quarta-feira, 16 de julho de 2025

Conversa de Pai

 


O pai bateu na porta com o nó da gravata meio torto e um silêncio estranho na cara. Tinha aquela cara de quem ia dizer alguma coisa importante, mas não sabia exatamente por onde começar.

— Filho... — disse, coçando a cabeça. — A gente precisa conversar.

O garoto estava jogando videogame, mas deu pausa. Se o pai falava com aquele tom, podia ser qualquer coisa: boletim, namoro ou... bom, talvez ele tivesse descoberto o cigarro.

— É sobre... — o pai pigarreou — ...sexo.

O filho congelou.

— Mas calma! Não precisa fugir! Eu não vou falar de quando você nasceu nem mostrar vídeo de parto no YouTube. Só... escuta.

O pai se sentou na beirada da cama e ficou alguns segundos em silêncio, como se estivesse ensaiando mentalmente.

— Eu sei que você tá crescendo. Os hormônios tão aí, né? A testa cheia de espinha, o desodorante vencendo em 15 minutos... Eu entendo. Eu já fui você.

O garoto tentou rir, mas estava tenso demais.

— Só que tem uma coisa que eu preciso te falar: camisinha. Usa.

Silêncio.

— Pai...

— Não, escuta. Eu sei que parece chato. Que você pensa: "ah, estraga o clima". Mas estraga mais ainda o clima quando você precisa explicar pra uma garota que pegou uma coisinha que coça. E estraga muito mais quando você tem que fazer chá às três da manhã porque o bebê não para de chorar!

Ele se levantou, começou a andar de um lado pro outro.

— Você sabe quantos sonhos morrem por falta de borracha, filho? Eu ia ser cantor. Cantor! Eu tinha uma banda. A gente ia abrir pro Raça Negra!

— Sério?

— Claro que não! Mas o ponto é: você tem a chance de viver direito. De ser esperto. Ser homem não é "pegar geral". Ser homem é cuidar do que é seu — e do que é dos outros também.

Tirou uma camisinha do bolso e deixou na escrivaninha. Era colorida.

— E outra coisa: não precisa ter vergonha de comprar isso. Se você pode transar, pode enfrentar um caixa de farmácia. Com dignidade.

O garoto abaixou a cabeça, vermelho.

— Tá bom, pai...

O pai parou na porta, olhou pra trás e disse:

— Só lembra: prazer é bom. Mas tranquilidade depois... é melhor ainda.

E saiu do quarto, como quem acaba de vencer uma guerra sem armas, mas com muita vergonha alheia.

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