terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Lendo quevedo no dia de natal





Nenhuma raiz é claro, nenhuma raiz
de amargura ou de sal ou de sol ou de vento.
Nenhuma raiz que simbolize o convento,
nenhuma raiz que prese uma igreja de prata.

Nenhum cristão, nenhum cristão dolorido
de ferro, de martelo, de foice, de faca.
Nenhum cristão que erga um cartão e
aponte para a estrada recém-evangelizada.

A neve, doce e pura, o som da canção natalina,
o voo do pássaro, o lampejo do raio, a silhueta
do trovão em teu rosto cru e duro de espanhol,
as marcas do sofrimento, o despertar do girassol.

Sentado na frente do mar suspirando versos
que não podem conter gotas nem sal no meio
das palavras azuladas e cinzas como a chuva
que cai para celebrar tal data cristianizada.

Ao som da noite ao som do dia ergo uma taça:
puro prazer da voz de Deus ouvir, o metal da madrugada
podem soltar os fogos dos suspiros podem abrir
a melancolia aguada. Cantaremos, porque tu cantaste!

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