concretismo:
a pedra pensa,
a palavra pesa,
o mundo é um bloco de ar respirado.
televisão:
um olho quadrado
que nos sonha de volta,
pixeis como pequenos oráculos cansados.
sexo anal, sexo bucetal:
corpos que se procuram
para lembrar que ainda existem,
choque de pele contra o vazio,
ritmos onde a carne aprende a ser verbo.
qualquer coisa:
porque o universo é isso —
uma frase interrompida
que finge sentido quando a olhamos de frente.
cubismo, pintura abstrata:
desmontar o rosto para ver o que resta,
acender o invisível,
rasgar o contorno até o centro respirar.
milagres, religião cristã, jesus:
uma ferida luminosa,
um homem que virou silêncio
para que o silêncio virasse caminho.
poesia:
este rumor que nos parte
e nos recompõe
no intervalo entre duas sílabas.
e depois —
esperar o fim nuclear:
não como quem teme,
mas como quem entende
que toda explosão é também um nascimento
ao contrário.
no fim,
o que chamamos mundo
é apenas isso:
um corpo procurando outro corpo
enquanto a eternidade
acende e apaga
seus fósforos invisíveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário