De vez em quando me pego pensando em coisas tão opostas e ao mesmo tempo tão sincronizadas, que chego a ficar espantado com tais e tais coisas. Como agora, eu estava lendo uns versículos na bíblia, ouvindo sobre fé, e pensei em uma coisa tão a simples e ao mesmo tempo, tão anacrônica, que comecei a rir sozinho.
Perdoem-me os que não entendem os meus textos, muitas vezes estou escrevendo conforme as minhas mãos vão ditando.
Eu acho engraçado, porque é o cérebro, o coração, que origina as palavras, e eu continuo fabulosamente colocando o fato de que são as minhas mãos que tecem as palavras. Ao invés de ser um midas, tornando o teclado em ouro, meus dedos vão gerando palavras. Pois bem, chega de fugir do assunto.
Cristianismo e judaísmo. Judaísmo e cristianismo. Nunca vi duas religiões tão parecidas, e ao mesmo tempo, tão cheias de significados opostos e interligados, como essas duas.
Com isso, quero afirmar meu posicionamento em relação ao cristianismo, afinal, acho que Jesus Cristo, como figura humana, como o Deus-feito-carne, aquele que enfrentou com ações toda uma nação e todo um império bárbaro (o romano), era não apenas o melhor poeta daquela época, mais um dos únicos poetas a surgir daquela região do Mediterrâneo, numa época em que os poetas (ditos profetas) eram raros.
O último linhagem daquele Levante a surgir como profeta/poeta foi Maomé, mas isso é assunto para outra crônica.
Nos meus primeiros poemas, fui totalmente influenciado pelo Novo Testamento.
Não tomei conhecimento de Jesus Cristo por pessoas, nem mesmo por folhetinhos, não, eu cheguei até esse maravilhoso homem pelo meio de um livro escuro, de capa preta, na qual eu pude ler o título: BÍBLIA.
É curioso, porque na época, eu não sabia nada das minhas origens orientais, e comecei a ler o livro de trás-pra-frente.
O apocalipse, ao invés de me dar um nó na cabeça, me fascinou. Aquelas imagens de dragões, estrelas caindo no oceano, monstros de rosto leônico e garras de escorpiões atormentando os homens, no primeiro momento me aterrorizaram, e depois, me encantaram.
Não consigo mais dormir sem imaginar o fim do mundo.
Depois do livro do Apocalipse, pulei (a conselho de uma pessoa da minha família), e passei a ler os quatro evangelhos: Matheus,Marcos, Luccas e João.
O personagem biografado nesses livros, Jesus, não apenas passou a ser um arquétipo do que eu gostaria de ser, vir a ser, e sim, moldou todo o meu modo de pensar, de meditar, de dialogar.
Não encontrei em minhas leituras do evangelho, nenhum tipo de sentimento estranho em Jesus, salvo alguns atos que não consegui compreender em sua totalidade. Dirão os teólogos de anéis no dedo, que em suma, o que não é para ser entendido não é para ser entendido. Discordo.
O que não é entendido, deve ser discutido, analisado, meditado, refletido, e jamais posicionado como algo oculto, ou de difícil compreensão.
Me refiro a fatos magníficos e fatos estranhos. Como? Jesus é o pilar do cristianismo. O cristianismo nasce do rompimento do judaísmo. Como? Estou sendo indelicado? Como diria, Paulo, o apóstolo, de forma nenhuma.
Jesus, como relata muito bem os evangelhos, veio cumprindo os mandamentos deixados por Deus segundo os padrões do judaísmo.
E ao mesmo tempo em que, essa figura maravilhosa, curava doenças, expulsava demônios, e fazia discursos capazes de derreter corações endurecidos, batia de frente com autoridades religiosas, autoridades políticas etc...
Gosto, quando escrevo, de lembrar coisas, lembro que existe um autor inglês que sintetizou minhas duvidas em três respostas: ou Jesus era louco, ou Jesus era apenas um revoltado, ou Jesus era realmente Deus na terra.
O cristianismo sempre me pareceu duro, no ponto de vista de aceitação, porque nunca teve uma coerência central, que é claro, existe, pois é o próprio Cristo.
O que quero dizer com isso? Quero dizer que os ensinamentos de Jesus, são claros, claros e limpidos, puros, não existe metáforas, misticismos, linguagem inconclusa. Querem ver?
"Não deem pérolas aos porcos".
Oras bolas, o que esse homem queria dizer com tal frase?
Simples: jogue um diamante para um porco, e deixe ele engolir. Se por acaso ele não vomitá-lo de volta, irá morrer se o diamante entalar em sua gargante. E se ele conseguir engolilo, bem, sabemos o resto...
Há linguagem mais simples do que a de um homem que dizia ser "o pão da vida"? Há linguagem mais simples, do que um simples carpinteiro, que pregava parábolas sobre sementes, ovelhas perdidas e vinhas?
O judaísmo é um ponto máximo de uma cultura, de um povo. Gosto sempre de relembrar que tenho sangue judaico nas veias, descendo de gente perseguida no Marrocos, em Portugal, e no nordeste brasileiro.
A figura máxima da Torá, foi Moisés, o legislador. Foi ao mesmo tempo que um líder carismático, um sábio legislador, um homem que teve que suportar nas costas uma nação inteira de recém-libertos de uma escravidão selvagem.
Por causa dos filmes, e dos seriados, temos em vista que a figura de Moisés era a de um homem forte, barbudo, capaz de seduzir mulheres com seus olhos azulados como o céu e seu nariz adunco bem talhado por Deus.
Se esquecem da idade real de Moisés, um homem de tantos e tantos anos, com culpas nas costas, com sabedoria, com andanças, com trabalho.
Para mim, o Velho Testamento completa o Novo Testamento. A mitologia do Velho Testamento completa a mitologia do Novo Testamento.
E quando digo mitologia, não estou tentando diminuir os escritos desse conjunto, pelo contrário, como fonte de mitos, toda a humanidade sabia deve ter o direito de adquirir conhecimento a partir dessa fonte maravilhosa de histórias, poesias, ensinamentos, lendas, etc... que compõe o mais vivo dos livros.
Jesus e Moisés são figuras importantíssimas para mim. Ambos pastores, guias de uma mesma nação, ensinadores, cada um em seu momento. Tenho muito que falar de Moisés, mesmo que eu tenha que enfrentar as baboseiras que escreveu Freud em seu ensaio "Moisés e o monoteísmo", com coisas absurdas.
Espero que esse texto reflita um pouco sobre como o judaísmo e o cristianismo não são opostos, apenas se completam. E mesmo sabendo que existirão os que não vão concordar, quero apenas ressaltar que ambos os livros, são maravilhosos para mim.
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