pôr do sol
que, mesmo sobre o aço,
se deixa tingir de ouro.
berna sorri com dentes de leite.
adamantina sorri com dentes de ferro.
mas ambas, no fundo,
sabem aquecer o peito de quem fica.
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