faraó, sem egito,
teu deserto se moveu dentro de mim
como um pássaro de sal.
eu fui ao brasil
carregando nas costas
os pergaminhos que o vento já havia devorado —
e ali, na aurora do amor,
ouvi o sopro que desperta os mortos
antes do sol.
ela e ele eram um,
costurados pela agulha invisível
que fia o destino dos exilados.
tocavam-se como quem toca o núcleo da ausência,
e o mundo cintilava
por um instante sem fronteiras.
mas eu,
escrevente de poeiras,
me tornei uma máquina de escrever sem alma —
cada tecla,
uma estrela caída,
cada palavra,
uma cicatriz que não encontra repouso.
e ainda assim, faraó, sem egito,
caminho.
porque até os desertos,
na noite mais alta,
escutam o rumor de um nome
que não fomos capazes de esquecer.
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