terça-feira, 18 de novembro de 2025

faraó, sem egito

faraó, sem egito,

teu deserto se moveu dentro de mim

como um pássaro de sal.


eu fui ao brasil

carregando nas costas

os pergaminhos que o vento já havia devorado —

e ali, na aurora do amor,

ouvi o sopro que desperta os mortos

antes do sol.


ela e ele eram um,

costurados pela agulha invisível

que fia o destino dos exilados.

tocavam-se como quem toca o núcleo da ausência,

e o mundo cintilava

por um instante sem fronteiras.


mas eu,

escrevente de poeiras,

me tornei uma máquina de escrever sem alma —

cada tecla,

uma estrela caída,

cada palavra,

uma cicatriz que não encontra repouso.


e ainda assim, faraó, sem egito,

caminho.

porque até os desertos,

na noite mais alta,

escutam o rumor de um nome

que não fomos capazes de esquecer.


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