quinta-feira, 8 de agosto de 2024

a um coveiro amigo

 A UM COVEIRO AMIGO

A tarde, que todas as tardes são iguais, deu me na cabeça
ir visitar a memoria morta
de um ente falecido.

E lá fui, de flor em punho,
entre covas mudas a saudar
aquele único amigo que
realmente eu podia saudar:

o coveiro!

Lá ele estava, cabisbaixo,
entre a nuvem cinzenta e fria
do dia que anuncia o temporal.
Eu, por conveniencia fiz

minha parte: Amigo, coveiro,
Muito boa tarde! Me diga por
mais inutil que for a resposta,
porque esse tenebroso oficio

de enterrar os mortos, escolheste
entre todos os serviços
esse vicio de ver o corpo
devorado pela terra fria?

E o coveiro, com olhos tristes,
me puxou pela camiseta,
e me levou a uma tumba
onde foto bela de ruiva tinha.

Essa, amigo, respondei-me
o coveiro, foi a dona do
meu amor primeiro, e por
causa dela eu me fiz Coveiro!

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