Entre troncos e névoa antiga,
onde o orvalho fala em segredo,
andava um fauno de alma antiga,
de passos leves e olhar de medo.
Viu então, sob a chuva fina,
uma menina — chama e luar,
cabelos como folhas de outono,
olhos que sabiam sonhar.
“Levarei comigo esta chama”,
pensou o fauno, tímido e só.
“Será minha luz, minha alma,
meu consolo, meu pólen, meu pó.”
Mas quando a menina chorou,
as lágrimas feriram o chão;
o fauno sentiu — como ferida —
um eco em seu próprio coração.
“Não posso, pequena, não devo”,
disse ele, pondo-a de pé.
“Volta aos teus irmãos e tua casa,
onde o amor te espera em fé.”
E a menina, pura e calma,
sorriu-lhe como o sol nascente.
“Vem, bom fauno, entra comigo,
toma chá, sê meu par, sê contente.”
E na lareira o fogo dançava,
como os deuses da mata em prece;
o fauno riu, e seus pés fendidos
pisaram o chão com leveza e prece.
A flauta soou, doce e clara,
entre os ecos do bosque em flor;
e os deuses antigos, invisíveis,
bendiziam o fauno e seu amor.

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