A UM COVEIRO AMIGO
A tarde, que todas as tardes são iguais, deu me na cabeça
ir visitar a memoria morta
de um ente falecido.
E lá fui, de flor em punho,
entre covas mudas a saudar
aquele único amigo que
realmente eu podia saudar:
o coveiro!
Lá ele estava, cabisbaixo,
entre a nuvem cinzenta e fria
do dia que anuncia o temporal.
Eu, por conveniencia fiz
minha parte: Amigo, coveiro,
Muito boa tarde! Me diga por
mais inutil que for a resposta,
porque esse tenebroso oficio
de enterrar os mortos, escolheste
entre todos os serviços
esse vicio de ver o corpo
devorado pela terra fria?
E o coveiro, com olhos tristes,
me puxou pela camiseta,
e me levou a uma tumba
onde foto bela de ruiva tinha.
Essa, amigo, respondei-me
o coveiro, foi a dona do
meu amor primeiro, e por
causa dela eu me fiz Coveiro!
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