quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Eu me esqueci
Eu me esqueci por aí, em prédios imensos,
nas ruas escuras das prostitutas, nos bairros
sem nomes, nos seios das travestis, nas
imemoriáveis casas antigas, nos becos sem
saída, na chuva, no asfalto, na sujeira,
me esqueci como a peça de prata caida
no meio da guerra dos mouros, sim, me
esqueci para que meu nome sangrasse.
Eu me esqueci sem nome, sem angustia,
fui não sendo, deixei de ter amigos, me
abandonaram pelos altos condomínios,
trabalhando como um sapateiro maluco.
Eu me esqueci porque me esqueceram,
não achei as caixas dos gafanhotos,
nem os mapas dos judeus antigos,
não fui pela roda dos radanitas, e fiquei
perplexo quando no mediterrâneo
me pediram certidão de nascimento
para que eu habitasse o pó sem tijolo
e as águas salgadas do mar morto.
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