terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Livro para Todos e para Ninguém



 Escrevi para todos e para ninguém em bibliotecas frias,

onde o pó se ergue como um pensamento antigo
e cada livro, ao ser aberto, me devolve um rosto
que nunca conheci.

Caminho pelos corredores infinitos —
não sei se são de pedra, sonho ou memória.
Procuro um nome
que talvez tenha sido o meu
em alguma vida que não terminei.

As lâmpadas acesas cintilam como pequenos oráculos,
e percebo que cada página não conta uma história,
mas a minha incapacidade de encerrá-la.
Há sempre uma dobra, um espelho, um eco
que devolve o labirinto ao seu criador.

Se escrevo, não é para capturar o tempo,
mas para libertar suas sombras.
Pois cada palavra é um animal adormecido
e, ao ser tocada, desperta
com a força de todas as eras.

Assim, fico —
entre o tudo e o ninguém,
entre a mão que escreve e a mão que apaga,
sabendo que todo livro é uma porta,
e toda porta leva de volta
ao mesmo centro que nunca alcanço.

E se um dia alguém me ler,
que não me procure:
estarei perdido nos mapas que inventei,
no silêncio que deixei entre duas vírgulas,
no espaço invisível
onde vivem os que escrevem
para lembrar que já esqueceram.

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