O menino toma café.
Preto. Quente. Amargo.
Como o mundo que ainda não conhece,
mas já sabe que odeia.
A xícara pesa mais do que a infância.
Tem sete anos
e pensa em Sartre sem saber que pensa em Sartre.
O ser e o nada misturados com leite.
Lá fora, a natureza:
pássaros gritam porque estão vivos.
Árvores balançam porque não têm escolha.
Tudo verde demais para tanta solidão.
A mãe limpa o chão como quem apaga pegadas.
O pai dorme com a TV ligada —
outro homem morto de olhos abertos.
Ele observa o sol batendo na janela
e pensa:
“tudo o que brilha apodrece depois.”
A infância é um palco vazio com cortinas floridas.
A vida é um pátio onde formigas carregam cadáveres.
O café esfria.
O menino também.
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