O pai bateu na porta com o nó da gravata meio torto e um silêncio estranho na cara. Tinha aquela cara de quem ia dizer alguma coisa importante, mas não sabia exatamente por onde começar.
— Filho... — disse, coçando a cabeça. — A gente precisa conversar.
O garoto estava jogando videogame, mas deu pausa. Se o pai falava com aquele tom, podia ser qualquer coisa: boletim, namoro ou... bom, talvez ele tivesse descoberto o cigarro.
— É sobre... — o pai pigarreou — ...sexo.
O filho congelou.
— Mas calma! Não precisa fugir! Eu não vou falar de quando você nasceu nem mostrar vídeo de parto no YouTube. Só... escuta.
O pai se sentou na beirada da cama e ficou alguns segundos em silêncio, como se estivesse ensaiando mentalmente.
— Eu sei que você tá crescendo. Os hormônios tão aí, né? A testa cheia de espinha, o desodorante vencendo em 15 minutos... Eu entendo. Eu já fui você.
O garoto tentou rir, mas estava tenso demais.
— Só que tem uma coisa que eu preciso te falar: camisinha. Usa.
Silêncio.
— Pai...
— Não, escuta. Eu sei que parece chato. Que você pensa: "ah, estraga o clima". Mas estraga mais ainda o clima quando você precisa explicar pra uma garota que pegou uma coisinha que coça. E estraga muito mais quando você tem que fazer chá às três da manhã porque o bebê não para de chorar!
Ele se levantou, começou a andar de um lado pro outro.
— Você sabe quantos sonhos morrem por falta de borracha, filho? Eu ia ser cantor. Cantor! Eu tinha uma banda. A gente ia abrir pro Raça Negra!
— Sério?
— Claro que não! Mas o ponto é: você tem a chance de viver direito. De ser esperto. Ser homem não é "pegar geral". Ser homem é cuidar do que é seu — e do que é dos outros também.
Tirou uma camisinha do bolso e deixou na escrivaninha. Era colorida.
— E outra coisa: não precisa ter vergonha de comprar isso. Se você pode transar, pode enfrentar um caixa de farmácia. Com dignidade.
O garoto abaixou a cabeça, vermelho.
— Tá bom, pai...
O pai parou na porta, olhou pra trás e disse:
— Só lembra: prazer é bom. Mas tranquilidade depois... é melhor ainda.
E saiu do quarto, como quem acaba de vencer uma guerra sem armas, mas com muita vergonha alheia.
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