terça-feira, 28 de outubro de 2025

POR QUÊ?


(pausa)


Há uma cadeira.

Vazia.

Sempre esteve.


Um homem pergunta —

não a outro homem,

mas ao ar:

“por quê?”


(pausa longa)


O ar não responde.

Nunca responde.

Mas o homem continua,

como se o silêncio fosse um convite.


(pausa)


Nada é o bastante.

Nada quer ser.

E ainda assim,

insistimos em acordar,

em comer,

em fingir que há motivo.


(pausa curta)


A vida —

essa palavra enorme,

cheia de letras que não significam nada.


(pausa)


O amor?

Um erro com perfume.

A fé?

Uma cortina fechada num quarto vazio.


(pausa longa)


E ainda perguntamos.

Como tolos diante do abismo,

esperando que o abismo tenha piedade

ou voz.


(pausa)


Mas o abismo só pisca.

E volta a dormir.



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