Vem e entra pois o sonho e o sono são
as entranhas de tal parede.
Vem e entra pois o mar dorme em meu telhado,
e em cada onda há uma nova vida, há uma nova porta,
não existem saídas, mais pelo menos tenho o conforto
dos blocos e do cimento, pois essa, Companheira minha,
é a minha casa, é a nossa casa, é a nova vida.
Não há jardim mais belo do que esse que morta em
teu corpo, teu corpo é o meu coração e o meu coração
é tua casa amiga minha onde você repousa da tempestade
e da brisa.
A casa, a mais bela casa, feita de janelas, portas, fechaduras,
chaves, banheiros, e em cada comodo há uma mariposa,
e em cada momento há um papel queimando os meus versos
porque eu e você amiga minha não compreendemos a poesia,
não entendemos a morte e não entendemos a vida,
tu és sombria como essa casa sem luz, porque as lâmpadas
são as pequenas mariposas que trocaram de lugar
com as abelhas para os pirilampos brilharem suas bundas.
Ai de mim, casinha, casarão, casonas, tu és a minha tumba,
és onde eu abrigo os meus livros, os meus ossos, a minha carne,
estou em ti porque sou parte de ti, não quero ser nada a não
ser cimento gelado, parede, quero ser quarto onde deito,
quero ser como os teus sofás, como teus quadros, tua televisão,
quero ser esses conversadores, esses bebedores de coca-cola,
quero ser esse cristão que entoa lindos cantos, quero ser e não ser
quero ir e não ir, quero partir e voltar para ti e dormir e ser consagrado
estrelado de estrelas, noturno como tuas portas, minha casa, amiga minha.
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