terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Fauno e a Menina Ruiva

Entre troncos e névoa antiga,

onde o orvalho fala em segredo,

andava um fauno de alma antiga,

de passos leves e olhar de medo.


Viu então, sob a chuva fina,

uma menina — chama e luar,

cabelos como folhas de outono,

olhos que sabiam sonhar.


“Levarei comigo esta chama”,

pensou o fauno, tímido e só.

“Será minha luz, minha alma,

meu consolo, meu pólen, meu pó.”


Mas quando a menina chorou,

as lágrimas feriram o chão;

o fauno sentiu — como ferida —

um eco em seu próprio coração.


“Não posso, pequena, não devo”,

disse ele, pondo-a de pé.

“Volta aos teus irmãos e tua casa,

onde o amor te espera em fé.”


E a menina, pura e calma,

sorriu-lhe como o sol nascente.

“Vem, bom fauno, entra comigo,

toma chá, sê meu par, sê contente.”


E na lareira o fogo dançava,

como os deuses da mata em prece;

o fauno riu, e seus pés fendidos

pisaram o chão com leveza e prece.


A flauta soou, doce e clara,

entre os ecos do bosque em flor;

e os deuses antigos, invisíveis,

bendiziam o fauno e seu amor.






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