Fomos tu e eu
que construímos
esse mundo.
Tu e eu, irmão,
que fizemos tudo
o que há de bom
e tudo o que há
de ruim por aqui.
Tu e eu, é claro,
condenados a viver,
a sermos bons e maus
ao mesmo tempo.
E ao mesmo tempo
atacamos e nos defendemos
porque tu e eu já sabiamos
que eu atacava e tu defendida;
fomos tu eu
que construímos
esse labirinto de sono,
de sonhos, mortes, bondades
serenas,
tu e eu trabalhos por dinheiro,
amigo, para que pudessemos
comprar do rico
um pedaço de pão
ou alguns quilos.
Tu e eu criamos o ciclo maldito
desses vícios, tu, burgues,
e eu, trabalhador, honesto,
religioso selvagem, quieto
e zangado por saber que
tudo era e não era culpa minha,
que eu podia e não podia mudar
o tudo e o nada que me rodeava.
Fomos tu e eu que criamos
o medo da morte, as grandes
catedrais, os egitos, os outros,
os ódios, os amores, tu e eu,
é claro, que criamos essa sociedade
exploradora, tu e eu vigiamos juntos,
quietos, rasgamos a boca dos filósofos,
porque tu e eu criamos esse sistema
de escolas penitenciarias justiça eleitoral
de programas de televisão tu e eu
criamos essas coisas para nos divertimos,
para que tivéssemos algum sentido.
Sabemos que não há por onde escapar.
Tu e eu sabemos disso.
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