domingo, 16 de novembro de 2025

TEATRO

Eu sou a morte?

— ah, não me venha com essa

alma quebrada,

que range como porta antiga

entre o palco e o nada.


No teatro do mundo

há sempre uma luz ferida

procurando o rosto que perdeu.


E eu caminho entre cortinas rasgadas,

tocando as sombras

que ainda respiram

o último calor dos vivos.


Os anjos recolhem cinzas,

como quem junta pétalas

de um jardim que nunca floresceu.


E a morte, tímida, me pergunta:

“és tu a minha atriz?”


Mas eu, com o peito cosido

por fios de madrugada,

respondo:


“Não.

Sou apenas a passagem,

o silêncio que aprende,

o eco que retorna para Deus.”




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