— Então, você escreve?
— Tento. Principalmente poesia.
— Poesia? Uau, que moderno! Eu só escrevo na conta do motel.
— É… bem, escrever é um pouco menos caro.
— Menos caro, mas mais difícil. Eu pelo menos ganho na hora. Você fica esperando o quê? O Nobel?
— Nobel? Se eu ganhar, prometo dividir com você.
— Aí já seria poesia com comissão, né?
Ela riu, ajeitou o cabelo e perguntou:
— E o que você escreve? Aquelas coisas que ninguém entende?
— Às vezes até eu não entendo.
— Que ótimo! Então tá no caminho certo.
Ele deu um sorriso tímido.
— Já pensou em escrever algo sobre a vida real?
— Vida real? Já viu a minha vida real? É que nem final de novela: cheio de drama e sem final feliz.
— Parece uma boa história para um poema.
— Ou um bom cliente.
Ele riu.
— E você, além de escrever na conta, tem outros talentos artísticos?
— Só dançar conforme a música e reclamar da vida.
Ela piscou.
— Viu? Isso também é poesia. Só que com salário na mão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário