sexta-feira, 9 de março de 2018

Paisagem do litoral


O sol de Itanhaém
queimou as mãos
e a bexiga apertada
parou o carro
bem longe das praias.

Mas tudo foi rápido
como um sonho que
se desfaz, amargo e triste.

O bondoso luar fez
o coaxar dos girinos
elevarem as estrelas,
e o mar tombou
bêbado de mil poemas.

Um violento vento
empinava pipas
de chuvas, e as agrestes
ondas queriam ser
mapas e colheres.

O mar é sujo
porque os judeus
não venderam a ele
a poção do talmud,
e os negros sambavam
felicidades oportunas
e os concretos homossexuais
bailavam com lésbicas lindas.

E o mundo parecia o mar
e o mistério parecia a 
vida embalsamada de
água cinzenta e fria.

Dois lados de prédios
queriam iluminar a
vida, os seres minúsculos,
a água agitada.

Interroguei Deus e o
seu silêncio olhando do
mar ao céu  e senti o
vazio das tesouras.

Pensei em Spinosa recitando
a bíblia 
e lembrei do cu formoso
das mulheres nuas.

E estava desesperado
de sonhos e só havia
uma igreja no centro
das muralhas mudas.

Quando o desespero
bateu à porta deu
meia-noite em ponto.


E nós pulamos sete ondas.

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