quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Menorá
Sete bracos de luzes que arcanjos de petróleo
carregam como nuvens pálidas de ouro maciço.
Entorno dessas contundentes tempestades pequenos
querubins dançam com arco e flechas prontos
para acertarem o coração manchado de esperança.
Sete bracos, e nada menos, nada menos, sete,
sete braços que cruzam sete olhos de lobos,
sete tetas de vacas, sete rolas de travecos,
sete vezes sete, sete nada menos, só sete.
Em cada sete uma cidade destruída pelos babilônicos:
sete, nova york pálida de sujeira, nova york destruída
de delírios, são paulo, contundente víbora de grossos
prédios que prendem nossa respiração para não respirarmos
chamas de fogo, sete, nada menos, sete cidades que saltam.
E nessa iluminação toda a voz da azeitona
cortando, cortando nossas mãos e o coração
feito um enfeite de natal, destruído a beira
de um rio de enxofre, onde não existe bons
nem maus, só existem seres que sofrem.
Por isso sete bracos que vão como
duas nuvens trombadas de relâmpagos,
o ar do vento que chora lágriminhas tristes
como se fossemos dois caracóis cruzando
a rua para namorar.
Namorar sete vezes, sete, nada menos,
e cantaremos canções antigas, andaluzas,
e diremos que adamantina foi o nosso pão,
o nosso mel, e então descansaremos com
os olhos abatidos como as abelhas,
não por intuição, nem por vontade
de gritar, chorar, morder a panela
de pressão,
mas porque não devemos entender
nada que signifique religiosidade,
não com a vara da compreensão humana,
não com o ridículo das ilustrações.
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