domingo, 14 de dezembro de 2025

OITO PÁSSARINHOS



1. Abro a janela

Abro a janela do dia como quem aprende a respirar.

 O mundo entra sem pedir licença — 

poeira, pássaros, notícias. Fico.

 Entre o barulho e o gesto simples de existir.

2. Inventário da Manhã

Um copo d’água, um nome esquecido, a luz caindo no chão. Tudo cabe na manhã se eu couber também. O resto é pressa.

3. Geografia Íntima

Há ruas dentro do peito, becos de medo,

 avenidas de vontade. 

Caminho por mim sem mapa,

 errando certo.

4. Manual de Sobrevivência

Guarde silêncio para a noite. 

Use palavras como abrigo. 

Não discuta com a chuva.

 Aprenda a cair sem quebrar o céu.


5. Carta ao Tempo

Tempo, não me apresse. Ainda estou aprendendo 

a perder com elegância e a ganhar sem ruído.

 Deixe-me aqui mais um pouco.

6. Corpo em Trânsito

Meu corpo atravessa o dia como um ônibus cheio. Leva sonhos em pé, saudades sentadas, um futuro cochilando. Chego inteiro por insistência.

7. Breve Teologia

Não creio em respostas. Creio em tentativas. 

Se há um deus, que seja intervalo: uma pausa

 onde a vida respira.

8. Fecho

Quando a noite fecha o livro, fico entre páginas. 

Não terminei. Amanhã continuo — com outra luz,

 outra voz.

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