Eu sou a morte?
— ah, não me venha com essa
alma quebrada,
que range como porta antiga
entre o palco e o nada.
No teatro do mundo
há sempre uma luz ferida
procurando o rosto que perdeu.
E eu caminho entre cortinas rasgadas,
tocando as sombras
que ainda respiram
o último calor dos vivos.
Os anjos recolhem cinzas,
como quem junta pétalas
de um jardim que nunca floresceu.
E a morte, tímida, me pergunta:
“és tu a minha atriz?”
Mas eu, com o peito cosido
por fios de madrugada,
respondo:
“Não.
Sou apenas a passagem,
o silêncio que aprende,
o eco que retorna para Deus.”
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